sexta-feira, outubro 27, 2023

ANDANDO E SERVINDO COMO JESUS

A Bíblia nos ensina que Jesus é nosso modelo. Modelo de vida e também de ministério. Somos exortados a andar como Ele andou (1 João 2.6). É sobre este segundo aspecto, como modelo
de ministério, eu quero chamar sua atenção. Realizar a obra de Deus, cumprir cabalmente com o nosso ministério não é fácil. Lidamos muitas situações. Situações que nos alegram e também com situações que nos deixam perplexos, decepcionados e, muitas vezes angustiados. Em seu ministério Jesus experimentou desses momentos de angústias também. Desde o momento que Ele se encarnou, enfrentou lutas, desafios e angústias. Vejam o versículo 27. Jesus declarou:
“Agora, está angustiada a minha alma”. Faltavam seis dias para a paixão de Cristo. Ele seria entregue à morte por causa dos nossos pecados. E no momento mais importante de seu ministério, Ele se angustiou. Nenhuma de suas provações anteriores poderiam ser comparadas com o terror da cruz. Jesus refletia sobre o que estava diante dele e se angustiou. Estava se aproximando o momento de maior sofrimento que alguém poderia suportar (ver v. 24). Não pensava somente em Si mesmo, mas nos sofrimentos que seus discípulos haveriam de enfrentar.  Dando voz a sua alma angustiada indagou: E que direi eu? Em outras palavras, O que é que eu vou fazer quando vier a aflição?  Sua resposta veio em seguida em uma pergunta retórica: Devo orar para que Deus me livre da aflição?

A maioria das pessoas tenta evitar os problemas a todo custo, e quando chegam as aflições, tentamos nos safar delas assim que possível. Isso explica por que algumas pessoas afirmam não ter problemas ou fingem que seus problemas acabaram antes mesmo de terminarem. Ninguém gosta de estar em apuros. Quando vem a provação, um de nossos primeiros instintos é pedir que Deus nos tire dos problemas. Claro que não existe nada de errado com isso, conquanto reconheçamos que Deus talvez tenha um propósito mais importante que simplesmente nos livrar das aflições. (Ryken, Philip Graham. Quando os problemas aparecem (p. 117). Editora FIEL. Edição do Kindle.)

a) Jesus pode nos ensinar a lidar com as nossas aflições – Hb 5.7 e 4.15

Isso significa que quando vamos até Jesus com os nossos problemas, não chegamos a alguém que não nos entende, mas sim, a alguém que nos entende completamente. Jesus faz muito mais que se compadecer de nós, ele tem empatia conosco. E porque ele tem profunda empatia conosco, ele pode nos mostrar — melhor do que ninguém — o que fazer quando vêm as aflições. “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.” (Hb 2.18).  Em vez de se livrar da aflição, Jesus abraçou o chamado da cruz – Jo 12.27. Em vez de recuar, como foi tentado a fazer, ele foi em frente até o Calvário e a crucificação. Isso significou que qualquer dificuldade que Jesus enfrentara até esse ponto era somente o começo. Às vezes, nossas vidas são assim também. Fazemos o que Deus nos chama a fazer e, então, em vez de ter menos problemas na vida, temos mais. Quanto mais servimos, mais temos de nos sacrificar.

b) O que motivou Jesus a cumprir o seu chamado, mesmo quando isso significava apenas sofrimento?

Jesus estava disposto a suportar a execução por crucificação, porque sua vida era para a glória maior de Deus. Ele não buscou seu próprio prazer; seu propósito principal era dar glória a seu Pai. Foi exatamente o que o Salvador fez: glorificou a Deus. E assim, de um modo terrível e maravilhoso, as suas orações foram respondidas. Por meio dos sofrimentos e da morte de seu único Filho, Deus Pai glorificou o seu nome, conforme prometera (veja o versículo 28). Jesus não se livrou dos problemas, mas os atravessou, e tudo pelo qual ele passou trouxe glória a Deus. Mesmo a cruz foi para a glória de Deus.

