Lutero foi descrito como “o primeiro pregador claro da justiça pela
fé enviado à igreja cristã desde os dias do apóstolo Paulo” (J. Koslin). Ele
foi o homem que sobrepôs o sistema. Sua mensagem de justificação pela fé
invadiu a consciência do homem ocidental com uma força eu alterou a história do
cristianismo. Ele empreendeu uma batalha espiritual em três frentes: (1) contra
o humanismo de Erasmo de Roterdã, (2) contra os evangélicos que queriam ir além
da doutrina da justificação pela fé fazendo do Espírito Santo o ponto central
da sua fé, (3) e contra o catolicismo romano, com a instituição do papado e
suas crenças anticristãs.
Lutero foi um devoto monge
agostiniano, o qual descobriu que nenhuma quantidade de ascetismo ou graça
interna o capacitava a levantar-se diante de Deus com uma consciência
tranquila. A mensagem paulina na carata aos Romanos o fez ver que a
justificação do pecador procede de Deus. Paulo declara que “Deus é quem justifica” (Rom 8.33) e a compreensão desta verdade
fez Lutero declarar que “Deus faz tudo
para justificar-nos”. Lutero
percebeu com clareza a ação da Trindade na aceitação o pecador para com Deus.
Há três aspectos na declaração da justiça para o pecador: é por graça, por
Cristo Jesus e por fé.
Conquanto nossa justificação e
reconciliação com Deus já fossem obtidas e asseguradas mediante a morte de
Cristo, isto não significa eu todos se salvarão. Lutero declarou: “Portanto, conquanto a obra mesma da
redenção já haja sido terminada, não pode ajudar nem beneficiar a um homem a
meos que creia nela e experimente seu poder salvador no coração”. Paulo, o
apóstolo, nos diz: “Concluímos, pois, que
o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”. O entendimento que Lutero teve da fé se
baseia em dois princípios importantes:
1.
A FÉ NÃO É MÁGICA. Não há virtude salvadora na fé.
Deus não nos justifica porque tenhamos fé ou devido a nossa fé. Isso
contradiria o Evangelho de ser justificado pela graça. Negaria, ademais, a
justificação somente por Cristo. A fé não faz com que apareça a graça, mas
torna consciente de algo que já está em existência. É como abrir os olhos para
ver o sol. O sol já estava ali, e abrir os olhos não tem nada a ver com o
fazê-lo brilhar. A fé é aceitar nossa aceitação em Jesus.
2.
A FÉ NÃO É UM ATRIBUTO DO CORAÇÃO NATURAL. Não
pode ser gerada por si só. A obra do Espírito Santo é a de dar fé ao coração
humano. Lutero disse:
“Porque
nem você nem eu poderíamos jamais saber coisa alguma de Cristo, nem crer nele
nem tê-lo como nosso Senhor se a salvação não nos fosse oferecida e posta a
nossa conta como dom mediante o Espírito Santo através da pregação do
Evangelho. A obra da salvação já está feita e terminada; porque Cristo adquiriu
e ganhou o tesouro para nós mediante os seus sofrimentos, morte e ressurreição”.
Portanto, a graça é Deus
inclinando-se para aceitar em Jesus Cristo o inaceitável. A fé é o pecador
aceitando sua aceitação em Jesus Cristo.
Sola Fide não
foi somente um meio de lançar mão da justificação de Deus. Para Lutero
constituiu a base de seu entendimento cristocêntrico das grandes doutrinas da
Bíblia. Foi o mistério que explicava outros mistérios. Nesta vida, o cristão nunca é
absolutamente justo por obras, por amor, por experiência, por atuação ou
natureza. Ainda que o crente tenha nascido de novo, tenha sido feito uma nova
criação e, partir desta transformação, o Espírito Santo passe a habitar e
operar nele, ele ainda retém sua natureza pecaminosa. Nenhuma obra que façamos
será tão pura aos olhos de Deus a ponto de suportarmos o juízo de Deus. “A
manchada contaminação humana está apegada a suas mais piedosas obras. Lutero
resume isto quanto declara: Justo e pecador ao mesmo tempo. Para Lutero, toda a
vida cristã consiste numa vida de arrependimento contínuo e de invocação da
misericórdia divina. “Enquanto nos contemos como pecadores, Deus
nos conta como justos por causa de Cristo. Se não somos pecadores a nossos
olhos, não somos justos aos olhos de Deus”. A justiça que nos faz
aceitável e agradável aos olhos de Deus não é uma qualidade na vida do crente,
ela não se encontra em santo algum, mas é a justiça de Cristo. E o crente é
justo diante de Deus somente por fé. Lutero declara:
“A
justiça cristã nã é uma justiça que se encontra dentro de nós, como sucede com
uma qualidade ou virtude; isto é, algo que se encontra como parte de nós, ou
algo que sintamos. É antes uma justiça estrangeira, completamente fora de nós:
a saber , Cristo mesmo é nossa justiça essencial e completa satisfação”.
Lutero afirmando que é impossível
ao crente viver uma vida justa e virtuosa mediante o receber do Espírito de
Deus. Simplesmente ensina-nos que as boas obras do crente, isto é, a nossa
santificação, não faz parte da justiça mediante a qual apresentamo-nos
justificados diante de Deus. Somente em cristo há uma justiça que satisfaz
completamente a lei divina. Quando o apóstolo Paulo fala da justiça pela fé,
não está falando duma qualidade infundida no homem, mas de uma qualidade que
reside e permanece com a Pessoa de Cristo e é possuída somente pela fé.
O mundo atual,
moderno precisa ouvir esta mensagem. Novamente nos deparamos com três grandes
inimigos: o humanismo, o pentecostalismo e o romanismo. Necessitamos dum
reavivamento do espírito do grande reformador. Lutero foi um homem cuja
consciência foi regida pela Palavra de Deus. Foi suficientemente valente para
romper com mil anos de tradição estabelecida. O sola fide de Lutero é um não!
Total as aspirações do humanismo, do pentecostalismo e do romanismo. O
humanismo dirige o homem a encontrar satisfação nos recursos humanos. O
pentecostalismo tenta encontrar a satisfação na experiência extática duma vida
“cheia do Espírito”. O romanismo tenta encontrar a satisfação numa infusão
mística de justiça. As a mensagem de Lutero declara que nossa satisfação não
está sobre a terra, mas somente no céu, nunca no homem, mas somente em Cristo.
É nossa somente pela fé.
* Adaptado da Revista "Pregoeiro da Justiça".