A palavra grega para “marcas” é stigmata, donde surge a nossa palavra estigma. Os homens da idade média acreditavam que essas marcas eram cicatrizes das mãos, dos pés e do lado de Jesus, e através de uma profunda identificação de Paulo com Cristo elas haviam aparecido no corpo do apóstolo. Entretanto, é muito pouco provável que as marcas de Jesus que Paulo levava fossem desse tipo.
No grego secular essa palavra relaciona-se com o verbo stizo, “ferrar”, “marcar com um instrumento pontiagudo”, e, quando se aplica a carne de homens e animais , “ferretear”, “tatuar”. Usava-se para a marcação de um escravo ou um criminoso. Creio com isso que Paulo não estava querendo dizer que tinha o seu corpo tatuado com um símbolo cristão, como a cruz, ou o nome de Jesus. Em 2 Coríntios 11.23-25 Paulo conta-nos dos sofrimentos enfrentados: açoites, apedrejamento, naufrágios, prisões, etc. Os ferimentos que seus perseguidores lhe infligiram e as cicatrizes que ficaram estas eram as marcas de Jesus. É possível que, neste texto, ele estivesse afirmando que a perseguição e não a circuncisão era a autêntica tatuagem cristã. O Rev. J. Stott declara que “como judeu, ele tinha em seu corpo a marca que os judaizantes enfatizavam; mas também tinha outras marcas, provando que pertencia a Jesus Cristo, não ao povo Judeu. Ele não havia evitado a perseguição por causa da cruz de Cristo. Pelo contrário, carregava em seu corpo ferimentos que o marcavam como verdadeiro escravo, um devoto fiel de Jesus Cristo”. Deste modo, o apóstolo está pensando metaforicamente no distintivo de Jesus sobre ele, o escravo do Senhor. Aos filipenses (3.3) escreveu: “Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos
Temos nós hoje, em nosso corpo, as marcas de Cristo? Quais os sinais que evidenciam o senhorio de Jesus em nossas vidas? É claro que não falo de cicatrizes que possa haver em nossos corpos, pois, pela misericórdia de Deus, não enfrentamos perseguições. Contudo, falo de evidências em nosso viver diário que autenticam o nosso cristianismo; que comprovem que, verdadeiramente, somos de Cristo, somos filhos de Deus. Creio que algumas marcas são comuns a todos os cristãos.
A primeira delas é A MARCA DA CONVERSÃO. Li em uma revista cristã, intitulada Fé para Hoje, um tópico intitulado “Regeneração e Conversão”. Neste pequeno extrato de teologia o autor declara: “As Escrituras nos ensinam não somente que a regeneração é essencial em todo conversão, mas também que toda regeneração é invariavelmente acompanhada pela conversão responsável e inteligente da alma (...) a regeneração é uma obra divina, uma obra que transforma o coração do homem, por meio da soberana vontade de Deus; enquanto a conversão é a atitude de uma pessoa em voltar-se para Deus, tendo uma nova inclinação outorgada ao seu coração”.
A conversão é o lado humano da mudança espiritual que se opera no homem, a qual, vista do lado divino, nós chamamos de regeneração. Nela há dois elementos. O primeiro deles é negativo e é chamado de arrependimento, constituído de tristeza que sente o pecador pelo seu estado de miséria e da resolução de abandonar o pecado. O segundo é positivo, chamado de fé, que é a resolução do pecador de voltar-se para Cristo. Portanto a conversão envolve fé e arrependimento. Certo estudioso afirmou que “a conversão é tanto um evento como um processo. Significa a atuação do Espírito Santo sobre nós, por meio do qual somos movidos a responder a Jesus mediante a fé. Inclui também a obra contínua do Espírito Santo dentro de nós, purificando-nos e remoldando-nos à imagem de Cristo”. A prova de que a nova vida realmente começou precisa ser buscada na conduta diária da pessoa. Paulo exorta-nos “Desenvolvei a vossa salvação”. Temos nós apresentado em nosso viver a marca da conversão? Há evidências claras da graça de Deus operada em nós?
