quinta-feira, fevereiro 28, 2008

DISCIPLINA: A PROVA DA NOSSA FILIAÇÃO

A epístola aos hebreus é, sem dúvida nenhuma, um dos escritos neotestamentários mais obscuro quanto ao pano de fundo histórico. Contudo sua mensagem se reveste de valor inestimável, pois descreve a supremacia do cristianismo em relação a outras religiões. Para Calvino, depois da carta de Paulo aos Romanos, Hebreus a segue em importância. Portanto ainda que algumas questões não possam ser respondidas de forma satisfatória, devemos nos esforçar nas na tentativa em respondê-las, a fim de que tenhamos uma melhor compreensão do seu conteúdo.

Uma Destas questões é quanto a autoria d carta. Muitos nomes têm sido indicados: Paulo, Barnabé, Lucas, Clemente de Roma e Apolo. Origines foi o mais sábio na tentativa de identificá-lo: “O caráter de estilo da epístola aos Hebreus carece da rudeza expressiva do apóstolo (refere-se a Paulo); a epístola, idiomáticamente, é mais grega na composição de suas locuções. Aquele que está capacitado para reconhecer diferenças de estilo, poderá verificar isto. Mas, por outro lado, os pensamentos da epístola são admiráveis e de nenhuma maneira inferiores àqueles reconhecidos como escritos pelo apóstolo (...) porérm, quem foi o verdadeiro autor da carta, Deus sabe a verdade do assunto”[1]. Embora o autor nos seja desconhecido, sabemos, por outro lado, que o mesmo estava familiarizado com seus leitores (veja-se: 5.12; 6.9; 13.18,19, 23-24), conhecia Timóteo (13.23) e que pelo conhecimento do ritual judaico seria, provavelmente, judeu.

Esta epístola é dirigida a uma comunidade de crentes, onde seus leitores eram cristãos judeus. W. Manson sugere que a epístola toda estava dirigida a uma minoria de hebreus, que formavam uma seção da igreja judeu-cristã de Roma[2]. O que nos leva a datá-la no período anterior da perseguição de Roma em 64 d.C. “Moule aprecia a opinião... de que a epístola foi escrita antes de 70 A.D., quando ao rebentar a guerra judaica, uma onda de patriotismo pode ter perfeitamente varrido a palestina até cobrir toda a diáspora do judaísmo, constituindo uma grande tentação para que os cristãos judeus revertessem ao judaísmo”[3]. Portanto, o autor escreve a uma comunidade que teve que suportar uma perseguição severa por causa da fé em Jesus Cristo (10.32), alguns negligenciavam a assembléia pública (10.25) e outros apostataram de forma irrevogável (6.1-6); 10. 26-31). O autor recorda-lhes, então, o sofrimento de cristo (12.2,3) e exorta-os: “Ora na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até o sangue” (v.4). Referia-se a um combate mortal. Desta forma, estava afirmando que eles ainda não haviam sido chamados a selar o seu testemunho com o próprio sangue. Ou como nos Lightfoot, “o teste deles não tinha sido do tipo mais severo, pois até aquela ocasião nenhum deles tinha morrido como mártir pela causa de Cristo”[4]. Na verdade estava dizendo que não era tempo de ficarem desencorajados, houveram irmãos (cf. cap. 11) que haviam permanecido firmes em meio a sofrimentos muito piores. Calvino afirma “que não há razão para pedirmos do Senhor um descanso, seja qual for o serviço que tenhamos prestado; pois Cristo não licenciará a seus soldados até que tenham conquistado a mesma morte”[5]. Em vez disso deviam dar-se conta que suas lutas presentes eram um sinal do amor de Deus por eles, revelando o Seu cuidado paternal. Contudo, a submissão à correção de Deus se faz necessária para evidenciar este cuidado, conforme observa Calvino: “...o apóstolo nos demonstra que as correções dó são paternais quando obedientemente nos submetemos a Ele”[6].

Deus se tem utilizado, muitas vezes, de provas difíceis e duras como métodos de nos disciplinar e como sinal de que realmente somos filhos amados de Deus (Hb 12.5,6). “Por meio de provações e dificuldades Deus treina seus filhos no caminho que deseja que sugam, e que essas dificuldades em lugar de servirem para indicar o desagrado de Deus, são na realidade uma prova de seu amor”[7]. Isto é claramente percebido no versículo 7, do capítulo 12, pois a falta de interesse de um pai em aplicar a correção é sinal de ilegitimidade, ou seja, “se Deus não se preocupassem em discipliná-los, então não seriam seus filhos”[8]. Observamos o que o autor diz em 5.8: “Embora sendo Filho (com referência a Cristo), aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”.

Não nos esqueçamos que nosso Pai Celestial nunca irá nos impor uma disciplina que não seja para o nosso bem (Romanos 8.28). E o bem supremo que Deus tem para seus filhos é este: que eles participem de Sua santidade. “Os castigos de Deus estão destinados a subjugar e mortificar nossa carne, a fim de que sejamos renovados para uma vida celestial”[9]. Assim, a participação na santidade de Deus não pode ser interpretada literalmente, senão como meio que nos exercita na mortificação da carne. Portanto, a santidade é a meta pela qual Deus está preparando o seu povo, a qual será consumada de forma plena na manifestação final da glória de Cristo. Em nossas lutas não nos deixemos desanimar, antes, cientes de sermos filhos de Deus e que, por Ele mesmo, somos santificados, “corramos com perseverança a carreira que nos está proposta”.



[1] Citado por F.F. Bruce in La Epistola a los Hebreos, p.xxxvii.


[2] Ver F. F. Bruce, op.cit., p. xxiv, notá de rodapé no. 8.


[3] Citado por N. R. Lightfoot, Hebreus, p.37, cf nota de rodapé no. 40.


[4]Op.cit., p.283.


[5] Epistola a los Hebreos, p. 278.


[6] Op. Cit., p.279.



[7] Lightfoot, op. Cit., p.284.


[8] F.F. Bruce, op. Cit., p.360.


[9] Calvino, op. Cit. P.281.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

SEJA SÁBIO, OBEDEÇA A DEUS NO TEMPO CERTO

O sábio nos diz: "tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito para todo propósito debaixo do céu" (Eclesiaste 3.11). É fácil perder o tempo para determinada missão. Israel teve um tempo determinado para tomar posse da terra prometida; mas por causa da incredulidade, a oportunidade passou. Eles tentaram criar o seu próprio tempo, porém foram feridos e derrotados.
Assim, aprendemos que a nossa vontade tem de submeter-se ao tempo determinado por Deus. Os espias que subiram para ver a terra que o Senhor haveria de dar aos israelitas, não confiaram na promessa de Deus e seduziram todo povo a não subir (Leia Números 13,14). Como resultado dessa incredulidade aquela geração fora impedida de entrar na nova terra, morreram no deserto. Mas depois do castigo dado por Deus, sem buscar a direção e a vontade de Deus nesta nova situação, o povo se levantou pela manhã e subiu ao cume do monte dizendo: "Eis-no aqui e subiremos ao lugar que o Senhor tem prometido, porquanto havemos pecado" (Números 14.40). Moisés então os advertiu: "Por que transgredis o mandato do Senhor? Pois não prosperará (v.41). E pelo desprezo desta advertência, o povo multiplicou seus pecados contra o Senhor. Pelo uso da própria vontade, o povo se tornou rebelde contra Deus e presunçoso nas suas próprias capacidades. Porém nada prospera sem a aprovação de Deus. Deste modo o povo foi ferido e derrotado cruelmente pelos amalequitas.
Há neste episósido duas lições a aprender. Sem o devido preparo e aprovação de Deus boas intenções não tem nenhum valor e o fim é sempre desastroso. Segunda, um erro não pode corrigir outros erros. Permita Deus o Senhor que estejamos atentos ao Seu querer e prontos a obedecê-Lo, crendo em suas promessas. Lembre-se que episódios como este, são narrados para nos ensinar a n ão repetir os mesmos erros. Que sejamos sábios e cumpramos a vontade de Deus em nossas vidas, no tempo determinanado por Ele.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