quarta-feira, maio 17, 2023

UM DEUS QUE FALA - HEBREUS 1.1-4

A carta aos Hebreus é cercada de mistérios. Quem foi o autor? Quem são os seus leitores? Embora não saibamos responder tais questões, alguns fatos nos são conhecidos e nos ajudam na compreensão da carta. Acerca da autoria podemos afirmar que o autor estava familiarizado com seus leitores (5.12,6.9, 13.18-19, 23-24); conhecia a Timóteo (13.23); e provavelmente era um judeu helenista (Isso é demonstrado pelo seu conhecimento do ritual levítico e a aplicação que faz dos mesmos, bem como do seu profundo conhecimento do grego). Acerca dos leitores sabemos que eram cristãos judeus, pois, como observa Lightfoot,
o curso principal do argumento da Epístola, mais do que qualquer outra coisa, mostra que seus leitores originais tinham crescido na religião de Israel, e ela fazia parte de seu ambiente e modo de vida. O objetivo do autor ao escrever esta carta era exortar seus leitores. Seus irmãos em Cristo necessitavam de encorajamento. Eles aceitaram alegremente a perda de todas as coisas por amor a Cristo, mas, agora, o primeiro entusiasmo havia desaparecido e a esperança estava se desvanecendo e, como resultado, alguns estavam deixando de congregar e outros estavam apostatando da fé.  Stuart Olyott diz: A fé dos hebreus é como um fogo que foi abafado. Ainda fumega um pouco, mas a chama apagou. O autor desta carta escreve com o propósito de reacender o fraco fogo dos hebreus. Ele os exorta a serem dignos do seu passado e argumenta que o cristianismo é melhor do que qualquer coisa que o homem tivesse conhecido antes. Eles deveriam permanecer firmes, mesmo diante das perseguições, pois o cristianismo é superior as demais religiões. O autor apresenta-nos a supremacia de Cristo. Cristo é maior do que os profetas, maior do que os anjos, maior do que Moisés, maior do que Arão (e isto envolve os capítulos 1 a 10). E, nos capítulos finais (10-13), o autor os encoraja a confiar em Deus, achegando-se a Ele, como fizeram os grandes heróis da fé e os exorta para que levantem as mãos caídas e os joelhos trôpegos, certificando-se que não deixem de obter a graça de Deus. 
Esta carta, como observa Lightfoot, tem início com a sentença mais expressiva e bem construída no Novo Testamento. Não há nenhuma saudação ou apresentação, ele vai direto ao ponto, ao tema: a pessoa e obra do Filho de Deus. Os versículos iniciais da carta apresentam os assuntos centrais que serão desenvolvidos ao longo de todo o livro. Em seu pronunciamento de abertura, o autor nos assegura três verdades.
1. DEUS FALOU.
Esta afirmação inicial é básica para todo o argumento da epístola, como também é básica para a fé cristã. Como afirma F. F. Bruce em seu comentário, se Deus tivesse permanecido em silêncio, oculto em espessa obscuridade, a situação da humanidade, por certo, seria desesperadora. Mas Deus falou, e sua palavra é reveladora, redentora, doadora de vida e, em sua luz, vemos a luz. O profeta Isaías nos fala que os caminhos e os pensamentos de Deus são maiores e mais elevados do que os nossos caminhos e pensamentos, ou seja, não conhecemos a Deus por nós mesmos, mas Ele mesmo se deu a conhecer. Portanto, nossa maior obrigação é óbvia. Não é indagar, especular, filosofar ou adivinhar, mas, sim, ouvir o que Deus revela a respeito de Si mesmo – e obedecer (S. Olyott).   
2. DEUS FALOU POR MEIO DOS PROFETAS
A revelação que Deus faz de Si mesmo é progressiva. Ele não disse tudo que tinha a dizer de uma vez. Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras. Stuart Olyott nos diz que Deus nem sempre se revelou do mesmo modo. Às vezes falou em voz audível. Certa vez, escreveu algo com o próprio dedo. Às vezes usou visões. O mais usual era que seu Espírito viesse sobre um homem de tal forma que esse humano conseguiria expressar seus pensamentos em palavras exatamente como Deus queria. Uma revelação seguiu a outra, mas todas elas foram incompletas.
Convém observar aqui que o termo “incompletas” não se referem a alguma imperfeição na revelação. A progressão da revelação vai da promessa para o cumprimento desta promessa. Os homens de fé no AT não experimentaram o cumprimento da promessa em que haviam crido, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados (Hebreus 11.40).
Deus falou aos pais, referindo-se a todos os fiéis do AT e não simplesmente aos patriarcas. E Deus falou por meio dos profetas. E este termo tem um sentido amplo e representa todo o conteúdo do Antigo testamento. O AT é a autêntica revelação de Deus, mas veio de forma esporádica, progressiva e incompleta. A importância de afirmar isto no início de sua carta, está no fato de que seus leitores estavam pensando em desistir do cristianismo e voltar ao judaísmo. Eles precisavam saber, desde o começo, que se fizessem isto, estariam voltando para uma revelação incompleta. É verdade que Deus falou no AT. Mas o AT não contém a plenitude tudo o que Deus tinha para dizer. E isto nos leva ao terceiro ponto.   
