O verbo evangelizar no Novo Testamento significa “proclamar boas notícias”, “anunciar boas novas” ou simplesmente “pregar”. A evangelização consiste na pregação do Evangelho, as boas novas. Tanto o Rev. J. Stott como o Rev. J. I. Packer afirmam que a evangelização não pode ser definida em termos de resultado. “Evangelizar, na acepção bíblica do termo, não significa ganhar conversos (como em geral se pensa, quando usamos a palavra), mas simplesmente anunciar as boas novas, independentemente dos resultados”[1]. Contudo, isso “não quer dizer que devamos ser indiferentes quanto a ver ou não os frutos do nosso testemunho em favor de Cristo; se não estiverem aparecendo os frutos devemos buscar a face de Deus para descobrir o motivo”[2]. A evangelização não consiste em somente informar, transmitir as boas novas, mas também a conversão do pecador. O propósito de Paulo na proclamação do Evangelho era salvar pecadores. Em sua 1ª carta aos coríntios (9.22) declarou: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos salvar alguns”. Obviamente que a Bíblia declara peremptoriamente que a conversão é obra do Espírito Santo. O Rev. J. I. Packer observa que curiosamente o termo “conversão” aparece em três passagens bíblicas[3] com a idéia de converter alguém a Deus, porém o sujeito do verbo não é Deus, como esperaríamos que fosse. Isso indica que a conversão de outras pessoas deve ser o objetivo dos cristãos. “Evangelizar, portanto, não é simplesmente uma questão de ensinar, de instruir, de proporcionar informações às mentes dos homens. É muito mais do que isso. Evangelizar inclui o esforço de obter resposta afirmativa à verdade ensinada. É uma comunicação que tem em vista a conversão. É uma questão não meramente de informar, mas igualmente de convidar. É uma tentativa de ganhar, conquistar ou atrair nossos semelhantes para Cristo” [4]. Devemos nos empenhar nesta tarefa tendo como alvo a conversão e salvação de pecadores. Devemos lhes expor o Evangelho de Cristo de forma clara e levá-los a uma decisão.
II. MOTIVAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO.
Já mencionamos que os irmãos do primeiro século demonstravam um ardor pela evangelização. Paulo o demonstra quando, em Mileto, falou aos presbíteros de Éfeso: “... jamais deixando de vos anunciar cousa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé
Primeiramente destaca o sentimento de gratidão. “Estas pessoas (os cristãos) não difundiram sua mensagem porque fosse recomendável fazê-lo, nem porque fosse sua responsabilidade diante da sociedade. Eles não o fizeram, em primeiro lugar, por razões humanitárias ou beneficentes. Fizeram-no por causa da experiência extraordinária do amor de Deus que Jesus Cristo lhes proporcionara” [6]. Paulo afirmou que “o amor de Cristo nos constrange”[7]. Calvino comentando o texto afirma que “o conhecimento do imensurável amor de Cristo, do qual Ele nos deu evidência em Sua morte, deve constranger nossos afetos de modo que não sigam outra direção que não a de amá-lo
O conhecimento que temos do amor de Deus por nós impulsiona-nos a realizar Sua vontade. Em Marcos 16.15 lemos a ordem de Jesus: “ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Estaremos dispostos a superar qualquer obstáculo que nos impeça de pregar o Evangelho, cumprindo a vontade de Jesus? Pedro e João, sim. Quando exortados para que não mais ensinassem sobre Cristo, responderam: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos a vós outros do que a Deus, pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4.19,20; ver também vv.29 e 31).
Se verdadeiramente amamos a Deus, guardamos os Seus mandamentos. Se de fato O amamos, proclamemos em todo parte e a todo homem a vida eterna que há em Jesus.
Em segundo lugar, o sentimento de responsabilidade. “Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar; pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o Evangelho!” (1 Coríntios 9.16). Tais palavras evidenciam o senso de responsabilidade que tinha Paulo para com a evangelização. Jesus contou a parábola do servo obediente aos seus apóstolos, registrada em Lucas 17.7-10. O servo, depois de trabalhar no campo, tem de servir ceia ao seu senhor para depois se servir. Jesus, então, conclui: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”. Somos servos inúteis, a quem nada se deve. Se nos empenharmos na evangelização não faremos nada além daquilo que devíamos fazer. Devemos nos lembrar que chegará o dia em que compareceremos ao tribunal de Cristo, quando nossas obras serão julgadas. Paulo nos lembra que neste dia “não somente trará à plena luz as cousas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus” (!Coríntios 4.5; ver também 3.11-15). Mchael Green afirma que “a idéia da responsabilidade pessoal e de prestar contas a Deus, o juiz soberano, era um estímulo importante à evangelização na igreja primitiva” [11]. Precisamos resgatar este sentimento de responsabilidade ao mesmo tempo em que nos lembramos que teremos que prestar contas a Deus por nossas obras.
Por último, o sentimento de preocupação. Quando observamos o ministério terreno de Jesus é possível ver a compaixão que demonstrava para com os pecadores. Na ocasião da segunda multiplicação dos pães e peixes Jesus disse: “Tenho compaixão desta gente...” (Mateus 15.32). Em outra oportunidade é relatado que Jesus observando as multidões, “compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9.36). A própria encarnação de Jesus é uma demonstração de compaixão para com os pecadores. E essa mesma compaixão é evidenciada na igreja primitiva, pois sabiam que a única esperança para o mundo era Jesus. “A preocupação pelos não evangelizados era uma das grandes forças motivadoras da pregação cristã do evangelho na igreja primitiva”[12]. O desejo de conquistar pecadores, livrando-os das trevas do pecado, deveria ser, e é, o fruto espontâneo de alguém que nasceu de novo. Em nós o amor de Deus foi derramado, assim devemos amar os que se perdem do mesmo modo que fomos amados. Não podemos viver indiferentes diante da terrível realidade, de que o meu vizinho, meu colega de trabalho ou de escola, e muitos dos nossos familiares estão perdidos, longe de Deus e se nós nos calamos eles viverão uma eternidade sem Deus. O segundo grande mandamento é o de amar o nosso próximo como a nós mesmos. E se nós os amamos devemos proclamar-lhes o Evangelho de Cristo, que bem maior poderíamos dar ao nosso próximo senão a salvação? O Rev. J.I. Packer afirmou: “o impulso de evangelizar deve surgir espontaneamente em nossos corações, ao vermos a necessidade que nossos semelhantes têm de Cristo”[13].
Se deixarmos de nos empenhar na evangelização e não proclamarmos a mensagem do Evangelho, seremos responsáveis pelo destino dos que não ouviram. Ezequiel 3.17.19. Paulo sabia disso e por isso aos presbíteros de Éfeso afirmou: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (Atos 20.26).
[1] Stott, J., A Base Bíblica da Evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, ABU, SP, 3ª.
edição, 1989,p. 39.
[2] Packer, J. I., op.cit., p.30.
[3] Lucas 1.16; Tiago 5.19 e Atos 26.18.
[4] Packer, J.I., p.36.
[5] Atos 20.20,21.
[6] Green, M., Evangelização na Igreja Primitiva, Ed. Vida Nova, SP,2ª edição, p.290.
[7] 1 Coríntios 5.14.
[8] Citado por R. B. Kuiper in Evangelização Teocêntrica, PES, SP, 1976, p.81.
[9] 1 João 4.10-12,14,19.
[10] Op.cit., p.55.
[11] Op.cit., p.301.
[12] Green, M., op.cit., p. 302.
[13] Op. Cit., p.53.
Nenhum comentário:
Postar um comentário