sexta-feira, setembro 28, 2007

EU, UM DISCÍPULO?

Todo cristão é um discípulo. Embora, nem todo discípulo seja necessariamente um cristão. A Bíblia nos ensina que há casos que o discipulado é meramente nominal. Logo após Jesus ter afirmado ser o pão da vida, alguns dos seus discípulos se escandalizaram e João relata-nos: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com Ele” (João 6.66). Jesus mesmo nos ensinou: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7.21-23).

Como discípulos de Jesus, temos como alvo a maturidade da vida cristã. Nas palavras do apóstolo Pedro, devemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 3.18). D. Bonhoeffer afirmou que “o chamado ao discipulado é comprometimento com a pessoa de Jesus Cristo” e o Rev.J. Stott que “um cristão não é somente um crente justificado: é uma pessoa que foi unida com Cristo Jesus de uma maneira viva e pessoal”. O verdadeiro cristão é aquele que se relaciona diariamente com Cristo, anda no Espírito. Isto implica envolvimento, exige de nós tempo. E assim o cristão convertido terá que acertar a sua lista de prioridades. Somos desafiados a revisar nosso sistema de valores. Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus, pensar nas coisas que são de cima, do alto. O Pr Paulo Solonca está certo ao nos advertir que “Deus está a procura de verdadeiros adoradores – homens e mulheres que estejam prontos a comprometerem-se com Sua Pessoa, Seus ensinos, Seu reino. Deus sempre condenou a falsa religiosidade do seu povo. Ele está farto de membros de igrejas, domingueiros que mais se identificam com agentes secretos da fé cristã do que discípulos comprometidos com uma causa”.

O verdadeiro cristão tem prazer na Lei do Senhor e valoriza toda e qualquer oportunidade de ouvir a Palavra de Deus, seja ela proclamada na escola dominical, no culto ou nos estudos bíblicos. Jesus nos ordena fazer novos discípulos, pois o método da evangelização divina é o homem. Mas Deus não pode fazer algo através de mim antes de fazer algo em mim.

Temos nós andado com Jesus? Podemos afirmar como Paulo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim? Há evidências de um discipulado verdadeiro em nossas vidas?

quarta-feira, setembro 12, 2007

EVANGELIZAÇÃO - Parte 3

Jamais devemos esquecer que o homem natural é incapaz de compreender por si mesmo a mensagem cristã. Paulo afirmou que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1coríntios 2.14). A Bíblia nos diz que os homens estão cegos (2Coríntios 4.4), surdos (Atos 28.26,27; João 8.43) e mortos (Efésios 2.1). Assim devemos nos lembrar que a conversão de alguém não depende do meu poder de persuasão e, sim, da ação sobrenatural do Espírito de Deus, pois é Ele quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8). Assim devemos suplicar que o Espírito Santo nos use e, Ele mesmo, abra a mente dos que estão sendo evangelizados.

O apóstolo Pedro escreveu que o Senhor nos guia por seu exemplo (1Pedro 2.21). Devemos seguir os seus passos em todos os aspectos da vida, inclusive na maneira de testemunhar. Jesus em sua conversa com a samaritana junto ao poço de Jacó apresenta-nos alguns princípios que devemos seguir. Em sua oração sacerdotal, Jesus não rogou para que o Pai nos tire do mundo, mas que nos livrasse do mal. Assim, o primeiro passo no testemunho consiste em ter contatos sociais com os não crentes. Muitas vezes limitamos o nosso círculo de amizades aos irmãos da fé. Como poderemos levar pessoas a Jesus se não conhecemos os descrentes? Com isso, volto a dizer, que a igreja precisa ir em busca dos perdidos e a evangelização não pode ser limitada entre quatro paredes.. Jesus mesmo foi censurado por andar e comer com pecadores e em resposta afirmou que “os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Marcos 2.17). O segundo passo consiste em obter a atenção. O Mestre começou onde ela estava e iniciou sua conversa dizendo: dá-me de beber. Ele começou com algo que ela estava interessada. A partir daí, pouco a pouco, Ele desviou a conversa até chegar a uma realidade espiritual que ela nada sabia. O terceiro passo consiste em despertar interesse. A samaritana perguntou-Lhe: “Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou mulher samaritana?” (João 4.9). O simples fato de Jesus conversar com aquela mulher põem abaixo barreiras sociais, religiosas, políticas e raciais. Assim, Ele a surpreendeu. E por não fazer discriminação, mas, antes, aceitá-la, conseguiu seu interesse. E mais ainda: “Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4.10). Imediatamente ela respondeu: “...Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois, tens a água viva?” (João 4.11). Em quarto lugar, devemos levar as pessoas a desejar o que lhe oferecemos. João 4.14,15. Obviamente que sendo uma mulher de má reputação, tendo que ir ao poço ao meio dia, quando ninguém estava por perto, ela estava interessada em não ter que vir ao poço tirar água, do que não ter sede novamente. Depois Ele trouxe à luz, a evidência do seu pecado. Eis aí o quinto ponto: convicção de pecado (joão 4.16-18). Por último, devemos levá-la a tomar uma decisão. João 4.26. Ela deveria aceitá-lo ou rejeitá-lo.

