As parábolas contadas por Jesus em
Lucas 15 têm o mesmo pano de fundo histórico. Jesus era criticado pelos
fariseus e pelos escribas por receber e comer com publicanos e pecadores e em
resposta a estas críticas Jesus contou-lhes estas parábolas. Warren Wiersbe
afirma que “Jesus usou essas parábolas
para refutar as acusações de escribas e fariseus escandalizados com seu
comportamento. Já era problemático Jesus receber de braços abertos esses
marginalizados e ensiná-los, mas chegava ao cúmulo de comer com eles! Os
líderes religiosos judeus não haviam entendido que o "Filho do Homem veio
buscar e salvar o perdido" (Lc 19:10). Mais do que isso, não conseguiam
enxergar que eles próprios estavam entre os perdidos”. Devemos lembrar que
no contexto do Oriente Médio há um profundo significado cultural da comunhão à
mesa. J. Jeremias nos lembra que “convidar
um homem para uma refeição é uma honra. É uma oferta de paz, confiança,
fraternidade e perdão, em suma, compartilhar de uma mesa significa compartilhar
da vida... Desta forma, as refeições de Jesus com os publicanos e pecadores...
são expressões da missão e da mensagem de Jesus”. Nos evangelhos aprendemos
que “os sãos não precisam de médico, e sim os doentes”; Jesus veio chamar
pecadores e não os justos (Marcos 2.17). Uma das verdades bíblicas mais
confortadoras é a Doutrina da Graça. Ela nos ensina que nenhum homem tem o
poder de buscar a Deus; Deus tem que buscá-lo primeiro. Foi o próprio Jesus que
disse: “Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou não o trouxer” (João
6.44). O homem encontra-se morto em seus delitos e pecados, incapaz de crer na
Palavra de Deus. Mas o Espírito Santo o vivifica, regenera, fazendo-o
contemplar a graça que provém de Deus, através dos méritos de Cristo, pela
justiça que Ele proveu na cruz. E assim o homem pecador pode ser declarado
filho de Deus. Sem dúvida nenhuma esta é uma verdade que nos enche de alegria,
onde o nosso coração arde de gratidão por esta dádiva divina. A parábola da
ovelha perdida é usada por Jesus para nos ensinar esta verdade. Ela fala—nos do
criador de ovinos que perdeu uma de suas ovelhas para ilustrar a graça de Deus
que é dispensada ao homem pecador e que se afastou de Deus. É interessante
Jesus comparar o homem a uma ovelha. Há duas possibilidades de uma ovelha se
perder do rebanho. A primeira é que, devido a sua curta visão, ao afastar-se do
rebanho, torna-se difícil o agregar novamente. A outra razão é por não se
contentar com a pastagem onde o rebanho se encontra e sai a procura de outros
pastos. Jesus quer salientar o quão fácil é ao homem afastar-se de Deus! Por
qualquer descuido ou distração nos afastamos de Deus. Naturalmente temos a
tendência de nos distanciar de Deus. Mas o Evangelho de Jesus é o Evangelho da
graça! Nesta história vemos a graça de Deus, de forma clara e objetiva,
manifestando o amor de Deus na busca do homem pecador. Jesus nos ensina nesta
parábola sobre A ALEGRIA DA NOSSA
SALVAÇÃO. Devemos nos alegrar porque a nossa salvação é fruto do amor
gracioso de Deus, é evidenciada pelo arrependimento e, por último, tem como
resultado a comunhão com Deus e seu povo.
1)
A ALEGRIA DA NOSSA SALVAÇÃO É FRUTO DO AMOR GRACIOSO DEUS - De uma
maneira muito clara e objetiva Jesus destaca que o amor gracioso de Deus por
homens pecadores. Sua parábola começa dizendo: “Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma
delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu,
até encontrá-la?”. O amor de Deus
não é um sentimento estático e nem mesmo um sentimento abstrato. Jesus mesmo
declarou: “O meu mandamento é este: que vos amei uns aos outros, assim como eu
vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13).
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna”. O amor de Deus é dinâmico, porque Deus é quem procura
e providencia a salvação para o homem perdido. Certo pastor acertadamente
afirma que “o amor de Deus não é
estático, mas dinâmico, no sentido de que Deus é quem procura e providencia a
salvação para o homem perdido, considerando-o justificado mediante os méritos
graciosos e suficientes de Jesus Cristo”.
2)
A ALEGRIA DA NOSSA SALVAÇÃO É EVIDENCIADA PELO ARREPENDIMENTO. Na parábola da ovelha perdida observamos que a
ovelha nada fez para ser achada, a não ser o fato de se perder. Simon
Kistemaker lembra-nos que “as ovelhas são animais gregários; vivem
juntas em grupo. Quando uma ovelha se separa do rebanho, fica desnorteada.
Deita no chão, imóvel, esperando pelo pastor”. Na parábola o pastor
encontra a ovelha. E depois, na conclusão, Jesus nos fala sobre a alegria de um
pecador que se arrepende. F.F. Bruce
obsersa que “na comparação entre a
alegria do pastor e a alegria no céu por um pecador que se arrepende,
precisamos observar que o destaque está na alegria, e não no arrependimento,
pois a ovelha, evidentemente, não experimentou um arrependimento consciente.
Nem a ovelha nem a moeda podem se arrepender; isso talvez sugira que o
arrependimento do pecador seja uma dádiva de Deus, resultado de ter sido
achado, e não a condição para ser achado”. Com isso podemos afirmar que o
arrependimento não é uma condição prévia para se alcançar o favor de Deus. Para
os fariseus o arrependimento era uma maneira de entrar no reino de Deus, mas o
ensino de Jesus nos mostra que o arrependimento é uma resposta ao reino que
chegou. Assim o arrependimento é uma obra pela qual o homem justificado se
mostra justo. Arrependimento significa “passar
por uma mudança de mente e sentimentos”, “fazer uma mudança de princípios e
práticas”. Essa mudança profunda e radical ocorre quando, pela graça de
Deus, compreendemos o amor gracioso de Deus por nós pecadores. O fato de termos
recebido uma nova vida pelo favor de Deus, leva-nos a demonstrar gratidão a
esse Deus que nos ama, adequando nossas vidas ao ensino, a ética e aos valores do
Reino de Deus. Nossa salvação é evidenciada pelo arrependimento, por um viver
santo que honre e glorifique o Deus que nos salvou.
3)
A ALEGRIA DA NOSSA SALVAÇÃO RESULTA EM COMUNHÃO COM
DEUS E SEU POVO. Deus não só salva o homem pecador,
mas também o restaura: “Achando-a, põe-na
sobre os ombros, cheio de júbilo” (v. 5).
A ovelha precisa ser achada e depois precisa ser levada de volta ao
aprisco, ao convívio das outras ovelhas. No versículo 6 lemos: “E,
indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo,
porque já achei a minha ovelha perdida”. Aqui encontramos um convite para participarmos da alegria com a conversão
dos pecadores, uma alegria que se expressa comunitariamente. Certo pastor
contemporânea declarou: “Jesus está nos
ensinando aqui que a alegria, em primeira instância, deve ser expressa e
compartilhada em comunidade, na igreja. Isso implica na recepção do homem
pecador no seio da igreja e no cuidado que esta deve prestar a este homem... Os
novos discípulos devem ser integrados na vida da igreja”.
Somos salvos e restaurados no Corpo
de Cristo, a família de Deus. É na comunhão cristã que encontramos o ambiente
propício para desenvolvermos a nossa salvação, crescermos em santidade,
servindo a Cristo com os nossos dons.
Warren Wiersbe declarou que “quando um pecador se entrega ao Salvador,
sua alegria é quadruplicada. Apesar de a história não dizer coisa alguma a
respeito de como a ovelha se sentiu, certamente o coração da pessoa encontrada
enche-se de alegria. Tanto as Escrituras (At 3:8; 8:39) quanto nossa
experiência pessoal comprovam a alegria da salvação”.
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