Em Gênesis 1:27 lemos: “Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Eis o relato bíblico da
criação da família. Família é obra de Deus, é criação divina. Deus estabeleceu
a família para desfrutar de uma íntima comunhão com Ele. Contudo, esta família
se rebelou contra Deus e o homem julgou-se capaz de dirigir sua própria vida e
família sem o auxílio e direção do Criador. Encontramos em Gênesis 3 o relato
de uma família desobediente. E, nesta noite, gostaria de relatar e meditar
sobre o fundamento da desobediência, isto é, o que impulsionou o homem a pecar.
Ver quais as conseqüências da desobediência e, por último, a maneira como Deus
restaurou esta família.
1. O fundamento da desobediência: orgulho.
Gênesis 3 nos relata acerca da
entrada do pecado na história humana, contudo não explica essa origem. O Rev.
A. Hoekema declara que “Adão e Eva foram
tentados pelos seus próprios desejos de pecar, mas jamais entenderemos como ou
por quê”. Como seria possível que
alguém que foi criado em retidão, sem pecado, pudesse pecar? É um mistério que não nos foi revelado e
tentar explicá-lo é como tentar ver as trevas ou ouvir o silêncio, como
declarou Agostinho. Quero ressaltar ainda que “O pecado é contra a vontade de Deus, mas nunca sem ou além da sua
vontade. Deus permitiu que acontecesse a queda porque em sua onipotência Ele
poderia produzir o bem até mesmo do mal” (A. Hoekema).
Embora não compreendamos esse enigma,
nos é possível identificar a causa, ou melhor, qual o fundamento que levou a
humanidade à desobediência. O texto nos
relata que a serpente, a personificação do diabo, enganou Eva. O diabo não se
dirigiu ao homem e, sim, a mulher. Em Gn 2:16,17 a ordem divina de não comer do
fruto foi dada diretamente à Adão e ele, como cabeça do lar, instruiu sua
mulher. Deste modo Eva seria mais susceptível à argumentação e dúvida.
Primeiramente a serpente colocou a dúvida: “Não
é assim que Deus disse...?” e em seguida, confrontou a declaração divina: “É certo que não morrereis”. E, por
último, despertou o orgulho: “Porque Deus
sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus,
sereis conhecedores do bem e do mal”.
Ser como Deus foi o desejo de Eva, o mesmo desejo que gerou a maldade de
satanás. Isaías nos diz que no coração do diabo ele dizia: “... e serei semelhante ao Altíssimo”. Vaidade, jactância, orgulho é o âmago do
pecado original e de todos os pecados que dele decorrem. Porém, “comer o fruto
não faria que Eva se tornasse como Deus. Faria que se tornasse como o diabo –
caído, corrupto e condenável” como afirmou o Rev. J. MacArthur.
2. Os resultados da
desobediência: vergonha, medo, fuga da
responsabilidade e morte.
O apóstolo João escreveu em sua
carta que “todo aquele que pratica o
pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (1
João 3:4). Essa é maneira bíblica de descrever o pecado. “Pecado é qualquer falta de conformidade com a Lei de Deus ou qualquer transgressão
dessa Lei”. Adão e Eva pecaram
porque não se conformaram à vontade de Deus, transgrediram Sua ordem. O Rev.
Stott afirma que “todo pecado é uma forma
de revolta egoísta contra a autoridade de Deus”. A humanidade se rebelou
contra o Seu Criador. Quais são os resultados dessa revolta? Quais as
conseqüências da desobediência? A desobediência dos nossos primeiros pais teve
efeito imediato. No relato bíblico vemos que, ao invés de se tornaram como
Deus, como o diabo disse, eles experimentaram:
Vergonha – “Abriram-se,
então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus coseram folhas de
figueira e fizeram cintas para si”. A vergonha surge como fruto de uma consciência
culpada e, imediatamente, Adão e Eva tentam remediar tal situação cobrindo-se
com as folhas da figueira. Desde o início o homem, com sua religiosidade vã,
tenta remediar sua situação com Deus.
Medo – Outra
conseqüência é o medo. A culpa gerou vergonha e medo. Medo do que Deus poderia
lhes fazer como castigo pelo seu pecado. “É
evidente que a vergonha dos nossos primeiros pais foi acompanhada de um
profundo sentimento de temor, pavor e horror diante da perspectiva de prestar
contas a Deus pelo que haviam feito” (J. MacArthur).
Fuga da responsabilidade – Adão acusa a Deus: A mulher que me deste. Eva acusa a
serpente: A serpente me enganou. Era
momento de reconhecer o erro, de declarar que eles haviam desobedecido à ordem
divina. “Nem o homem nem a mulher estavam dispostos a
admitir responsabilidade pessoal na culpa do seu primeiro pecado”
(Hoekema).
