sábado, março 27, 2010

CONSELHOS PARA VIVER A VIDA CRISTÃ



Amados, hoje gostaria de dirigir-lhes algumas palavras de estímulo e instrução para a vida cristã. Para isso, tomo emprestado as palavras do apóstolo Paulo, dirigidas à igreja de Corinto. Por certo podemos afirmar que Paulo, entre todos, é o mais proeminente evangelista que a igreja de Cristo conheceu. Gastou toda sua vida na implantação de igrejas cristãs em todo mundo antigo. E além de plantador de igreja, também se mostrou um verdadeiro pastor. Este caráter pastoral é facilmente percebido em suas epístolas. Todas elas foram escritas com o objetivo de orientar irmãos na fé, bem como, corrigi-los de erros doutrinários e morais. Eis os imperativos dirigidos aos coríntios em sua carta (2 Coríntios 13.11):
1) Aperfeiçoai-vos. A orientação dada é para que eles sejam perfeitos, busquem a perfeição. A idéia de perfeição, longe de expressar impecabilidade, pois neste sentido somente Jesus se mostrou sem pecado, significa que eles deveriam ser completos. Isto é, aquilo que criam deveriam se expressar em seus atos. O cristão perfeito é aquele que usa adequadamente todos os recursos que Deus lhe deu para desenvolver a vida cristã.  A Bíblia é muito clara em nos ensinar que aqueles que estão em Cristo, foram feitos nova criatura. Trata-se de um novo homem, gerado por um novo nascimento. Contudo, Deus não somente nos dá uma nova vida como também tudo que nos é necessário para vivenciarmos esta nova vida. Temos em nossas mãos a Palavra de Deus. Ela é “lâmpada para os meus pés” e “luz para os meus caminhos”. Ela é nossa bússola, que nos orienta num viver que agrade a Deus. O salmista nos diz: “Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração; não praticam iniqüidade e andam em seus caminhos. Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca. Tomara sejam firmes os meus passos para que eu observe os teus preceitos. Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos” (Salmo 119.2-6). Além da Palavra temos o Espírito Santo. Ele é o que se coloca ao nosso lado e nos sustenta. É o que nos guia em toda verdade. Paulo afirma que nós não sabemos orar como convém e que o Espírito Santo é quem intercede por nós, com gemidos inexprimíveis.
2) Consolai-vos. O autor aos Hebreus escreveu: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e as boas obras”. A nova vida não será uma vida fácil, pelo contrário, enfrentaremos adversidades, lutas, provações. E para que não desfaleçamos em meio aos reveses da vida, temos a comunhão cristã para nos estimular, encorajar. O sábio nos ensina: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois caindo não haverá quem o levante. Também se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade” (Pv 4.9-12). Por isso devemos preservar a comunhão. E a exortação bíblica é para que não deixemos de congregar, como é costume de alguns. Porém, esta exortação tem muito mais peso sobre a liderança, pastores, presbíteros, diáconos e outros que lideram. Temos que nos tornar exemplos da vida em comunhão, participando, nos envolvendo, lutando juntos para que ninguém se desfaleça.
3) Sede do mesmo parecer. Aos filipenses, onde irmãos não pensavam concordemente, Paulo exortou: “Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma cousa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.2,3). Como cristãos temos a mente de Cristo. Isto implica que temos o mesmo objetivo. Todos nós vivemos para glorificar a Deus. Por isso, “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”     
4) Vivei em paz. Aos Efésios Paulo escreveu: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4.3). Quando observamos esta passagem fica evidente que entre cristãos pode haver atritos. Paulo não recomendaria que os crentes mantivessem a unidade do Espírito, se não existissem dissensões entre eles e recomenda que eles procurem manter a unidade. Sob todas as diferenças entre os primeiros cristãos, está também o fato de uma unidade básica. Paulo não recomenda que eles se esforcem em produzir unidade, mas em conservar aquilo que já existe. “Os homens são incapazes de produzir a unidade, que é essencial para a vida da igreja. Ela só pode ser produzida pelo Espirito de Deus; mas uma vez produzida, é responsabilidade dos cristãos preservá-la”, afirmou Ray Stedman. É extremamente importante que os cristãos parem com as contendas, brigas, os ciúmes, ressentimentos e ódio. Se estas coisas existirem em nosso meio, nos tornaremos totalmente ineficazes em nossa sociedade.

