Um
dos maiores pecados que alguém possa cometer é o de não se achar pecador ou o
maior pecador é o que se acha sem pecado. Não sem muita insistência Jesus é
convidado para um jantar na casa de Simão. Há no Novo Testamento 11 pessoas com
o nome de Simão. Esse era um nome comum na Palestina. E na casa deste Simão,
Jesus foi ungido por uma, na avaliação do hospedeiro, pecadora. Segundo o Novo
Testamento, em pelo menos 4 ocasiões Jesus foi ungido. E coincidentemente em
duas delas nas casas de dois Simões. Três vezes nas unções Jesus foi criticado.
Na casa de Lázaro, irmão de Maria, por Judas; na casa de Simão, o leproso,
pelos discípulos; e nesta casa pelo anfitrião. Em cada lugar uma mulher tomou a
iniciativa deste gesto nobre e devotado. Estas unções não eram sacramentais,
mas demonstração de amizade e carinho. Nesta história a mulher roubou a cena de modo muito constrangedor. Era tida por
uma pessoa extremamente ‘non grata’, inconveniente. Simão não a esperava na
festa, ele nunca imaginaria que seu jantar fosse obscurecido por uma presença
tão desconsiderável. Ele deveria ser um colecionador de celebridades! Mas, se a
presença dela já era inconveniente, piores eram seus gestos. A mulher se
aproximara do Rabi. E isto nenhuma mulher poderia fazer. A lei proibia
terminantemente que um Mestre fosse tocado por mulher em lugares públicos.
Contudo, se era escandaloso, ainda para piorar, ela soltou seus cabelos. Os
fariseus da época de Jesus achavam verdadeiro absurdo uma mulher soltar seus
cabelos em ambientes abertos. Conduta altamente condenável. Piorando ainda
mais, ela tira um recipiente de perfume e vai oferecer a uma pessoa notável.
Segundo a lei dos fariseus isto era inconcebível, pois de uma pessoa indigna
nada se devia receber - e acrescenta-se a esta terrível lista de desacertos o
fato ruim de que esta mulher tinha péssima fama. O
fariseu se dizia amigo de Jesus, admirador do Mestre, contudo agora o Mestre se
coloca numa posição em que o fariseu o julga. Ele pensa consigo mesmo – se este
fosse de fato profeta, não permitiria esta indigna agir assim com ele. A Bíblia
diz contudo, que Jesus conhece os nossos pensamentos, e a palavra nem saiu
ainda em nossa boca e o Senhor a conhece toda. Natanael ficou maravilhado por
que Jesus lhe revelou que o havia visto orar num local onde ninguém o estivesse
vendo. A mulher samaritana ficou maravilhada por que Jesus contou a história de
sua vida, sem ao menos tê-la encontrado antes. Zaqueu, diríamos, quase caiu da
arvore quando ouviu Jesus pronunciar seu nome. Jesus sabe todas as coisas. Então
com maestria admirável Jesus abre os olhos de Simão com uma pequena e preciosa
parábola. A parábola dos dois devedores. Nela o Senhor mostra quão terrível e o
coração do homem, quão cego é o pecador que se acha bom - quão abominável é o
que vive julgando o seu irmão ou seu próximo. Quão insensível, duro, ruim e um
coração que ainda não foi amaciado pela gloriosa graça do perdão. Uma pessoa dura, sem misericórdia, não perdoada, é uma pessoa perdida, sem
Deus, sem graça, sem alegria verdadeira. Este texto fala das marcas de uma
pessoa não perdoada. A
primeira marca de uma pessoa não perdoada é a presença constante e contínua de
um espírito azedo, crítico e julgador. Jesus nos ordenou o
bom senso, a capacidade crítica, contudo quando agimos de modo preconceituoso e
injusto, sem amor, corremos o risco deste fariseu: julgar de modo indevido e
condenável. Uma pessoa não perdoada vê o mundo com os óculos da culpa. Todo
mundo para ela é mau, não presta, só tem defeito. Em todos só existem falhas.
