sábado, agosto 30, 2008

FÉ E OBEDIÊNCIA




Como cristãos reformados, cremos na infalível e inerrante Palavra de Deus. Ela é a lente pela qual devemos avaliar todo e qualquer sistema de teologia. O que realmente importa é o que a Bíblia diz. E nada é mais importante do que o que as Escrituras dizem respeito das boas novas de salvação. O Evangelho de Jesus é a base sobre a qual toda doutrina do Novo Testamento se fundamenta. Contudo, observa-se que a maior parte do evangelicalismo atual – tanto o testemunho pessoal quanto a pregação - está muito aquém de apresentar o Evangelho bíblico de modo bíblico e equilibrado. Este novo evangelho tem produzido uma geração de cristãos cujo comportamento raramente se distingue da rebeldia em que vive o não regenerado. Há uma dicotomia entre fé e obediência. No evangelismo atual não há necessidade de se abandonar o pecado, nem uma mudança de estilo de vida, nem de se assumir um compromisso – nem mesmo a disposição para se submeter ao senhorio de Cristo. Tal ensino tem sido catastrófico a igreja atual. Diferentemente, o evangelho que Cristo proclamava era um chamado ao discipulado, um chamado a seguí-Lo em obediência submissa. John Stott afirmou: "o homem que se entrega a Cristo, perde a si mesmo, não pela absorção de sua personalidade na personalidade de Cristo, mas sim pela submissão de sua própria vontade à vontade de Cristo". Então, o que é ser discípulo de Jesus?
Primeiramente, ser discípulo é romper com a existência anterior. O chamado ao discipulado cria imediatamente uma nova situação. É uma nova vida (2 Coríntios 5.17). Quando Mateus foi chamado da coletoria; Pedro, André, Tiago e João das redes, não tinham dúvidas de que o chamado de Jesus era sério. Deveriam abandonar tudo para O seguir (Lucas 14.33).
Em segundo lugar, ser discípulo é comprometer-se com a pessoa de Cristo. Cristão é alguém que segue a Cristo, que está inquestionavelmente comprometido com Cristo como seu Senhor e Salvador. Sem Jesus não há discipulado. O discipulado é compromisso exclusivo com a pessoa de Jesus Cristo. A bíblia é clara ao nos ensinar que não podemos servir a dois senhores. Deus não aceita corações divididos. Assim, comprometimento com Cristo implica em ter a mente de Cristo, andar do mesmo modo que Ele andou.
Em terceiro lugar, ser discípulo é ser obediente a Cristo. "O caminho para a fé passa pela obediência ao chamado de Cristo. Exige-se um passo decisivo um passo decisivo, senão o chamado de Jesus ecoa no vácuo, e todo o suposto discipulado, sem esse passo ao qual Jesus nos chama, transforma-se em onda entusiástica mentirosa" , afirmou D. Bonhoeffer. Discípulo é aquele que crê, cuja fé o leva a obedecer. Crer em Deus, segundo as Escrituras, é confiança em Deus. É amor a Deus. É obediência a Deus! A fé está associada com a nossa obediência, com a nossa submissão à Sua vontade. Se assim não for, não será fé. A falta de fé e a falta de obediência são dois lados de uma mesma moeda. Que o Senhor nos guarde de uma fé sem frutos, de uma religião sem obediência!
Por último, ser discípulo é produzir frutos de justiça. A Bíblia ensina claramente que a evidência da obra de Deus numa vida é o fruto inevitável de um comportamento transformado. O apóstolo João escreveu: "Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão" (1 João 3.10). A fé que não produz um viver santo está morta e não pode salvar. Crentes professos em cujas vidas há ausência completa do fruto da verdadeira justiça não encontrarão nenhuma base bíblica que lhes assegure a sua salvação. A verdadeira salvação não é somente justificação. Ela não pode estar separada da regeneração, da santificação e da glorificação final. A salvação é tanto um processo em andamento quanto um fato no passado. É a operação de Deus, através da qual somos feitos "conformes a imagem de seu Filho".