ENSINA-NOS A ORAR

A oração é fundamental para o desenvolvimento espiritual do cristão. R. C. Sproul observou: “A negligência na oração é uma das principais causas da estagnação na vida cristã”. Portanto, se objetivamos crescer devemos nos juntar ao discípulo que pediu: “Senhor, ensina-nos a orar”. Precisamos admitir que, por nós mesmos, não conseguimos orar. Precisamos aprender a orar. Por isso nos valemos da Oração Dominical. Ela é uma oração modelo. “A oração do Senhor se constitui num modelo de oração para toda igreja em todos os tempos; por meio do seu estudo, podemos, mediante a iluminação do Espírito Santo, aprender uma série de princípios e orientações que devem nos guiar na escola da oração”, afirmou o Rev. Herminsten.  Tomás de Aquino corretamente declarou que “tudo o que um cristão precisa saber encontra-se em três fontes: O credo dos apóstolos, que nos diz em que acreditar; os dez mandamentos, que nos dizem o que fazer; e a oração dominical, que nos diz como orar”.  Por certo não existe angústia maior do que querer falar com Deus e não poder fazê-lo. D. Bonhoeffer: “orar não significa simplesmente derramar o coração, mas significa encontrar, com o coração saturado ou vazio, o caminho para junto de Deus, e falar com Ele. Disto, porém, homem algum é capaz. Para poder fazê-lo necessitamos de Jesus Cristo”. Não há dúvidas que precisamos aprender a orar. A Bíblia não é apenas a Palavra de Deus dirigida a nós, mas também a palavra que Ele quer ouvir de nós. Deus nos diz como podemos falar e ter comunhão com Ele. Assim, a presença ou ausência da oração é o elemento chave para desenvolver e manter o nosso relacionamento com Deus. Sim, precisamos clamar ao nosso Mestre que nos ensine a orar! O próprio apóstolo Paulo reconheceu esta necessidade, pois afirmou que “não sabemos orar como convém” (Romanos 8.26).  Concluo com as palavras de certo autor, que desconheço o nome: “O que hoje a igreja necessita não é de mais e melhor maquinismo, de novas organizações ou mais e novos métodos, mas homens a quem o Espírito Santo possa usar – homens de oração, homens poderosos na oração”.


    




sexta-feira, março 12, 2010

ESCOLHENDO UMA IGREJA - Greg Elmquist






Como posso escolher uma igreja?