Morte – Adão desobedeceu e morreu. A sua morte envolveu a
separação do homem com Deus, o que denominamos de morte espiritual. O texto nos
diz que Deus expulsou o homem do paraíso, evidenciando a ruptura com o Criador.
Com o pecado, a comunhão espiritual foi rompida. Deus é Santo e o homem
contaminou-se com o pecado. E a Bíblia
nos diz: “Eis que a mão do Senhor não
está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não
poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso
Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça”.
(Isaías 59:1, 2).
3. O remédio para a
desobediência: Cristo.
No versículo 15 encontramos uma promessa de
Deus e esta promessa indica a graça redentora de Deus para com o homem pecador:
“Porei inimizade entre ti (a serpente) e a mulher, entre a tua descendência e o
seu descente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
“Essa passagem, na verdade,
irrompe sobre nós como um alvorecer que vem dissipar trevas, tristeza e
miséria” (Hoekema). O homem desobedeceu, pecou e Deus manifestou a graça.
Obviamente que a descendência da serpente não é a descendência física, mas se
refere aos homens que compartilham dos propósitos e da vontade do diabo, os
quais se mantêm em rebelião contra Deus. Isso nos lembra as palavras de Jesus
aos judeus que se opunham a Ele: “Vós
sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos” (João
8:44). Em contrapartida, a semente da mulher seria o povo de Deus, refere-se
àqueles que viriam a crer na promessa de Deus. “Estende-se a inimizade entre a mulher e satanás à inimizade entre dois
grupos de pessoas. A história do mundo a partir de então passaria a ser uma
história de antítese, de oposição, entre o povo de Deus (a semente da mulher) e
os oponentes de Deus (a semente da serpente)”. No entanto, na última parte
do versículo, Deus passa da compreensão coletiva para a individual no que se
refere aos tipos de descendência. A figura aqui é de um homem que pisa a cabeça
da serpente para esmagá-la e que tem o seu calcanhar ferido neste processo.
Embora Adão e Eva não tenham compreendido de forma plena esta promessa, podemos
compreender pelo ensino das Escrituras que Deus se referia a Jesus que viria para
ferir mortalmente o diabo. Sabemos que Jesus sofreu no processo de obter
vitória sobre satanás, mas Ele venceu no final. Vemos, então, nesta promessa o
vislumbre do evangelho, o que os estudiosos chamam de proto-evangelho, isto é,
o primeiro evangelho. Ainda que a primeira família tenha desobedecido, Deus
manifestou naquele lar a graça salvadora. Deus resgataria a família que se
perdeu, provendo um Salvador!
Em Gênesis 3 a família que Deus
criou se perdeu, desobedeceu a Palavra de Deus. As conseqüências dessa
desobediência trouxeram culpa, vergonha, medo, fuga e a maior de todas: a
separação da família com Deus. No entanto, o Deus das Escrituras se revela
gracioso, misericordioso e providencia um redentor para a família. Mas o que
toda esta história tem a ver comigo, com a minha família hoje? Creio que há
preciosas lições para nós e nossa família.
1) Crer e obedecer a Palavra
de Deus é melhor do que crer nas mentiras do diabo. A família de Adão
desobedeceu, não creu em Deus e ouviu as insinuações de satanás. A Bíblia nos
diz:
Obedeçam aos seus decretos e
mandamentos que hoje lhes ordeno, para que tudo vá bem com vocês e seus
descendentes, e para que vivam muito tempo na terra que o Senhor, o seu Deus,
lhes dá para sempre (Dt 4:40).
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes medita nele dia e noite,
para que tenhas cuidado de fazer tudo quanto nele está escrito; então, farás
prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido (Js 1:8).
Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Do
trabalho de tuas mãos comerás, e tudo te irá bem. Tua esposa no interior de tua
casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à
roda da tua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor! (Sl
128:1-4).
Se você deseja ter uma família
abençoada ouça a Palavra de Deus e se guie por ela e não pelas mentiras do
diabo!
2) Nossas famílias enfrentam lutas, lidam com problemas,
sofrimentos e dificuldades. Qual família que não passa por tribulação? Contudo
aprendemos nessa passagem que a presença de Cristo em nosso lar nos ajuda a
lidar com todas as nossas dificuldades. É em Cristo que temos a restauração da
nossa família. Há um cântico infantil que nos apresenta uma grande verdade: Com Cristo no barco vai tudo bem, vai tudo
bem e passa o temporal! Se queremos ter um lar feliz, abençoado - e isto
não quer dizer sem aflições – devemos
buscar a Cristo, invocar a Sua presença em nossa família.
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