J. C. Ryle, um grande servo de Deus do passado, nos lembra que “o Cristianismo que o mundo requer, e que a Palavra de Deus revela (...) é uma religião útil para todos os dias. É uma planta saudável, forte e viril, a qual pode viver em qualquer posição, e florescer em qualquer atmosfera, exceto a do pecado. É uma religião que o homem pode levar com ele aonde ele for, e nunca precisa deixar para trás”. Em Hebreus 12 encontramos verdades essenciais para se viver esse cristianismo autêntico e relevante em nossos dias. Por isso temos nos esforçado em aprender e aplicar tais verdades às nossas vidas para sermos, de fato, uma igreja que faça toda diferença em nossa sociedade.
No texto de hoje encontramos uma nova exortação, a qual se inicia com a expressão “por isso”. Isto é significativo, pois nos lembra que o que o autor irá nos falar depende da compreensão de tudo o que já foi dito. Primeiramente seus leitores são exortados a serem perseverantes na vida cristã, observando o testemunho dos heróis da fé, mas, acima de tudo, olhando para Jesus, o Autor e Consumador da fé. Lembra-lhes que nesta jornada encontrariam dificuldades, mas os sofrimentos não são sinais de reprovação, pelo contrário, evidenciam o cuidado paternal de Deus, moldando-nos para que sejamos participantes da Sua santidade. Agora, nesta perícope, exorta seus leitores a se encorajarem mutuamente, de modo que aqueles que se acham desanimados sejam estimulados pelo testemunho da maioria e também se tornem perseverantes. É possível observar por toda carta que havia na igreja irmãos que, diante das tribulações, estavam esmorecendo. Em Hebreus 10.25 somos informados que estes estavam deixando de congregar. Contudo, observemos que eram “alguns” e não a maioria. E essa maioria deveria levar em conta as circunstâncias e fraquezas dos demais a fim de apoiá-los. Por isso a exortação em Hebreus 10.24: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. Portanto, nesta seção, encontramos UMA PALAVRA AOS PERSEVERANTES.
1. SEJAM CORAJOSOS. A primeira exortação é: Sejam corajosos. Mãos fracas e joelhos vacilantes formam uma metáfora que representa o desânimo e o desespero. Somente os covardes desistem quando o caminho é difícil. O autor os admoesta a não se contaminarem com o desalento de poucos, mas a se mostrarem fortes, corajosos, pois a coragem “pode reanimar os corações abatidos e renovar o progresso no caminho do cristianismo”. Convida-os a continuarem sendo perseverantes e, assim, fortaleceriam os que estavam em dúvida e reergueriam sua confiança.
2. SEJAM ÍNTEGROS. O autor desta carta era alguém que conhecia bem o Antigo Testamento. Para estimulá-los a coragem cita Isaías e para convocá-los a integridade refere-se a Provérbios: “Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal”. Sejam íntegros! Esta é a exortação aqui. Deveriam andar numa linha reta, com honestidade e franqueza, sem inconsistências morais ou espirituais em sua vida. Integridade significa inteiro, completo, sadio. A integridade é essencial para aqueles que representam Deus e Cristo neste mundo, para que o manco não se extravie, pelo contrário, seja curado. Lighfoot nos lembra que “a advertência é no sentido de que os fortes devem avançar num curso reto e auxiliar no percurso os irmãos fracos que de outra forma seriam tentados a desviar-se e abandonar a carreira cristã”.
3. SEJAM PACIFICADORES. No versículo 14 encontramos a terceira exortação: Segui a paz com todos. O verbo seguir é enfático e sugere-nos todo o esforço possível para se alcançar algo. O primeiro objeto a ser perseguido é a paz. Embora a expressão “com todos os homens” tenha um paralelo direto com Romanos 12.18, “se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”, indicando uma abrangência em seu uso, creio que em nosso texto refira-se exclusivamente ao relacionamento dos cristãos. O versículo 15 confirma essa interpretação. Neste versículo o autor os previne para que não haja nenhuma raiz de amargura, citando o texto de Deuteronômio. A ideia não é de ressentimentos entre eles, mas, sim, a introdução de um veneno, isto é, uma raiz venenosa, que poderia trazer a destruição. O desânimo é essa raiz venenosa, que se não fosse eliminada contaminaria o ânimo de toda a congregação. Lembra-lhes que indiferença gera indiferença e apostasia gera apostasia. O autor já os havia advertido antes: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Hb 3.12). Assim, fala-lhes daquilo que precisava ser corrigido na igreja. A estagnação, ainda que fosse uma realidade de alguns, estava evoluindo e deveria ser combatida com tolerância e amor. O conceito bíblico paz não consiste na ausência de conflitos, guerras. É, antes de tudo, o estabelecimento de um bom relacionamento entre o homem e Deus. E neste sentido, como pacificadores, os crentes perseverantes deveriam ajudar os que estavam se ausentando da congregação a “restaurar” o relacionamento com Deus para que toda a igreja não se contaminasse com o desânimo.
4. SEJAM SANTOS. O outro objeto ser perseguido é a santificação. Esta expressão assemelha-se à declaração de Paulo aos tessalonicenses: “Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” (1 Ts 4.7). O autor aos Hebreus nos ensina a seguir a santidade e isto envolve nos sujeitarmos ao Espírito de Cristo. A Bíblia nos ensina que o Espírito Santo opera por meios – os meios de graça, a saber: a Palavra, oração, comunhão, adoração e a ceia do Senhor. Nesse processo é preciso o nosso envolvimento através da disciplina e do esforço. A formação de hábitos é a maneira normal pela qual o Espírito Santo nos leva para a santificação. Assim, o antídoto ao veneno mortal do desânimo é o esforço deliberado do cristão no uso destes meios de graça para a sua santificação. Aqui o autor traz a lembrança o exemplo de Esaú que fez uma má escolha e não pode mudar as conseqüências desta escolha. Assim a exortação é para que não desprezem os privilégios cristãos como Esaú o fez, senão incorremos no mesmo erro dele.
Amados irmãos, a compreensão destas verdades é significativa a nós hoje. Obviamente as dificuldades que enfrentamos hoje não são idênticas à daqueles irmãos. Contudo, sofremos problemas que podem nos desanimar em nossa jornada cristã. Ainda hoje há, como expressou o poeta sacro, aqueles que corriam bem e longe de Deus agora vão, outros que caminham sem fervor e sem vigor. Portanto, neste texto aprendemos que, em primeiro lugar, devemos cuidar da nossa própria espiritualidade. Certo servo de Deus nos diz que “ninguém tem esperança alguma de revivificar outras pessoas se não se esforçar para revivificar a si mesmo”. Não devemos permitir que as lutas que enfrentamos ou o desânimo de alguns nos façam estagnar. Acima de tudo, devemos nos fortalecer no Senhor, vivendo com integridade o Evangelho de Cristo. Em segundo lugar, devemos suportar uns aos outros em amor. Uma vez revigorados, animemos os desalentados! E, por último, jamais devemos negligenciar os meios de graça que o Senhor nos dá. Nas palavras de Paulo, não apagueis o Espírito!