O Rev. James Kennedy nos diz: “Devemos familiarizar-nos com essas leis de persuasão e usá-las quando criticamos a nossa apresentação do Evangelho, para ajudar-nos a detectar os lugares da nossa fraqueza. Devemos perguntar a nós mesmos:

Falhei em conseguir a atenção deles em manter seu interesse? Se foi assim, por que e como posso fazer para mudar isto?

Até que ponto despertei o seu desejo de conhecer a Cristo e fazer parte do Seu Reino? Como isto pode ser aumentado?

A pessoa ficou convencida quanto aos seus pecados e sua necessidade de perdão? Se não, por quê?

Confrontei a pessoa claramente, com a necessidade que ela tem de fazer uma decisão por Cristo e dedicar sua vida a Ele com arrependimento e fé? Se não, como posso melhorar para a próxima vez?”[1].



[1] Evangelismo Explosivo, p.47

terça-feira, setembro 11, 2007

EVANGELIZAÇÃO - Parte 2

I. O QUE É EVANGELIZAÇÃO?

O verbo evangelizar no Novo Testamento significa “proclamar boas notícias”, “anunciar boas novas” ou simplesmente “pregar”. A evangelização consiste na pregação do Evangelho, as boas novas. Tanto o Rev. J. Stott como o Rev. J. I. Packer afirmam que a evangelização não pode ser definida em termos de resultado. “Evangelizar, na acepção bíblica do termo, não significa ganhar conversos (como em geral se pensa, quando usamos a palavra), mas simplesmente anunciar as boas novas, independentemente dos resultados”[1]. Contudo, isso “não quer dizer que devamos ser indiferentes quanto a ver ou não os frutos do nosso testemunho em favor de Cristo; se não estiverem aparecendo os frutos devemos buscar a face de Deus para descobrir o motivo”[2]. A evangelização não consiste em somente informar, transmitir as boas novas, mas também a conversão do pecador. O propósito de Paulo na proclamação do Evangelho era salvar pecadores. Em sua 1ª carta aos coríntios (9.22) declarou: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos salvar alguns”. Obviamente que a Bíblia declara peremptoriamente que a conversão é obra do Espírito Santo. O Rev. J. I. Packer observa que curiosamente o termo “conversão” aparece em três passagens bíblicas[3] com a idéia de converter alguém a Deus, porém o sujeito do verbo não é Deus, como esperaríamos que fosse. Isso indica que a conversão de outras pessoas deve ser o objetivo dos cristãos. “Evangelizar, portanto, não é simplesmente uma questão de ensinar, de instruir, de proporcionar informações às mentes dos homens. É muito mais do que isso. Evangelizar inclui o esforço de obter resposta afirmativa à verdade ensinada. É uma comunicação que tem em vista a conversão. É uma questão não meramente de informar, mas igualmente de convidar. É uma tentativa de ganhar, conquistar ou atrair nossos semelhantes para Cristo” [4]. Devemos nos empenhar nesta tarefa tendo como alvo a conversão e salvação de pecadores. Devemos lhes expor o Evangelho de Cristo de forma clara e levá-los a uma decisão.

II. MOTIVAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO.

Já mencionamos que os irmãos do primeiro século demonstravam um ardor pela evangelização. Paulo o demonstra quando, em Mileto, falou aos presbíteros de Éfeso: “... jamais deixando de vos anunciar cousa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”[5]. Mesmo que fossem humilhados, torturados ou até mesmo perdessem a via, os cristãos estavam dispostos a anunciarem as boas novas do Evangelho de Cristo. Surge, então, a questão: O que motivou os cristãos da igreja primitiva a desempenharem com tanto fervor a obra de evangelização? Michael Green, em sua obra Evangelização na Igreja Primitiva, sugere-nos três razões explicam a motivação dos nossos irmãos:

Primeiramente destaca o sentimento de gratidão. “Estas pessoas (os cristãos) não difundiram sua mensagem porque fosse recomendável fazê-lo, nem porque fosse sua responsabilidade diante da sociedade. Eles não o fizeram, em primeiro lugar, por razões humanitárias ou beneficentes. Fizeram-no por causa da experiência extraordinária do amor de Deus que Jesus Cristo lhes proporcionara” [6]. Paulo afirmou que “o amor de Cristo nos constrange”[7]. Calvino comentando o texto afirma que “o conhecimento do imensurável amor de Cristo, do qual Ele nos deu evidência em Sua morte, deve constranger nossos afetos de modo que não sigam outra direção que não a de amá-lo em retribuição... Todo aquele que deveras procura ponderar nesse maravilhoso amor torna-se, por assim dizer, ligado a Ele e constrangido pelo mais estreito laço; e se devota inteiramente ao Seu serviço”[8]. João, o apóstolo do amor nos lembra: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros ... E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o Seu Filho como Salvador do mundo (...) Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”[9]. A evangelização cristã tem sua motivação na obra redentora de Deus em favor dos homens pecadores. Bem observou o Rev. J.I. Packer que “se uma pessoa ama alguém, estará constantemente procurando descobrir a melhor coisa que pode fazer por esse alguém e a melhor maneira de agradá-lo, tendo prazer em planejar coisas lhe dêem prazer. Se, pois, amamos a Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – por tudo quanto Ele tem feito por nós, então devemos reunir toda a nossa iniciativa e empenho para em cada situação, fazer o máximo possível para a Sua glória – e uma das principais maneiras de fazer isso é procurar meios de propagar o Evangelho, obedecendo ao mandato divino de fazer discípulos por toda parte”[10].

O conhecimento que temos do amor de Deus por nós impulsiona-nos a realizar Sua vontade. Em Marcos 16.15 lemos a ordem de Jesus: “ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Estaremos dispostos a superar qualquer obstáculo que nos impeça de pregar o Evangelho, cumprindo a vontade de Jesus? Pedro e João, sim. Quando exortados para que não mais ensinassem sobre Cristo, responderam: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos a vós outros do que a Deus, pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4.19,20; ver também vv.29 e 31).

Se verdadeiramente amamos a Deus, guardamos os Seus mandamentos. Se de fato O amamos, proclamemos em todo parte e a todo homem a vida eterna que há em Jesus.

Em segundo lugar, o sentimento de responsabilidade. “Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar; pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o Evangelho!” (1 Coríntios 9.16). Tais palavras evidenciam o senso de responsabilidade que tinha Paulo para com a evangelização. Jesus contou a parábola do servo obediente aos seus apóstolos, registrada em Lucas 17.7-10. O servo, depois de trabalhar no campo, tem de servir ceia ao seu senhor para depois se servir. Jesus, então, conclui: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”. Somos servos inúteis, a quem nada se deve. Se nos empenharmos na evangelização não faremos nada além daquilo que devíamos fazer. Devemos nos lembrar que chegará o dia em que compareceremos ao tribunal de Cristo, quando nossas obras serão julgadas. Paulo nos lembra que neste dia “não somente trará à plena luz as cousas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus” (!Coríntios 4.5; ver também 3.11-15). Mchael Green afirma que “a idéia da responsabilidade pessoal e de prestar contas a Deus, o juiz soberano, era um estímulo importante à evangelização na igreja primitiva” [11]. Precisamos resgatar este sentimento de responsabilidade ao mesmo tempo em que nos lembramos que teremos que prestar contas a Deus por nossas obras.

