terça-feira, outubro 24, 2017

SOLA FIDE - O ENSINO DE LUTERO SOBRE A JUSTIFICAÇÃO

             
O Rev. Dr. D. Martin Lloyd-Jones afirmou: "Para épocas especiais são necessários homens especiais; e Deus sempre produz tais homens”. São poucos os homens que têm sido um instrumento na mudança do curso da história. Martinho Lutero foi um deles. A igreja medieval havia perdido de vista a mensagem paulina da justificação pela fé. No decurso da Idade Média a igreja afastou-se o cristianismo bíblico, estabelecendo doutrinas e preceitos de homens e, desta forma, produziu estancamento intelectual e espiritual. Ainda que, de tempos em tempos, se levantassem homens a protestar contra as trevas que se espalhavam na Europa Ocidental, não foram, porém, capazes de sobrepor-se ao sistema.  
Lutero foi descrito como “o primeiro pregador claro da justiça pela fé enviado à igreja cristã desde os dias do apóstolo Paulo” (J. Koslin). Ele foi o homem que sobrepôs o sistema. Sua mensagem de justificação pela fé invadiu a consciência do homem ocidental com uma força eu alterou a história do cristianismo. Ele empreendeu uma batalha espiritual em três frentes: (1) contra o humanismo de Erasmo de Roterdã, (2) contra os evangélicos que queriam ir além da doutrina da justificação pela fé fazendo do Espírito Santo o ponto central da sua fé, (3) e contra o catolicismo romano, com a instituição do papado e suas crenças anticristãs.
        Lutero foi um devoto monge agostiniano, o qual descobriu que nenhuma quantidade de ascetismo ou graça interna o capacitava a levantar-se diante de Deus com uma consciência tranquila. A mensagem paulina na carata aos Romanos o fez ver que a justificação do pecador procede de Deus. Paulo declara que “Deus é quem justifica” (Rom 8.33) e a compreensão desta verdade fez Lutero declarar que “Deus faz tudo para justificar-nos”. Lutero percebeu com clareza a ação da Trindade na aceitação o pecador para com Deus. Há três aspectos na declaração da justiça para o pecador: é por graça, por Cristo Jesus e por fé.
             Conquanto nossa justificação e reconciliação com Deus já fossem obtidas e asseguradas mediante a morte de Cristo, isto não significa eu todos se salvarão. Lutero declarou: “Portanto, conquanto a obra mesma da redenção já haja sido terminada, não pode ajudar nem beneficiar a um homem a meos que creia nela e experimente seu poder salvador no coração”. Paulo, o apóstolo, nos diz: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”.  O entendimento que Lutero teve da fé se baseia em dois princípios importantes:
1. A FÉ NÃO É MÁGICA. Não há virtude salvadora na fé. Deus não nos justifica porque tenhamos fé ou devido a nossa fé. Isso contradiria o Evangelho de ser justificado pela graça. Negaria, ademais, a justificação somente por Cristo. A fé não faz com que apareça a graça, mas torna consciente de algo que já está em existência. É como abrir os olhos para ver o sol. O sol já estava ali, e abrir os olhos não tem nada a ver com o fazê-lo brilhar. A fé é aceitar nossa aceitação em Jesus.
2. A FÉ NÃO É UM ATRIBUTO DO CORAÇÃO NATURAL.   Não pode ser gerada por si só. A obra do Espírito Santo é a de dar fé ao coração humano. Lutero disse:
 “Porque nem você nem eu poderíamos jamais saber coisa alguma de Cristo, nem crer nele nem tê-lo como nosso Senhor se a salvação não nos fosse oferecida e posta a nossa conta como dom mediante o Espírito Santo através da pregação do Evangelho. A obra da salvação já está feita e terminada; porque Cristo adquiriu e ganhou o tesouro para nós mediante os seus sofrimentos, morte e ressurreição”.
