terça-feira, novembro 07, 2006

NOSSA CAPACIDADE VEM DE DEUS

“Mas acima de tudo, ele sobressaiu em oração. A profundidade e a gravidade do seu espírito, a reverência e a solenidade das suas maneiras e comportamento, ma raridade e a plenitude de suas palavras impressionaram muitas vezes até os estranhos e estes se admiraram como estas coisas traziam consolos aos outros. O quadro mais imponente, vivo e reverente que jamais senti ou contemplei, devo dizer, foi a sua oração. E verdadeiramente ele era um testemunho. Conheceu e viveu mais perto do Senhor do que qualquer outro, porque aqueles que o conhecem mais, têm maior razão para aproximar-se d’Ele com reverência e temor”.
William Penn a respeito de George Fox

As bênçãos mais doces, por uma leve perversão, podem produzir o mais amargo fruto. O sol dá vida, mas as insolações matam. Prega-se para dar vida; mas pode obter-se morte. O pregador possui as chaves tanto para fechar como para abrir. A pregação é uma grande instituição divina para a semeadura e o amadurecimento da vida espiritual. Quando convenientemente executada, seus benefícios são incalculáveis; quando erradamente realizada, nenhum mal pode superar seus resultados danificadores. É fácil destruir o rebanho, se o pastor for incauto ou o pasto for destruído; é fácil capturar a fortaleza, se as sentinelas estiverem adormecidas ou o alimento e a água forem envenenados. Investido de tais graciosas prerrogativas, exposto a tão grandes males, envolvendo tão numerosas e graves responsabilidades, seria uma caricatura da astúcia do diabo e um libelo contra o seu caráter e reputação, se este não empenhasse suas influências mestras para adulterar o pregador e a pregação. Em face de tudo isto, a exclamação de Paulo “para estas coisas quem é idôneo?” não está fora de propósito.
Paulo diz: “A nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros dum novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica” (II Cor. 3:5,6). O verdadeiro ministério é ungido por Deus, capacitado por Deus e formado por Deus. O Espírito de Deus está sobre o pregador, ungindo-o de poder, o fruto do Espírito está no seu coração. O Espírito de Deus vitaliza o homem e a palavra: sua pregação dá vida, concede vida como a primavera desperta vida: dá vida como a ressurreição dá vida; outorga vida ardente como o verão dá vida ardente; dá vida frutífera como o outono dá vida frutífera. O pregador que ministra vida, é um homem de Deus, cujo coração tem sempre sede de Deus, cuja alma está buscando a Deus constante e intensamente, cujos olhos estão postos só em Deus e em quem pelo poder do Espírito de Deus, a carne e o mundo foram crucificados e seu ministério é como uma corrente abundante de um rio que dá vida. A pregação que mata não é uma pregação espiritual. A capacidade de tal pregação não vem de Deus. Fontes inferiores e não Deus lhe deram energia e estímulo. O Espírito não se manifesta nem no pregador nem na pregação. Muitas espécies de forças podem ser projetadas e estimuladas por uma pregação que mata, mas elas não são forças espirituais. Podem assemelhar-se às forças espirituais, mas são meramente sombras e falsificações; podem parecer que têm vida, mas esta vida está magnetizada. A pregação que mata é da letra, letra rude e seca, casca nua e vazia. A letra pode ter nela o gérmen da vida, mas não tem a aragem da primavera para despertá-la; são sementes do inverno, tão duras quanto o solo hibernal, tão gélidas como o ar de inverno, e por elas não se derretem nem germinam.
A pregação da letra contém a verdade. Mas, ainda que verdade divina, sozinha não possui energia vivificante; deve ser revigorada pelo Espírito, com todas as forças divinas em seu apoio. A verdade que não for vivificada pelo Espírito de Deus,embota tanto quanto ou mais do que o erro. Pode ser verdade sem mistura; mas, sem o Espírito, o seu matiz e o seu toque são mortais; sua verdade, erro; sua luz, trevas. A pregação da letra não é ungida nem suavizada nem lustrada com óleo pelo Espírito. Pode haver lágrimas; lágrimas, porém, não podem por em movimento a maquinariia de Deus; as lágrimas podem ser apenas uma brisa de verão sobre um iceberg coberto de neve, só derrete a superfície e nada mais. Podem haver emoção e ardor, mas é a emoção de um ator e ardor de um advogado. O pregador pode sentir o entusiasmo do seu próprio brilhantismo, ser eloqüente sobre sua própria exegese, ardente para transmitir o produto de seu próprio cérebro; o professor pode usurpar o lugar e imitar o fogo de um apóstolo; cérebros e nervos podem tomar o lugar e simular a obra do Espírito de Deus, e com estas forças a letra pode irradiar luz e brilhar como um texto iluminado, mas o brilho e a centelha serão tão destituídos de vida como o campo semeado de pérolas. Um elemento mortal jaz atrás das palavras, do sermão, da ocasião, dos modos, da ação.
O maior obstáculo está no próprio pregador. Não traz em si mesmo as forças poderosas que produzem vida. Pode não haver desconto na sua ortodoxia, honestidade, pureza ou ardor; mas, de algum modo, o homem, o homem interior, no íntimo, nunca se quebrantou e sujeitou a Deus; sua vida interior não é uma grande via para a transmissão da mensagem de Deus, do poder divino. De alguna forma, é o ego e não Deus quem governa o santo dos santos. Em algum lugar sem que disso tenha consciência, algum elemento espiritual incondutível tocou no seu interior e a torrente divina foi detida. Seu interior nunca sentiu o quebrantamento espiritual completo, sua total incapacidade; nunca aprendeu a clamar com um clamor indizível de desespero de si mesmo e impotência própria, até que venha o poder de Deus e o fogo divino e a aptidão própria, de alguma forma perniciosa, profanaram e violaram o templo que devia estar consagrado a Deus.
A pregação vivificante custa muito ao pregador: morte do ego, crucificação para o mundo, iluminação da própria alma. Só a pregação crucificada pode dar vida. E a pregação crucificada só pode vir de um homem crucificado.
                                                                                                                      E.M. BOUNDS

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