3. DEUS FALOU POR MEIO DO FILHO, O QUAL É SUPERIOR AOS PROFETAS 
O autor nos diz que nos últimos dias Deus falou novamente. Os últimos dias se referem a fase final da história, iniciada com a vinda de Cristo ao mundo até a consumação de todas as coisas. F.F. Bruce nos diz: Sua Palavra não foi completamente revelada até a vinda de Cristo, mas quando Cristo veio, a Palavra falada nEle, por certo, foi a Palavra final de Deus. Até Cristo a revelação de Deus foi progressiva, mas não há progressão depois de Cristo. A revelação de Deus em Jesus Cristo é de caráter superior porque é completa. É superior no tempo porque nenhuma revelação virá depois dela. É superior em seu destino porque foi feita a nós. É superior em seu agente porque, diferente do AT, que veio por meio de fracos profetas humanos, veio por meio do próprio Filho de Deus (S. Olyott). Observe que há tanto uma continuidade e, ao mesmo tempo, um contraste, entre o AT e o NT. Jesus não um instrumento de Deus – Ele é o próprio Deus. A Palavra final que Deus falou ao mundo vem por intermédio de seu Filho.
O autor, a partir disto, estabelece sete fatos acerca do Filho de Deus que evidenciam a Sua grandeza e expõe a razão pela qual a revelação dada em Cristo é superior. Seu propósito imediato é provar que Jesus Cristo é superior aos profetas, homens tidos na mais alta consideração pelo povo judeu.
Cristo é superior aos profetas em sua Pessoa. Em primeiro lugar, é o próprio Filho de Deus, não apenas um homem chamado por Deus. O autor deixa claro que Jesus é  Deus, pois sua descrição jamais poderia ser aplicada a um homem mortal. O “resplendor da sua glória” refere-se à glória de Deus que habitava no tabernáculo e no templo.  Cristo é para o Pai aquilo que os raios são para o Sol. É a refulgência da glória de Deus. Da mesma forma como não se pode separar os raios do Sol, também é impossível separar a glória de Cristo da natureza de Deus.
O autor também nos diz que Jesus é “A expressão exata” (Hb 1:3) dá a ideia de "cunho exato". A palavra caráter vem da palavra grega traduzida por "imagem". Literalmente, Jesus Cristo é "a representação exata da substância de Deus" (ver Cl 2:9). Somente Jesus poderia dizer com honestidade: "Quem me vê a mim vê o Pai" (Jo 14:9). Quando vemos Cristo, vemos a glória de Deus (Jo 1:14).
Cristo também é superior aos profetas em suas obras. Em primeiro lugar, Ele é o Criador do universo, pois, por meio dele, Deus “fez o universo” (Hb 1:2). Cristo não apenas criou todas as coisas pela sua Palavra (Jo 1:1-5), como também sustenta todas as coisas por meio dessa mesma Palavra poderosa (Hb 1:3). “Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste” (Colossenses 1:17). O verbo sustentar, em Hebreus 1:3, não significa "escorar", como se o universo fosse um peso nas costas de Jesus. Antes,  quer dizer: “segurar e carregar de um lugar para outro”. Ele é o Deus da criação e o Deus da providência, que guia este universo até seu destino divinamente ordenado.
Jesus também exerce um ministério de Sacerdote que revela sua grandeza. Sozinho, ele “[fez] a purificação dos pecados”(Hb 1:3). Esse aspecto de seu ministério será explicado em Hebreus 7 a 10.
Por fim, Jesus Cristo governa como Rei (Hb 1:3). Ele está assentando, pois terminou seu trabalho e se encontra “à direita da Majestade, nas alturas”, o lugar de honra. Isso prova que ele é igual a Deus o Pai, pois nenhum ser criado jamais poderia assentar-se à destra de Deus. Warren Wiersbe nos diz: Criador, Profeta, Sacerdote e Rei, Jesus Cristo é superior a todos os profetas e servos de Deus que aparecem nas páginas sagradas das Escrituras. Não é de se admirar que o Pai tenha dito no momento da transfiguração de Cristo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mateus 17:5). Nessa ocasião, Cristo estava acompanhado de dois dos maiores profetas, Moisés  e Elias, mas é superior a eles.
 
APLICAÇÃO
Não há dúvidas que esta mensagem é também uma necessidade atual. Hoje, muitos estão se esfriando na fé e deixando a comunhão cristã. Outros apostatam da fé, voltando-se para os rudimentos do mundo ou então abraçando vãs filosofias. A leitura desta carta nos faz compreender a supremacia de Cristo, a fim de que, mesmo diante das tribulações do tempo presente, estejamos Nele firmados e arraigados.