Outra marca que é comum a todos os cristãos é A MARCA DO SOFRIMENTO. O Rev. John MacArthur declarou que “a dor e o sofrimento são resultantes da hostilidade do mundo aos crentes e assim, seriam algo normal; alguma coisa que os crentes devem esperar acontecer em suas vidas”. Ainda que não gostemos de admitir, é algo que deve ser dito: o sofrimento faz parte da própria natureza da nossa vida com Cristo aqui neste mundo.. O Senhor mesmo declarou isto: “No mundo tereis aflições”; e referiu-se ao discipulado como “lançar mão no arado”, “tomar a cruz”, “negar a si mesmo”. Não devemos nos desanimar se nosso cristianismo não é popular e se poucos concordam conosco. “Estreita é a porta, e apertado o caminho e são poucos os que acertam por ela” (Mateus 7.14). Paulo enfrentou grandes tribulações, como já mencionamos, e ele comissionou Timóteo aos crentes de Tessalônica dizendo: “... a fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto”.
A Bíblia afirma que estamos crucificados com Cristo, o que nos identifica com o seu sofrimento e sua morte, ou como diz o apóstolo Pedro somos co-participantes dos sofrimentos de Cristo. Contudo, do mesmo modo que com Ele sofremos, também com Ele seremos consolados. “Se com Ele (Cristo) sofremos, também com Ele seremos glorificados” (Romanos 8.17). Paulo nos lembra que estas aflições sãos leves e temporárias em comparação com a glória eterna vindoura. Houve um missionário que resolveu colocar sua vida no altar de Deus. Trabalhou entre os índios da América do Norte. Seu nome: David Brainard. Ele calculou o preço de seguir a Cristo e deliberadamente fez uma escolha significava separar-se do mundo civilizado, com suas vantagens, e associar-se à dureza, ao trabalho e, possivelmente, a uma morte prematura. Morreu aos 29 anos devido a sua fragilidade física e aos rigores do campo missionário, ele contraiu tuberculose. Certo biógrafo escreveu: “Ele foi como uma vela que na medida em que se consumia, transmitia luz àqueles que estavam em trevas” (Testemunho extraído da Revista Fé para Hoje).
Uma terceira marca a destacar é A MARCA DO SERVIÇO. Marcos, o evangelista apresenta-nos Jesus como exemplo de servo. O próprio Mestre afirmou que não veio para ser servido, mas para servir. Toda existência foi gasta em prol do próximo. Suas palavras de graça, seu ensino com autoridade, seus milagres, tudo foi evidência que Ele havia vindo ao mundo para servir. Neste aspecto revolucionou o mundo grego, pois “a entrega voluntária de si mesmo ao serviço de seu próximo é estranha ao pensamento grego. O alvo mais sublime do homem era o desenvolvimento de sua própria personalidade”. Jesus traz a novidade de uma vida de serviço e exorta a sua igreja a seguir seu exemplo.
Paulo nos lembra que outrora fomos escravos do pecado, mas que pela misericórdia de Deus, Jesus Cristo nos libertou desta escravidão e nos fez escravos de Deus. Para o apóstolo o homem sempre será escravo; ou do pecado, que traz vergonha e morte, ou de Deus, que resulta em santificação e vida eterna. Ele mesmo se viu como servo de Deus e se considerava um ministro. Ele é ministro de Deus, de Cristo, do Evangelho e da Igreja. A palavra ministro traduz a palavra grega diakonos que quer dizer servo. Então, quando se referia a si mesmo como ministro não estava atribuindo um título de honra, mas colocava-se como servo de Deus, de Cristo, do Evangelho e da Igreja.
A Bíblia nos exorta: “esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens”. J. C. Ryle declarou: “Esforcemo-nos por deixar o mundo melhor, mais santo, mais feliz do que era quando nascemos. Uma vida dessa maneira verdadeiramente se assemelha à de Cristo”.Por certo poderíamos enumerar outras marcas, mas creio que estas já nos são suficientes. Que as marcas da conversão, do sofrimento e do serviço estejam presentes em nosso viver.
sexta-feira, janeiro 18, 2008
AS MARCAS DE JESUS - Gálatas 6.17
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