              Portanto, a graça é Deus inclinando-se para aceitar em Jesus Cristo o inaceitável. A fé é o pecador aceitando sua aceitação em Jesus Cristo.
              Sola Fide não foi somente um meio de lançar mão da justificação de Deus. Para Lutero constituiu a base de seu entendimento cristocêntrico das grandes doutrinas da Bíblia. Foi o mistério que explicava outros mistérios. Nesta vida, o cristão nunca é absolutamente justo por obras, por amor, por experiência, por atuação ou natureza. Ainda que o crente tenha nascido de novo, tenha sido feito uma nova criação e, partir desta transformação, o Espírito Santo passe a habitar e operar nele, ele ainda retém sua natureza pecaminosa. Nenhuma obra que façamos será tão pura aos olhos de Deus a ponto de suportarmos o juízo de Deus. “A manchada contaminação humana está apegada a suas mais piedosas obras. Lutero resume isto quanto declara: Justo e pecador ao mesmo tempo. Para Lutero, toda a vida cristã consiste numa vida de arrependimento contínuo e de invocação da misericórdia divina. “Enquanto nos contemos como pecadores, Deus nos conta como justos por causa de Cristo. Se não somos pecadores a nossos olhos, não somos justos aos olhos de Deus”. A justiça que nos faz aceitável e agradável aos olhos de Deus não é uma qualidade na vida do crente, ela não se encontra em santo algum, mas é a justiça de Cristo. E o crente é justo diante de Deus somente por fé. Lutero declara:
 “A justiça cristã nã é uma justiça que se encontra dentro de nós, como sucede com uma qualidade ou virtude; isto é, algo que se encontra como parte de nós, ou algo que sintamos. É antes uma justiça estrangeira, completamente fora de nós: a saber , Cristo mesmo é nossa justiça essencial e completa satisfação”.
              Lutero afirmando que é impossível ao crente viver uma vida justa e virtuosa mediante o receber do Espírito de Deus. Simplesmente ensina-nos que as boas obras do crente, isto é, a nossa santificação, não faz parte da justiça mediante a qual apresentamo-nos justificados diante de Deus. Somente em cristo há uma justiça que satisfaz completamente a lei divina. Quando o apóstolo Paulo fala da justiça pela fé, não está falando duma qualidade infundida no homem, mas de uma qualidade que reside e permanece com a Pessoa de Cristo e é possuída somente pela fé.
              O mundo atual, moderno precisa ouvir esta mensagem. Novamente nos deparamos com três grandes inimigos: o humanismo, o pentecostalismo e o romanismo. Necessitamos dum reavivamento do espírito do grande reformador. Lutero foi um homem cuja consciência foi regida pela Palavra de Deus. Foi suficientemente valente para romper com mil anos de tradição estabelecida. O sola fide de Lutero é um não! Total as aspirações do humanismo, do pentecostalismo e do romanismo. O humanismo dirige o homem a encontrar satisfação nos recursos humanos. O pentecostalismo tenta encontrar a satisfação na experiência extática duma vida “cheia do Espírito”. O romanismo tenta encontrar a satisfação numa infusão mística de justiça. As a mensagem de Lutero declara que nossa satisfação não está sobre a terra, mas somente no céu, nunca no homem, mas somente em Cristo. É nossa somente pela fé.