sexta-feira, agosto 29, 2008

VENDO CAVALOS COLORIDOS

O mundo que vivemos é marcado pela violência e pela desigualdade social. Assistimos aos noticiários e, diante de tantas notícias ruins, indagamos: Ainda há esperança? Consequentemente somos tomados de um pessimismo mundano e pernicioso que nos faz cansados, abatidos e que nos leva a viver num pragmatismo tolo: "Comamos e bebamos que amanhã morreremos".
Os profetas Zacarias e Ageu foram contemporâneos e os dois exerceram ministérios complementares entre os exilados de Israel que haviam voltado da Babilônica e reorganizavam a vida política, social e religiosa do povo de Deus. Ambos procuraram estimular, incentivar e encorajar o povo a buscar a Deus a fim de que vencessem as dificuldades. Portanto, é uma mensagem de esperança.
Em Zacarias 1.7,8 lemos que o profeta olhou de noite e viu. Já pensaram nisto? Ver de noite numa época em que não havia recursos luminários e elétricos como em nossos dias. E não somente isto, ele olhou e viu cavalos coloridos!!! Somente os que crêem em Deus podem, em meio as trevas e desesperanças da vida, olhar e ver um futuro promissor. Para muitos a esperança cedeu lugar ao pessimismo, ao descrédito e frustração. Porém, a Palavra de Deus promete:
"Os que confiam no Senhor são como o monte de Sião, que não se abala, firme para sempre" – Salmo 125.1
"Os que esperam no Senhor renovam suas forças como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam" – Isaías 40.31
Para o cristão a esperança está em Deus. Ele é o Deus da esperança e O que dá esperança. Diz-nos o salmista: "Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque Dele vem a minha esperança" – Salmo 62.5
A esperança cristã é a expectativa confiante do cumprimento das promessas divinas. Deus é fiel, imutável e não pode mentir. Nada pode frustrar os propósitos de Deus. Assim, os ouvintes imediatos de Zacarias saberiam , pela visão, que nenhuma nação poderia impedir o plano de Deus em reorganizar o povo, mesmo sendo um grupo insignificante de exilados.
Creia em Deus e em suas promessas. Só assim poderemos enfrentar os desafios da vida, na certeza de que Jesus, Aquele em quem esperamos, nos conduz em triunfo. E como Zacarias sejamos visionários de uma nova vida cheia de esperança. Amém!

LIÇÕES JUNTO AO RIACHO

Deus não pode fazer algo através de nós, antes de fazer algo em nós. Na vida de Elias isto é claramente percebido. Ele nos é apresentado como Elias o tesbita, mas o capítulo 1 termina descrevendo-o como um homem de Deus. O que ocorre entre o v. 1 e o v. 24? O que fez Elias o tesbita se tornar um homem de Deus? Foi a preparação ocorrida em Querite. Gene Getz está correto quando declarou que "quando Deus usa pessoas de uma maneira especial para realizar os seus propósitos na terra, ele as prepara muito bem". A Bíblia nos dá outros exemplos. Moisés foi treinado no deserto por 40 anos, para realizar a libertação do povo de Deus do Egito. José foi outro homem preparado por Deus e teve que passar alguns anos na prisão antes de ser promovido a primeiro ministro. O próprio Paulo ficou por três anos no deserto da Arábia antes de se tornar o grande missionário que foi. Portanto, não nos surpreende que Deus isolasse a Elias como preparação para o que ainda estava para ocorrer em sua vida. A. W. Pink afirma "que todo servo que Deus se digna usar tem de passar pela experiência da prova de Querite antes de estar realmente preparado para o triunfo do Carmelo".
Creio que Deus queria que Elias aprendesse algumas lições ali junto àquele riacho. C. Swindoll faz uma observação importante. Lembra-nos que o nome Querite deriva-se de um verbo hebraico cujo significado é "cortar", colocar no tamanho certo". Esta palavra é empregada no AT com dois significados. Primeiro no sentido de ser cortado (separado) dos outros e, segundo, no sentido de aparelhar uma peça de madeira para construção, deixando-a no tamanho correto a ser usado. Assim, podemos dizer que Elias seria "cortado" de todo envolvimento e atividades que lhe fossem estimulantes e, ao mesmo tempo, seria "aparelhado", "colocado no tamanho certo", aprendendo a depender de Deus.
É possível observarmos que Elias em nenhum momento questionou a Deus, nem perguntou por quê. Ele simplesmente obedeceu. Esta é a primeira lição que aprendemos com Elias. Aprendemos que devemos ser obedientes. Deus disse a Abraão: "Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para terra que te mostrarei", e Abraão foi, obedeceu. Jesus declarou que tinha como prioridade fazer a vontade de Deus, o Pai. Deus fala conosco hoje, não do mesmo modo que falou a Elias e aos demais profetas, mas por meio de Sua Palavra. É nas Escrituras Sagradas que encontramos tudo o que Deus requer de nós. E Ele espera que tão somente O obedeçamos.
Deus também disse a Elias: Vá para Querite e Eu te sustentarei. Deus queria que o profeta aprendesse a andar pela fé. Deus dirige a seu povo passo a passo. Esta é outra lição que devemos aprender. Aprendemos que devemos andar pela fé. Elias não questionou a Deus, dizendo como seria ali no deserto, apenas confiou em sua promessa. Nós devemos confiar em Deus dia após dia. Precisamos aprender a viver o hoje, hoje. Não podemos viver o amanhã hoje. Jesus nos ensinou: "Buscai em primeiro lugar o seu Reino e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas, portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã; pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal".
Convém lembrar que Deus nunca falou qual seria o passo seguinte antes de Elias dar o passo anterior. Deus disse ao profeta ir até Acabe. Quando Elias chegou ao palácio, falou tudo que tinha a dizer, Deus disse para ir até o riacho. Vá até as torrentes e se esconda. Eu te sustentarei. E Deus não disse o próximo passo até que o riacho secou. Viver na dependência de Deus é viver crendo em suas promessas.
Mas há uma última lição a destacar. Elias ao obedecer a Deus e viver de sua inteira dependência aprendeu a humildade. No livro de Provérbios 3.5 lemos: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento". Se Elias se estribasse em seu próprio entendimento, não teria percorrido por toda aldeia de Israel, proclamando o juízo de Deus e clamando ao povo para o abandono da idolatria? Certamente faria tudo que estava em suas mãos para despertar a consciência adormecida do povo, obrigando a Acabe a por um fim na idolatria. Esta é a última lição a aprender. Aprendemos que devemos ser humildes.
Obediência a Deus, dependência de Deus e humildade são coisas necessárias para realizarmos a obra de Deus. As vezes somos treinados por Deus para que nos tornemos pessoas que Ele quer que sejamos.

quinta-feira, agosto 28, 2008

MENSAGEIROS DA PAZ

O evangelista João relata-nos que, após a morte de Jesus, seus discípulos tiveram medo. Tanto é verdade que, no domingo da ressurreição, os encontramos reunidos numa casa com as portas trancadas (João 20.19-23). Tinham receio de que os líderes religiosos, que haviam crucificado o Seu Mestre, estivessem atrás deles e, então, trancaram as portas. Jesus, repentinamente, aparece no meio deles, dizendo-lhes: Paz seja convosco! Uma saudação comum naqueles dias, usada quando amigos se encontravam. Contudo, como nos diz F. F. Bruce, "nesta ocasião, a saudação abrangia todo o sentido que lhe é inerente". Como a Bíblia nos ensina, Jesus é a nossa paz, pois Ele estabeleceu "a paz pelo sangue da sua cruz" (Cl 1.20). A obra redentora de Jesus de reconciliar todas as coisas com Deus, de justificar gratuitamente pecadores está contida nesta palavra: PAZ. Deste modo, Jesus declarou-lhes que a inimizade para com Deus foi removida pelo Seu sacrifício. E, ao mostrar-lhes suas feridas, os fez lembrar o quanto Ele sofreu para trazer-lhes esta paz. Depois deu-lhes uma missão. A missão de serem mensageiros da paz! Tendo experimentado a graça da paz, deveriam promover a paz.
Hoje, em nossos dias, a paz é o anseio mundial. Pessoas de todas as raças, línguas, tribos, estão unidas por um desejo comum: alcançar a paz mundial. Porém, os últimos acontecimentos nos levam a indagar: será que o mundo um dia terá paz? É preciso lembrar que paz não é simplesmente ausência de guerras, conflitos e problemas. É, antes de mais nada, o estabelecimento de um bom relacionamento entre o homem e Deus, através de Jesus Cristo. E quando restauramos a relação com o nosso Criador, experimentamos a paz conosco mesmos e a paz com o próximo.
Aqueles que, por meio de Jesus Cristo, têm paz com Deus são exortados a seguir a paz com todos. Assim, sobre nós cristãos, pesa a responsabilidade de promovermos a paz. E isto nós fazemos quando proclamamos aos homens a salvação em Jesus. Somos também mensageiros da paz. É através da proclamação do Evangelho de nosso Jesus Cristo que podemos promover a paz. Jesus morreu para trazer a paz, ressuscitou para trazer a paz e se coloca no meio de seus discípulos trazendo a paz em seus corações. Portanto, a mensagem que o mundo precisa para alcançar a paz, e somente os cristãos podem e devem anunciar, é Jesus. Que sejamos mensageiros da paz.

O DESAFIO DE SER CRISTÃO HOJE


Observa-se, com bastante freqüência, que a sociedade tem reclamado da igreja uma postura que revele o seu verdadeiro compromisso com o Senhor Jesus Cristo. A não aceitação do Evangelho tem sido justificada por muitos com o argumento que o cristianismo não tem feito diferença na vida dos cristãos. Até certo ponto o argumento é válido, pois, de fato, muitos não tem revelado ao mundo uma vida verdadeiramente transformada pelo poder de Deus. A presença da igreja no mundo é para revelar a gritante diferença entre a luz e as trevas. Jesus revela aos seus discípulos uma nova identidade ao declarar: "...eles não são do mundo, como também eu não sou" (João 17.14). Eles são pessoas diferentes, que não assumem os valores do mundo em sua conduta e seu estilo de vida retrata uma vida santificada pela Palavra de Deus.
O que cada cristão precisa ter em mente é que há uma diferença fundamental entre os cristãos e os não cristãos. E temos que aceitar a responsabilidade que esta diferença coloca sobre nós. Deus nos colocou no mundo para fazermos diferença. E esta se manifesta no rompimento com a mentalidade do mundo.
Em sua oração sacerdotal, Jesus suplica ao Pai: "Não peço que os tire do mundo; e, sim, que os guardes do mal"(João 17.15). Ser guardado do mal significa não assimilar os valores e os padrões do mundo. Isto, também, não quer dizer que temos que nos alienar ou nos afastar da sociedade. O Rev. John Stott declara: "Certos cristãos, preocupados acima de tudo com serem inequivocamente fiéis à revelação de Deus, ignoram os desafios do mundo moderno e vivem no passado. Outros, ansiosos por responder ao mundo que os cerca, enfeitam e torcem a revelação de Deus, em busca de relevância. Tenho tentado a evitar ambas as armadilhas, pois o cristão não é livre para submeter-se, nem à antigüidade nem à modernidade. Ao invés disso, tenho buscado com toda a integridade submeter-me à revelação de ontem dentro da realidade de hoje. Não é nada fácil combinar lealdade ao passado com sensibilidade ao presente. É este, no entanto, o nosso chamado cristão: viver no mundo sob a Palavra".
Isto nos impõe um grande desafio. O desafio de ser cristão hoje.