Tudo está errado e deve ser condenado. Quando alguém está continuamente
julgando seu próximo, diminuindo-o, procurando nele alguma falha ou defeito, ai
está geralmente uma pessoa que não viu a maravilhosa graça de Jesus. Uma pessoa
assim é preconceituosa, não ri nem chora. Como disse Jesus acerca de sua
geração, que quando se tocava flauta ninguém dançava e quando se lamentava
ninguém chorava. Se em seu
coração você se acha em constante guerra com seu próximo, se há nele uma sede
de encontrar defeitos mil, vê se algum dia você recebeu mesmo do Calvário a
graça daquele que perdoou e que oferece aos que não merecem o seu favor
inefável: o perdão. Na parábola de Jesus há dois devedores e assim se conclui
que todos estamos em débito com a divindade e nossa dívida insolvente: nossa
dívida frequentemente é muito grande e não temos como liquidá-la! Mas o Credor
Compassivo, Bom perdoa gratuitamente, entregando-se pelo valor que paga a graça
que oferece e nos recebe em amor somente! Mas
uma
segunda marca de uma pessoa não perdoada é que lhe falta misericórdia.Se o não perdoado vive julgando, o que vive assim revela ainda falta de
misericórdia. Em outras palavras, julgar seria o pecado de comissão daquele que
não foi perdoado; e não perdoar o seu pecado de omissão. Omite o perdão o que
não foi perdoado. E nisto mostra falta de misericórdia. Perdoar é uma operação da conta
corrente: só sai do caixa o que ali entrou. É como na contabilidade onde tudo o
que entra no caixa é tido como débito e tudo que sai como crédito! Assim é
também com o perdão – quanto mais perdão se recebe mais débito temos para pagar
com o perdão que recebemos. Jesus sempre comparou o perdão com o ato de perdoar
a credores e devedores. Até mesmo na oração modelo ele pode dizer: perdoa as
nossas dívidas assim como nós temos perdoado os que nos devem. Se no seu coração existem mágoas, rancores, ou vontade de vingança – faça uma
introspecção, isto é sintoma de caixa corrente espiritual vazia, sem débito! A
caixa cheia esbanjará perdão. Quem foi perdoado perdoará. Deste modo, agiu o
fariseu com a mulher pecadora. No seu coração duro e insensível não se achava
lugar para ela. Estava sua alma seca. A chuva abundante da graça perdoadora não
tinha molhado aquele coração desértico e petrificado. Não teve para com Jesus
nenhum carinho, e não se movia o coração senão na medida das obrigações. Porque
onde falta o perdão não se vê misericórdia.Mas,
uma
terceira marca de uma pessoa não perdoada é a ausência de gratidão.Na parábola onde Jesus retrata seus convivas deste jantar na casa de Simão,
Jesus comparou a mulher ao devedor de 500 denários. Recebeu perdão de uma
quantia astronômica, e como tanto que recebeu, seu amor se multiplicou. Pode se
ver na Igreja o quanto alguém foi perdoado pelo tanto que se oferece ao Senhor!
Não é para se admirar que entre nós, mais se faz pela obrigação que pela gratidão.
Na obrigação se faz pela lei, com medidas e pagamentos. Na gratidão se faz pelo
amor, sem reservas e sem medidas. Quem muito foi perdoado não terá medida no
que oferece a Jesus. Para o coração ingrato pesa uma tonelada um pequeno
esforço, para um coração perdoado e agradecido, nem toda vida oferecida teria
qualquer valor! Quando falta gratidão no viver é necessário fazer uma
introspectiva: é possível que a alma não contemplou toda graça do Calvário, não
contemplou o imenso amor de Deus. Agradecer o que? Pouco perdão, pouco amor,
nenhum gozo na alma, nenhuma festa na vida. O fariseu não fez nem a obrigação
de um cordial anfitrião. Beijo não deu em Jesus quando chegou. Seus pés água
não viram. Unção de sua cabeça nem cogitou. Contudo a quem muito perdão recebera,
embora pecadora, fez dos atos uma canção, fez do silêncio uma orquestra. Dos
olhos impuros pela cobiça saem um caudal de lágrimas purificadas no
arrependimento sincero; dos cabelos ornados para sedução, na gratidão se fazem
toalhas de um nobre serviço; dos lábios de beijos lascivos , desatam ósculos de
um amor santo; do unguento usado para exercer cheiro de morte, exala o perfume
de incenso para o céu! Que glória é a gratidão de um coração perdoado. Nas
marcas de um coração não perdoado se constata:Constante julgamento, ausência de misericórdia, falta de gratidão. Voce já foi
perdoado? Já venceu a terrível inclinação natural de viver julgando os outros? Tem
misericórdia dos que erram oferecendo-lhes o perdão? Tem uma vida de
consagração e serviço agradecida? Como voce pode ser perdoado? Jesus disse na
parábola que o Criador perdoou por sua compaixão e fez isto gratuitamente. Deus
nos perdoou em Cristo: “Perdoai-vos uns aos outros como Deus em Cristo vos
perdoou”. Recebemos o perdão pela fé. O anuncio das boas novas é ouvido e crido
e por graça se recebe o crédito que no nosso coração vira débito para que dele
saiam em conta imensa a graça do perdão que oi recebido. Jesus disse a
pecadora: “vai a tua fé te salvou”. A fé foi o instrumento que ela teve para
receber o maravilhoso credito que Jesus lhe oferecia. É pela fé que somos
perdoados e pela fé que também perdoamos. Perdoar não é algo ligado apenas aos
nossos sentimentos. Não é um esquecer da ofensa que foi recebida mas um ardente
desejo de fazer o bem a quem mal nos perpetrou, tal como o céu se faz à terra.Quando isto acontece temos paz com Deus e com o próximo – lá se vai o
julgamento! Se a misericórdia nos alcançou é com misericórdia que tratamos nossos
ofensores. Tiago 2.13: Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de
misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo. Se o perdão foi recebido, a
gratidão nasce florescente e tudo fazemos por Jesus e seu reino!
Rev. Cleomins Anacleto - Pastor da IP Metropolitana de Belo Horizonte