Por último, o sentimento de preocupação. Quando observamos o ministério terreno de Jesus é possível ver a compaixão que demonstrava para com os pecadores. Na ocasião da segunda multiplicação dos pães e peixes Jesus disse: “Tenho compaixão desta gente...” (Mateus 15.32). Em outra oportunidade é relatado que Jesus observando as multidões, “compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9.36). A própria encarnação de Jesus é uma demonstração de compaixão para com os pecadores. E essa mesma compaixão é evidenciada na igreja primitiva, pois sabiam que a única esperança para o mundo era Jesus. “A preocupação pelos não evangelizados era uma das grandes forças motivadoras da pregação cristã do evangelho na igreja primitiva”[12]. O desejo de conquistar pecadores, livrando-os das trevas do pecado, deveria ser, e é, o fruto espontâneo de alguém que nasceu de novo. Em nós o amor de Deus foi derramado, assim devemos amar os que se perdem do mesmo modo que fomos amados. Não podemos viver indiferentes diante da terrível realidade, de que o meu vizinho, meu colega de trabalho ou de escola, e muitos dos nossos familiares estão perdidos, longe de Deus e se nós nos calamos eles viverão uma eternidade sem Deus. O segundo grande mandamento é o de amar o nosso próximo como a nós mesmos. E se nós os amamos devemos proclamar-lhes o Evangelho de Cristo, que bem maior poderíamos dar ao nosso próximo senão a salvação? O Rev. J.I. Packer afirmou: “o impulso de evangelizar deve surgir espontaneamente em nossos corações, ao vermos a necessidade que nossos semelhantes têm de Cristo”[13].

Se deixarmos de nos empenhar na evangelização e não proclamarmos a mensagem do Evangelho, seremos responsáveis pelo destino dos que não ouviram. Ezequiel 3.17.19. Paulo sabia disso e por isso aos presbíteros de Éfeso afirmou: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (Atos 20.26).



[1] Stott, J., A Base Bíblica da Evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, ABU, SP, 3ª.

edição, 1989,p. 39.

[2] Packer, J. I., op.cit., p.30.

[3] Lucas 1.16; Tiago 5.19 e Atos 26.18.

[4] Packer, J.I., p.36.

[5] Atos 20.20,21.

[6] Green, M., Evangelização na Igreja Primitiva, Ed. Vida Nova, SP,2ª edição, p.290.

[7] 1 Coríntios 5.14.

[8] Citado por R. B. Kuiper in Evangelização Teocêntrica, PES, SP, 1976, p.81.

[9] 1 João 4.10-12,14,19.

[10] Op.cit., p.55.

[11] Op.cit., p.301.

[12] Green, M., op.cit., p. 302.

[13] Op. Cit., p.53.

segunda-feira, setembro 10, 2007

EVANGELIZAÇÃO - parte 1

É comum ouvirmos de alguns membros e, até mesmo, de presbíteros e pastores, que o importante não está nos números, mas, sim, na qualidade. Este tem sido o argumento usado para justificar a falta de crescimento nas igrejas presbiterianas. Quando observamos o relato bíblico, a igreja primitiva crescia tanto em número como em qualidade. A qualidade, não exclui, de maneira nenhuma, a quantidade. Lucas, em Atos 9.31, escreveu: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em números”. Por que hoje não pode ser assim? O Rev. Augustus Nicodemus nos diz:

Que motivos Deus teria para querer que as igrejas reformadas fossem pequenas e que os anos se passem sem que novos membros sejam adicionados pelo batismo? Que motivos secretos levariam o Deus que nos mandou pregar o Evangelho a todo o mundo impedir que as igrejas locais reformadas cresçam em um país livre, onde a pregação é feita em todo o lugar e onde outras igrejas evangélicas estão crescendo vertiginosamente? Penso que o problema da naniquice não está em Deus, mas em nós. Ai de nós, porque além de não crescermos ainda culpamos a Deus por isso! [1]