Visto que temos uma igreja em quase  as esquinas, como uma pessoa pode escolher uma delas para freqüentar? A resposta para esta pergunta será determinada, primeiramente, por nossa razão para freqüentarmos a igreja. Muitos escolhem uma igreja (e neste artigo utilizo a palavra com um sentido bem livre) que oferece os programas mais interessantes e divertidos para sua família. Muitos escolhem uma igreja como se estivessem escolhendo um spa ou um evento esportivo. Outros escolhem uma igreja porque ela está em harmonia com o que eles sempre conheceram: a mesma denominação, estilo de culto e ambiente familiar. Na realidade, esta escolha é semelhante à que fazemos quando decidimos que teremos uma família. Estamos simplesmente apaixonados por aquilo que temos. Alguns escolhem uma igreja que seja próxima do lugar onde moram. Este é um bom motivo para escolhermos uma loja de conveniência, mas não nos associamos a uma igreja por motivo de conveniência. Alguns estão procurando por aquele “sentimento agradável e subjetivo”. Eles não podem censurar alguma coisa específica; podem apenas dizer: “Eu saberei quando estiver sentindo que algo é correto”. Esta pode ser uma boa maneira para decidirmos em favor do sabor de nosso sorvete, mas será que realmente funciona no que se refere a encontrarmos uma igreja? Eles dizem: “Muitos vão ao lugar que eles conhecem e no qual eles sentem-se confortáveis com outra pessoa ou com outras pessoas”. Esse tipo de comunhão cria um ambiente propício a um excelente clube social, mas seria o critério que alguém deveria usar para associar-se com o lugar que tem o objetivo de cuidar de sua alma? Finalmente, alguns escolhem uma igreja porque a pregação carismática do pastor os mantém despertos. Deveríamos ficar admirados se estas palavras do apóstolo Paulo: “A presença pessoal dele é fraca; e a palavra, desprezível”, obtivessem qualquer sucesso no ministério pastoral de nossos dias. A resposta à pergunta “Por que eu devo ir à igreja?” está ligada de maneira inseparável ao que eu percebo ser o propósito da igreja. Se a razão da existência da igreja é servir aos homens, então, as razões que apresentamos acima são válidas. Por outro lado, se a verdadeira igreja existe para servir a Deus e aos seus objetivos, o melhor que temos a fazer é considerar a Palavra dEle e verificar o que nos diz a respeito de sua igreja. O apóstolo Paulo definiu de maneira sucinta a verdadeira igreja, quando ele disse a Timóteo: “A casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15). Não violentaríamos a Palavra de Deus, se parafraseássemos estas palavras do apóstolo nos seguintes termos: “A verdadeira igreja é o lugar onde o verdadeiro Deus se encontra com aqueles que Ele chamou, os quais sustentam e defendem com firmeza a pessoa e a obra de Cristo Jesus, o Senhor”.
Existe somente uma pergunta a fazer para determinarmos se a igreja que freqüentamos é a igreja certa. Ali, o Cristo das Escrituras está sendo completamente pregado, honrado e seguido? Muitos homens mentem a respeito do Senhor Jesus, por falarem coisas falsas sobre Ele. Outros mentem sobre Ele, por não dizerem a verdade a respeito dEle. Se Cristo está sendo plenamente anunciado, o conteúdo da mensagem será preferido à maneira de ser apresentada; haverá agradável e estimulante comunhão com Ele; e o regozijo será incomparável a todos os entretenimentos. E a consistência das Escrituras será muito superior à das minhas experiências passadas; e nenhuma distância ou barreira se tornará um obstáculo imenso. Para obter a resposta certa, você precisa fazer a pergunta correta. Escolha cuidadosamente!

segunda-feira, março 08, 2010

PECADO E DESÂNIMO

Assistimos atônitos nestes últimos meses cenas de pessoas que perderam tudo nas constantes chuvas e inundações em diversas regiões do nosso país ou no terremoto do Haiti.  Pessoas que certamente se exauriram diante das calamidades e, sem dúvida, foram tomadas por um total desânimo.  Você é capaz de lembrar-se de um momento em que o desânimo tomou conta de sua vida? Talvez tenha enfrentado ou enfrente uma situação cuja impressão é de que lhe falta ou faltou o chão e que você perdeu todas as esperanças. A morte de um familiar, a notícia de uma enfermidade incurável, a perda de um emprego, o fracasso no casamento, um(a) filho(a) envolvido nas drogas; todos estes fatores podem desencadear momentos aflitivos e terríveis em nosso viver. Em Juízes 6.6 lemos: “Israel ficou muito debilitado com a presença dos midianitas”. A verdade é que não só os midianitas, mas também os amalequitas e os povos do oriente vinham sobre Israel e na expressão bíblica “vinham como gafanhotos”, isto é, saqueavam tudo e não deixavam nada, a ponto do povo de Deus ser obrigado a se refugiar em cavernas. Os israelitas experimentaram fome, pobreza, insegurança e medo durante sete anos, não é a toa que eles se desanimaram e se exauriram. Creio que a Palavra de Deus pode trazer luz em meio às trevas, pode nos ajudar a enfrentarmos os dias cinzentos da nossa vida. Ela nos diz que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. Paulo nos diz aqui que tudo foi escrito para a nossa instrução. Toda a Bíblia foi preservada com o propósito de nos dar esperança! Charles Swindoll escreveu que “Deus não planejou uma vida cheia de desânimo para nós. Ele quer que seu povo tenha esperança... Mediante perseverança e encorajamento proveniente das Escrituras, podemos obter esperança”. Deus nos oferece instrução em Sua Palavra e nós precisamos aceitá-la e aplicá-la em nossa vida!
A opressão midianita se deu nos dias dos Juízes, um período posterior a morte de Josué e que marca a transição para a monarquia. O último versículo do livro resume bem o contexto histórico: “Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo”.  A última expressão do versículo explica à primeira. Não havia quem ditasse as normas e cada um fazia o que bem parecia aos seus próprios olhos. Isto explica a frase inicial em Juízes 6.6: “Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor”.  Na verdade o povo havia desobedecido ao Senhor que havia dito que não deveriam permitir a presença de outros povos no meio da nação. Eles desobedeceram a Deus e agora influenciados por estes povos não seguiam a Deus.  Em Provérbios 3 lemos:

Meu filho, não se esqueça da minha lei, mas guarde no coração os meus mandamentos, pois eles           prolongarão a sua vida por muitos anos e lhe darão prosperidade e paz (...) Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento (...) Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema o SENHOR e evite o mal”.

É possível que tenhamos desprezado o Senhor e Sua Palavra, nos deixamos levar por falsos amigos, tal qual o filho pródigo e, inevitavelmente, colhemos os frutos que plantamos do mesmo modo que a nação sofria por não ter ouvido a voz do Senhor. E assim caímos e pensamos que é o fim. Quando sofremos as conseqüências de nossa irresponsabilidade somos levados a um estado de debilidade indescritível e achamos não haver mais jeito.  Mas quero lembrar que é possível mudar isto.  Se você está desanimado por causa de sua desobediência ao Senhor a primeira atitude é reconhecer o erro. Creio que é doloroso, mas é necessário que haja total honestidade. “Reconhecer nosso erro é marca de excelência”.  Devemos admitir francamente que fracassamos que pisamos na bola.  Se não estamos andando de acordo com a instrução do Senhor, Deus nos diz: Você me desobedeceu. Quando reconhecemos nossa situação diante de Deus, Ele não nos rejeita. Deus tem compaixão por nós e está pronto a nos perdoar!

O VALOR TERAPÊUTICO DAS ESCRITURAS - Rev. Elben M. Lenz César

A Lei do Senhor é perfeita e revigora a alma
Salmo 19.7

A Lei do Senhor era lida pelos adultos e ensinada às crianças. Era objeto de conversa todo o dia, enquanto assentado em casa, enquanto andando pelo caminho, enquanto se preparando para dormir e para acordar. Era amarrada aos braços, presa na testa e escrita nos batentes das portas (Dt 6.6-9). Feliz, muito feliz era aquele que meditava na Lei do Senhor dia e noite (Sl 1.1,2).
Para o experiente salmista, “a Lei do Senhor é perfeita” , “os testemunhos do Senhor são dignos de confiança”, “os preceitos do Senhor são justos”, “os mandamentos do Senhor são límpidos” e as ordenanças do Senhor são verdadeiras” (Sl 19.7-11). Mas o poeta de Israel não fica apenas na admiração e na contemplação. Ele enumera também o valor terapêutico da Palavra de Deus. A cada palavra elogiosa, menciona uma virtude dos oráculos divinos. Além de perfeita, a Lei do Senhor “revigora a alma”. Além de serem dignos de confiança os testemunhos do Senhor “tornam sábios os inexperientes”. Além de justos, os preceitos do Senhor “dão alegria ao coração”. O salmista não hesita em afirmar que “os mandamentos do Senhor são límpidos e trazem luz aos olhos” (Sl 19.7-9).
Não se lê a Bíblia apenas para se tomar conhecimento da verdade. A verdade sozinha torna-se lei, torna-se um peso, torna-se cansativa e pode até mesmo gerar a tal soberba da verdade, a soberba teológica. A Palavra de Deus é leite para acabar com a fome, é alimento para fazer crescer, é lenha para atear fogo do entusiasmo, é combustível para pôr em movimento os bons propósitos do coração. A Escritura existe “para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.17). 