* Adaptado da Revista "Pregoeiro da Justiça".

sexta-feira, outubro 13, 2017

ENQUANTO É DIA

     
O livro de Atos dos Apóstolos é um livro histórico, o qual relata-nos o desenvolver do cristianismo ao longo do primeiro século da era cristã. Leroy Aims em seu livro “A Arte Perdida de Fazer Discípulos” lembra-nos que “Deus usa as pessoas. Homens e mulheres escolhidos por Deus são os meios que Ele usa para a proclamação das boas novas... Deus não usa anjos como testemunhas do evangelho, e sim pessoas. Imagine o que Deus poderia ter feito para que as boas novas de Jesus chegassem a este mundo perturbado. Ele poderia fazer com que as estrelas no céu ficassem de tal forma que o texto de João 3.16 seria escrito em todas as línguas e visto por todos. Poderia colocar em órbita um anjo com um megafone, proclamando a mensagem de Cristo em todos os idiomas. Mas escolheu pessoas”. Ele está correto em sua declaração e o livro de Atos confirma isto, pois ali vemos Jesus continuando Seu ministério através de homens, que foram vocacionados, transformados e capacitados para realizar a obra de evangelização. Que tarefa grandiosa deveriam empreender os apóstolos e toda a igreja de Jerusalém! Como uns poucos homens simples e, em sua maioria, pescadores, poderiam realizar tal empreendimento, de levar ao mundo inteiro a salvação em Cristo Jesus? Aqueles poucos homens simples o fizeram e transtornaram o mundo com a mensagem de Jesus, pois Ele os revestiu com poder ao derramar sobre eles o Seu Espírito (Atos 1.8). A presença do Espírito Santo na vida daqueles homens os capacitou, fazendo-os lembrar dos ensinos de Jesus e dando-lhes ousadia e coragem para com toda a intrepidez proclamassem o Evangelho de Cristo.
Jesus nos deu uma grande responsabilidade: a de pregar as boas novas em todo o mundo. A igreja do século XXI precisa continuar comprometida com a proclamação do Evangelho assim como a igreja do primeiro século. Na igreja primitiva havia um ardor pela evangelização. E este desejo intenso deve existir na igreja hoje. A evangelização é a vocação de todos os cristãos; todos são chamados a testemunhar. O triunfo da igreja primitiva estava no fato de que cada crente era uma testemunha obediente de Jesus: Entrementes, os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra (Atos 8.4).
Os dias são maus, vivemos em tempos selvagens como afirmou o apóstolo Paulo. Imoralidade, corrupção, torpeza e toda sorte de impureza permeia a nossa sociedade. Há um mundo corrompido carente da mensagem de salvação. E Jesus ainda fala a igreja atual: Ide e pregai o Evangelho a toda criatura. Deus nos chama para ser igreja, sal da terra e luz do mundo. Capacita-nos com Sua Palavra e com Seu Espírito Santo, dando-nos a mensagem e poder. Lembre-se das palavras de Jesus: Enquanto é dia, é necessário que realizemos as obras daquele que me enviou; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar (João 9.4). 

sábado, outubro 07, 2017

DIANTE DA MORTE

A cada dia deparamo-nos com fatos e histórias que nos chocam e nos fazem refletir. Stephen Paddock, um homem de 64 anos que não tem passagens pelas forças armadas ou antecedentes criminais, abriu fogo na plateia de um festival de música na cidade de Las Vegas nos EUA. Em seguida ele se suicidou. Ao menos 515 pessoas foram levadas a hospitais da cidade após o ataque e 59 pessoas morreram. Um brasileiro que estava de férias declarou: “Só escapei porque não consegui ingresso”. Para este jovem a morte esteve bem próxima e, neste momento, a vida para ele se revelou bela e valiosa! Quem de nós já não enfrentou o perigo da morte ao menos uma vez na vida? De certo modo ela está sempre diante de nós. As vezes ela se aproxima de uma forma mais clara e quase podemos tocá-la. Uma enfermidade que se agrava, um acidente do qual escapamos por pouco e outros fatos que experimentamos em nossa vida e que apontam para a fragilidade da existência humana e nos faz lembrar da realidade da morte. Não é preciso chegar perto da morte para descobrir que a vida é boa. Basta pensar que a morte é certa.
A Bíblia nos ensina: Que é a  vossa vida? sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa (Tiago 4.14). O irmão de Jesus fala-nos da fragilidade da existência humana comparando-a com um vapor. Moisés também fala-nos disto comparando a vida com uma planta que de manhã floresce e a tarde seca e murcha. A nossa existência é transitória, efêmera. Assim, precisamos encontrar o sentido para qual existimos ou a nossa vida não terá o brilho e vigor que uma vida humana deve ter. A vida faz sentido para quem encontra o sentido da vida. Paulo, o apóstolo, estando preso, impedido de viver como queria, e, em outras ocasiões enfrentando necessidades e privações, ainda assim conseguia transmitir uma qualidade de vida capaz de consolar de dentro da prisão aos que estavam livres. Tudo porque tinha um objetivo claro, definido: viver para realizar a vontade de Deus em sua vida e para testemunhar do Evangelho da graça de Deus. Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro, escreveu ele. Sua vida era de Cristo e para Cristo.
Jesus declarou: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. A vida é Cristo e aqueles que não O receberam não têm a vida. Só vive quem já se encontrou com Cristo e passou da morte para a vida.  Só encontrou um motivo de existir aquele que tomou uma decisão de estar com e em Cristo. Não sabemos quando a morte nos virá, mas é certo, ela virá.  Diante da realidade da morte, é tempo de decidirmos pela vida. É momento de decidirmos por Cristo, pois Ele promete: Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá.