Esta é uma questão que devemos considerar, uma vez que a palavra “igreja” evoca muitos Conceitos e significados variados. J. C. Ryle observa que “não há palavra que tenha sido usada com tanta variedade de sentidos, como a palavra “igreja”. É a palavra que ouvimos constantemente, e não podemos deixar de observar que as pessoas a empregam em sentidos diferentes”. Para muitos a igreja não passa de um clube religioso com seus rituais tradicionais. Outros a identificam a um grupo político (político num sentido lato, isto é, as coisas que dizem respeito a cidade, a sociedade) lutando contra os males da sociedade. Há quem entenda “igreja” como um edifício, uma construção onde um grupo de fanáticos religiosos se reúne. Creio que precisamos resgatar o significado bíblico-teológico da palavra “igreja”, pois “hoje em dia a igreja parece ter perdido o seu sentido de identidade. Como alguém que estivesse sofrendo de amnésia, ela está perguntando: Quem sou, e para que é que estou aqui” (R. Stedman).
A palavra “igreja” no grego é ekklesia e tem o significado de “chamar para fora”, “convocar”. É a tradução do verbo hebraico “qahal”, “chamar”, que era empregado no AT com uma conotação religiosa ao referir-se à assembléia ou ajuntamento do povo de Deus em resposta à chamada de Javé. Assim, igreja deve ser definida como a assembléia ou ajuntamento daqueles que foram chamados e separados, dentre todas as nações, pela livre e graciosa vontade de Deus, para se constituírem no povo de Sua propriedade pela fé em Jesus Cristo. Desta forma aprendemos que:
1) A igreja é um povo chamado por Deus. O fundamento do relacionamento entre o povo de Deus e o próprio Deus é caracterizado pelo chamado divino. A compreensão da igreja como povo de Deus destaca a igreja não como um encontro livre de pessoas com a mesma opinião religios, mas como aquela que é fundamentada na prévia escolha e chamamento livres de Deus. Em Romanos 8,29,30 verificamos que a igreja é composta por aqueles a quem Deus elegeu, chamou e justificou. Por isso não hesitamos em afirmar que a igreja deve sua existência a um fato fundamental: u chamado de Deus. Em 1 Pedro 2.9,10 encontramos quase todos os elementos que caracterizam a igreja de Deus. Um destes elementos é “raça eleita” e, sem dúvida, somente a eleição e o chamado de Deus pode sustentar a igreja. A fonte deste chamado é o amor gracioso de Deus (Dt 7.7;Jo 3.16). O amor de Deus é espontâneo e gratuito, mesmo que sejamos indignos deste amor e apesar de nós, Deus nos amou a ponto de nos constituir seu povo. Portanto, é Deus quem reúne em torno de Si o seu povo, de todas as raças, tribos, línguas e nações. Deus é quem toma a iniciativa de regatar um povo para Si. Assim, a igreja é uma instituição divina. Hans Küng declara que o fato da igreja existir e ser o que é acha-se predeterminado pela vontade de Deus, da qual simultaneamente continua pura e simplesmente dependente – diferentemente de uma fundação humana, da qual, com o tempo, o fundador se retira. É por isso que a igreja nunca é simplesmente “uma instituição” mas é sempre “a instituição de Deus”.
2) A igreja é um povo que tem fé. Esta é outra característica da igreja. É uma comunidade daqueles que crêem em Cristo, ou seja, a congregação dos pecadores regenerados que, mediante a ação do Espírito Santo, demonstram uma convicção firme da verdade do Evangelho e uma certeza do cumprimento das promessas de Deus em Cristo. “Se do lado divino, a igreja é a comunhão dos santos eleitos, do lado humano, é a comunhão daqueles que respondem à Palavra de Deus proclamada e que crêem em Jesus Cristo e confessam que Ele é o Senhor”, afirmou G. E. Ladd. A fé pessoal em Cristo Jesus é parte essencial da igreja de Deus, como demonstra o capítulo 4 de Romanos. Ali verificamos que Abraão foi aceito por Deus não por causa das obras da lei e, sim, porque creu. A circuncisão era o sinal da justiça da fé que lhe fora imputada e, sendo assim, Abraão é o pai daqueles que demonstram esta mesma fé.
3) A igreja é um povo separado por Deus. A santidade é a terceira característica a destacar. A igreja é o ajuntamento, a comunhão dos santos. A idéia é de ser separado para a obra e serviço do Senhor. O povo de Deus é santo, pois “o Seu Cabeça é Santo e santificador”. É o povo cujos pecados foram expiados por Jesus (Hb 2.17), santificado pelo Seu sangue e que, no decorrer de sua peregrinação, tem a santificação por meta. Esta santidade alcançada pelo povo de Deus é que o qualifica como comunidade de culto (Ef 3.21, ou seja, sua tarefa suprema como povo santo é a adoração cultual, na qual revela o significado de Deus para a sua vida, tornando notório aos pecadores o que Deus fez e faz. A santidade, então, não só nos capacita a cultuar a Deus como também testemunhá-Lo. O povo de Deus tem sido comissionado a testificar das boas novas aos pecadores, bem como de anunciar as virtudes de Deus. Somente da igreja é que o mundo pode ter noção do que significa vida eterna. Sendo assim, a eficácia do seu ministério consiste me demonstrar a obra eficaz de Jesus Cristo, a testando o perdão do seu próprio pecado
O povo de Deus é aquele que é chamado por Deus de todas as nações, o qual responde com fé e vive uma vida de santificação no decorrer da sua peregrinação até a consumação do século.