A IGREJA E A EVANGELIZAÇÃO - JOHN STOTT



A evangelização pode assumir diferentes formas. Desde que Jesus ofereceu a água da vida à mulher samaritana no poço de Jacó, e desde que Filipe assentou-se ao lado do etíope em sua carruagem para anunciar-lhe as boas novas de Jesus, o evangelismo pessoal tem tido impecáveis prece­dentes bíblicos. Ainda é nosso dever, sempre que surge uma oportunidade e em espírito de humildade, compartilhar Cristo com aqueles parentes, amigos, vizinhos e colegas que ainda não o conhecem. Não obstante, pode-se dizer que a evangelização através da igreja local é o método mais normal, natural e produtivo de se divulgar o evangelho hoje. Há duas razões principais para recomendá-lo. A primeira delas encontra-se na Escritura. Segundo o apóstolo Pedro, a igreja é, ao mesmo tempo, "um sacerdócio real", destinado a oferecer sacrifícios a Deus (ou seja, a adoração), e "uma nação santa", que divulga os louvores de Deus (ou seja, o testemunho). Além disso, estas res­ponsabilidades da igreja universal se desenvolvem em cada igreja local. Toda congregação cristã é chamada por Deus para ser uma comunidade que adora e testifica. Com efeito, cada um desses dois deveres envolve necessariamente o outro. Se nós adoramos verdadeiramente a Deus, reconhe­cendo e adorando o seu infinito valor, somos igualmente impelidos a torná-lo conhecido de outros, a fim de que eles também possam adorá-lo. Assim, a adoração conduz ao testemunho, e o testemunho, por sua vez, produz adoração, em um círculo vicioso. Os tessalonicenses deram um belo exemplo de evange­lização através da igreja local. Bem no comecinho de sua primeira carta para eles Paulo aponta para esta notável sequência: "... o nosso evangelho ... chegou até vós ... Tendo recebido a palavra ... de vós repercutiu a palavra do Se­nhor". É como se a igreja local fosse um eco que reflete e amplifica as vibrações que recebe, ou como um satélite de comunicação, que primeiro recebe e depois transmite uma mensagem. Toda igreja que já ouviu o evangelho deve passá-lo adiante. Este continua sendo o principal método evangelístico de Deus. Se todas as igrejas tivessem sido fiéis, o mundo já teria sido evangelizado há muito tempo. O segundo argumento parte da estratégia. Cada igreja local está situada em um contexto específico. Sua primeira responsabilidade missionária, portanto, deve ser para com as pessoas que vivem ali. A congregação é situada estra­tegicamente a fim de atingir aquele bairro.  Assim, teologia bíblica e estratégia prática combinam-se para fazer da igreja local o agente primordial da evangelização.

A MENSAGEM DE ISAÍAS

Todo o conteúdo do livro de Isaías é fruto de uma visão. Isto é, Isaías nos informa que é um profeta e que a mensagem não foi criada, inventada por ele, mas, sim, é a Palavra que o Senhor lhe falou. Surge, então, a questão: O que o Senhor falou? Qual a mensagem proclamada da parte do Senhor?  Creio que a mensagem é uma só em todo o livro. Apesar de ser um livro extenso com 66 capítulos há uma única mensagem permeando todo livro.  “Isaías escreveu para explicar a causa dos problemas e o único caminho de saída” [1]. O povo de Deus achava-se em dificuldades por não ouvir a voz do Senhor, por ser indiferente a proclamação profética. Deus afirma que as coisas piorariam se continuassem assim e seriam levados cativos, mas, em Sua infinita misericórdia, haveria de salvá-los. 
A mensagem proclamada pelo profeta inicia-se com a convicção de pecados. “Deus nos coloca frente a verdades que são demasiadamente desagradáveis para nos salvar” [2].  Era preciso fazer com que o povo de Deus se conscientizasse que a razão da sua condição atual era o seu próprio pecado. Há um ensino significativo aqui para a igreja em nossos dias em sua tarefa evangelística. É preciso fazer com que os homens e mulheres se conscientizem de seus próprios pecados para lhes apresentar as boas novas em Cristo Jesus. Lloyd-Jones afirmou que “as pessoas não acreditarão no Evangelho enquanto não perceberem que precisam dele” [3]. A nação deveria ser levada a entender sua necessidade. Assim o povo é descrito primeiramente como um filho rebelde. Deus falou e os céus e a terra são testemunhas de Sua queixa. A queixa de Deus é a de um pai que criou seus filhos com todo empenho e eles se rebelaram contra Ele. “Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se revoltaram contra mim”.  Essa é a essência do pecado. “Pecado não é primeiramente uma questão de ações ou de atos. A coisa realmente séria com respeito ao pecado é que ele indica uma atitude errada para com Deus. É isso que faz das pessoas pecadoras...” [4].
O povo de Deus também é descrito com um filho insensato.  Insensato significa tolo, néscio. “O boi reconhece o seu dono, e o jumento conhece a manjedoura do seu proprietário, mas Israel nada sabe, o meu povo nada compreende”.  O verbo compreender tem a idéia de “sabedoria prática”, sensatez. O povo não está usando de bom senso em sua maneira de viver. E assim a nação de Deus é pior do que o boi e o jumento. Observem o que afirma o Dr. Lloyd-Jones:

Por que vocês acham que Isaías escolheu o boi e o jumento? A resposta óbvia é que, de todos os animais, eles são os mais estúpidos. De entre todas as criaturas do universo eles são os mais obstinados e difíceis de se tratar.  Por isso Isaías tomou o boi e o jumento para estabelecer este ponto. Até o boi e o jumento conhecem seu dono e a manjedoura de seu dono. Apesar de obtusos e estúpidos, como eles são, eles têm instinto que faz com que reconheçam seu dono. É muito difícil conduzir um boi; um jumento por vezes parece ser irremovível. Vocês podem puxar, empurrar e bater num jumento e ele não se move, mas, quando está com fome e vê seu dono chegar com uma vasilha, ele se apressa imediatamente ao seu encontro! O boi e o jumento obedecem a seu instinto; eles querem a comida e observam a pessoa que traz a mesma. Eles parecem ser tão obtusos, estúpidos e desatentos, incapazes de reagir a qualquer tipo de persuasão, porém quando se trata de comida e sustento, eles imediatamente obedecem à lei de seu ser e se apressam a consegui-lo. Mas homens e mulheres não fazem assim! Eles são mais tolos que um boi ou um jumento! [5]

Esta insensatez é observada pelo fato do povo não e importar com o que Deus lhes diz através de seus profetas. Acham quem são capazes de viverem por si só, sem a direção de Deus. Não foi este o problema dos nossos primeiros pais? Ao comerem do fruto proibido, dando ouvidos à serpente, não se rebelaram contra Deus como se julgaram capazes de dirigir seus próprios destinos sem a orientação de Deus.
O povo de Deus é descrito como um filho enfermiço. A nação está doente, enferma. “Da sola do pé ao alto da cabeça não há nada são; somente machucados, vergões e ferimentos abertos, que não foram limpos nem enfaixados nem tratados com azeite”. E a causa destas chagas é o pecado, a iniqüidade.
Esta é a descrição da nação de Deus nos dias de Isaías. É também a descrição do homem diante de Deus: rebelde, insensato e doente. E nesta condição somos incapazes de fazer algo em nosso favor. O profeta Isaías quer conduzir tanto os seus primeiros leitores como nós hoje a colocar toda a nossa esperança na obra da redenção divina. O caminho para alcançar a redenção é o caminho da convicção de pecados e do arrependimento. O que é redenção? Compreender seu significado é compreender como Deus nos salva.  Redenção traz a idéia de pagamento, de resgate. A Bíblia nos diz que o homem tornou-se escravo do pecado. O pecado é o nosso senhor. Só nos livramos deste senhorio mediante o pagamento, o resgate. Deus pagou o preço do nosso resgate na cruz de Cristo (Tito 2.13,14). Em Cristo somos libertados, somos livres. O caminho que nos leva a redenção é o do arrependimento. Se não optarmos pelo arrependimento seremos consumidos. Se nos arrependermos seremos salvos.




[1] O Caminho de Deus, não o nosso, p. 9.
[2] Ortlund Jr, R. C. Isaías: Deus Salva Pecadores, p. 30.
[3] Op. cit., p.29.
[4] Lloyd-Jones, D. M., Op. cit., p.31.
[5] Op. cit., pp. 37-38.