AMAI-VOS UNS AOS OUTROS

“Acaso sou eu tutor do meu irmão?” Esta é a resposta dada por Caim a Deus quando interrogado acerca de seu irmão Abel. Caim se mostrou sarcástico e irresponsável diante de Deus.
O mandamento divino nos ensina que se alguém é meu irmão, então eu sou seu tutor. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, declara-nos Jesus. E isto inclui que devo cuidar dele com amor e preocupar-me com o seu bem-estar.
Creio que a primeira evidência de um cristão cheio do Espírito Santo não é uma experiência mística particular, mas o nosso relacionamento prático de amor com as outras pessoas. Falar do amor em termos abstratos e generalizados é fácil, o que nos torna hipócritas por não vivermos aquilo que cremos. O que se requer do verdadeiro cristão é um agir concreto em situações que realmente demonstramos amor. Por isso Paulo nos exorta: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura (...) levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo (Gálatas 6.1,2).
O relacionamento entre cristãos deve ser marcado pelo serviço. Se meu irmão tiver um fardo pesado, devo ajudá-lo a carregar esse fardo. Se ele cair em pecado, devo restaurá-lo, fazendo-o com mansidão. Isto é amar! O Rev. Ray Stedman declara: “Levar os fardos um do outro significa pelo menos apoiar um ao outro em oração. Significa também estra disposto a gastar tempo, tentando compreender profundamente o problema da outra pessoa e se comprometer num certo esforço de aliviar tensões ou desânimo, ou de achar algum modo de ajudar financeiramente ou com um conselho sábio”.
É através desta atitude que cumprimos a Lei de Cristo. A “lei de Cristo” é amar uns aos outros como Ele nos ama. Cristo deseja ver em nós qualidades do Seu caráter. Espera de nós ações que são de acordo com a Lei de Deus e com a mente do Espírito Santo de Deus.

O EXEMPLO DE NEEMIAS

A realização da obra de Deus é motivada por dois fatores essenciais: 1o) a convicção do chamado de Deus e, 2o), por uma necessidade específica. Este é o caso de Neemias. Em seu livro o vemos enfatizando que a reconstrução dos muros de Jerusalém era algo que Deus pusera em seu coração e esta vocação é despertada a partir das informações dadas por Hanani: Os restantes que não foram levados para o exílio se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo, os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas queimadas (1.3). Portanto, a obra empreendida por ele não foi executada por capricho ou interesse particular, mas por vocação divina e uma real necessidade.O sucesso deste empreendimento viria não pelo poder e força humanos, mas do próprio Deus que nos chama. E Neemias sabia disto: “tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, chorei, e lamentei por alguns dias; estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” (1.4). Precisamos lembrar ainda que realizar a obra de Deus implica, necessariamente, enfrentar obstáculos, encontrar oposição e dificuldades. E assim foi também com Neemias, pois inimigos se levantaram contra ele, zombando e o desprezando. Contudo, vemos Neemias com o povo lutando com uma das mãos e construindo com a outra (4.17). A convicção da presença de Deus nesta obra fez com que eles fortalecessem as mãos para a obra. Por fim, os muros foram edificados, provando que no Senhor o trabalho não é vão. Nós hoje, a semelhança de Neemias, temos uma grande obra a empreender. Não devemos nos abater com as dificuldades, mas nos envolver nesta luta com fé, oração e santificação. Lembre-se: “O Deus dos céus é quem nos dará bom êxito; nós seus servos nos disporemos e reedificaremos” (Neemias 2.20).