O Evangelho não mudou e muito menos o nosso Deus. Concordo com o Rev. Nicodemus que o problema está em nós. Havia na Igreja primitiva um ardor pela evangelização. Sua prioridade era a evangelização. Não pretendo desconsiderar a doutrina, a oração e a comunhão, que devem existir na Igreja. “Fomos chamados para sermos a Igreja e ao mesmo tempo proclamarmos as boas novas: as duas coisas são absolutamente indissociáveis”[2]. Observamos, porém, que na Igreja primitiva, cada cristão era um missionário. Lemos em Atos 8.4: “Entrementes, os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra”. Com a perseguição que sobreveio à Igreja de Jerusalém, todos, com exceção dos apóstolos que permaneceram em Jerusalém, foram dispersos e por onde passavam proclamavam o Evangelho. Lamentavelmente, como M. Green observa, “hoje tudo tende a centrar-se em torno do pastor. Espera-se que o servo remunerado da Igreja empenhe-se em falar de Deus, mas não os outros”[3]. Temos sufocado o nosso impacto na sociedade porque a Igreja, bem estabelecida e socialmente aceita, tem limitado a proclamação da mensagem de Cristo a um único ponto focal: o prédio da Igreja; e a um único ponto vocal: o pregador no púlpito. “Na Igreja primitiva, a política adotada era ir ao encontro das pessoas, onde elas estivessem, e fazer discípulos entre eles ... A Igreja de hoje tenta a implosão, o convite, ou seja, procura “arrastar” o visitante; a Igreja primitiva praticava a explosão, a invasão, saía ao encalço das pessoas”[4]. A evangelização é a vocação de todos os cristãos; todos são chamados a testemunhar. J.I. Packer, em sua obra intitulada: Evangelização e a Soberania de Deus, afirma que “a comissão de pregar o Evangelho e fazer discípulos jamais foi limitada aos apóstolos. Nem está atualmente confinada aos ministros da Igreja. Trata-se de uma comissão que repousa sobre toda a Igreja coletivamente e, portanto, sobre cada cristão individualmente”[5]. Portanto, o triunfo da Igreja primitiva está no fato de que cada crente era um missionário. Além disto, precisamos considerar a natureza da Igreja. A Bíblia usa várias figuras referentes à Igreja. Ela é o corpo de Cristo, a noiva de Cristo, o povo de Deus. Em todas estas figuras o que se destaca é o fato da Igreja ser um organismo vivo. O problema que muitas vezes pensamos na igreja como uma instituição ou num prédio em um determinado lugar. A Igreja é viva e tem vida. E como tal é natural que cresça. Howard A. Snyder afirmou que, segundo as Escrituras, a “igreja é uma comunidade carismática” pois “é através da graça (charis) que ela é salva, e através do exercício dos dons espirituais da graça (carismata) que a igreja é edificada” [6]. Paulo, em Efésios 4.16, escreveu: “todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.



[1] Dez Motivos pelos quais pastores conservadores costumam ter igrejas minúsculas, postado no

Blog Temporas-More.

[2] Green, M., Evangelização na Igreja Primitiva, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, ABU, SP,

3ª edição, 1989, p.78

[3] Op.cit., p.56.

[4] Green, M., op.cit., p.57.

[5] Packer, J.I., Evangelização e a Soberania de Deus, p. 33.

[6] Snyder. H. A., A igreja como agente de Deus na evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje,

ABU, SP, 3ª edição, 1989, p.90.

UMA MENINA ANÔNIMA - 2 Reis 5.1-19

No chamado sermão do monte, Jesus, dirigindo-se aos seus discípulos disse: “Vós sois o sal da terra”. Depois de descrever o cristão nas bem-aventuranças, Ele nos diz o que o cristão faz. Nós somos sal e, assim, devemos “salgar”. Deste modo, destaca-se a diferença que há entre os cristãos e os ímpios. E como afirmou o Rev. Stott , “a influência dos cristãos na sociedade e sobre a sociedade depende da sua diferença e não da sua identidade”. Em nosso texto encontramos uma menina que fez diferença na sociedade em que se encontrava. Era uma jovem que conhecia e temia ao Senhor e estando na Síria como escrava, ainda assim, pode salgar. Tal como o sal, ela deu um novo sabor a vida de Naamã. Assim,quero destacar algumas coisas que são relevantes na vida daquela menina que são relevantes também hoje.

Muitas pessoas acham que o “poder”, o “sucesso” e o “dinheiro” são as coisas mais importantes no mundo. Assim vivemos dias marcados pela disputa, pela competição a qualquer custo, gerando ódio e conflitos que resultam em guerra declarada. Por outro lado, a Bíblia deixa claro que existe uma coisa muitíssimo mais importante: o amor! O amor sempre foi e é a coisa mais importante do mundo! O amor é um conceito eterno, o qual se relaciona com a própria essência de Deus. Deus é amor, afirmou João. O apóstolo quis dizer que a natureza essencial de Deus, o Deus vivo e pessoal, é amor. Deus é a personificação do amor. Como cristãos somos convocados a amar como Ele nos amou.

A jovem de nossa história abrigava em seu coração o amor de Deus. Ela foi capaz de amar o seu senhor, quando poderíamos esperar o ódio. Naamã, o herói de guerra, comandante do exército da Síria, o algoz de Israel. Ele a levou cativa e a fez serva em sua casa. Talvez esperaríamos que houvesse em seu coração o ódio, o desejo de vingança. Ela bem poderia ter negociado com Naamã a sua libertação. Ou simplesmente ter dito que sua doença era castigo de Deus, por destruir o povo de Deus. Mas, não! Ela o amou a ponto de dizer: “Oxalá o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra”. Jesus, no sermão do monte, nos diz: “Ouvistes o que vos foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste...” Isto só é possível a aquele em quem o amor de Deus foi derramado. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”, escreveu João. Não é possível ter o amor de Deus e não ser capaz de amar ao próximo. É impossível ter um amor e não ter o outro. O amor cristão envolve a demonstração daquelas atitudes e ações para com os outros que Cristo demonstrou quando veio ao mundo e viveu entre os homens.

A menina anônima foi capaz de amar seu inimigo. E também foi testemunha do poder de Deus. Testemunhar, como um termo jurídico, consiste em “pessoa que viu e ouviu alguma coisa ou que é chamada a depor sobre o que viu e ouviu”. Aquela menina havia testemunhado os grandes feitos de Deus evidenciados pelo profeta Eliseu e, talvez, ouvido dos feitos do profeta Elias. Nos dias destes profetas, como uma nova etapa da revelação divina, muitos sinais e prodígios foram feitos. Ela sabia que o seu Deus era um Deus poderoso, capaz de mudar a vida de Naamã. Ela enxergou em meio à adversidade uma oportunidade de falar e testemunhar do poder de Deus. Ela não considerou sua posição, pois poderia ter pensado: eu sou uma simples escrava, por certo Naamã não me ouvirá. Mas ela não se calou, testemunhou do Deus de Israel. Quero lembrar-lhes ainda que somente aquele que verdadeiramente conhece a Deus e o Seu poder pode testemunhar. Era uma menina de fé! Seu testemunho levou a Naamã reconhecer que somente o Deus de Israel é Deus. “Eis que agora reconheço que em toda terra não há Deus senão em Israel. Nunca mais oferecerá este teu servo holocausto, nem sacrifícios a outros deuses, senão ao Senhor”.

Podemos também afirmar que aquela pequena seguiu o imperativo de Deus a Abraão: “Sê tu uma bênção”.

Bênção significa abençoar, tornar feliz. Aquela jovem trouxe a alegria a Naamã. Ele era um homem honrado, herói em sua terra e, como a Bíblia diz, “era grande homem diante do seu senhor, e de muito conceito”, contudo era leproso. A lepra era incurável naqueles dias, o que deveria causar-lhe grandes dificuldades, apesar de seu prestígio. E do mesmo modo que a luz dissipa a escuridão, a menina brilhou em meio às trevas. E que trevas. “Trevas de uma situação injusta na qual um povo vizinho, prepotente e cruel, fazia freqüentes incursões no território de sua gente, saqueando e levando presos indefesos cidadãos que, desse modo, se tornavam seus escravos”.

Necessitamos de mulheres, bem como verdadeiros crentes, que possam amar com o amor de Deus. Há uma sociedade que se perde sem conhecer a Deus e Seu amor. Compete a nós demonstrar o amor do Pai através das nossas atitudes. É preciso também testemunhar do poder de Deus. Muitas são as pessoas que estão contaminadas pela lepra do pecado e se deterioram dia após dia. Somente o poder de Deus pode restaurá-las, curá-las. E Deus nos usa para evidenciar o seu poder do mesmo modo que usou aquela menina. Devemos ser ainda bênção ao nosso próximo. È preciso que a nossa presença em meio aos ímpios possa abençoar, trazer a felicidade a estes que se perdem.