O ímpeto de ver a igreja crescer tem levado muitos
a buscar recursos que estão além das Escrituras, fundamentados numa visão
pragmática. Estar envolvido com a revitalização da igreja, promovendo uma
igreja saudável e que cresce nos traz a necessidade de buscar os princípios
expostos na Palavra de Deus para cumprir este ministério de modo eficaz, que glorifique
a de Deus e produza a expansão do Reino de Deus. Nosso objetivo é enumerar princípios
bíblicos de revitalização da igreja a partir da carta de Paulo ao colossenses.
Paulo escreveu aos colossenses, os quais que
eram fortes na fé e no amor (Cl 1:4), mas estavam sendo envenenados com um
falso ensino. Paulo não definiu em detalhes a heresia em Colossos, nem gastou
tempo nomeando e denunciando seus líderes, mas deixou claro que esta heresia
reunia elementos da filosofia, do judaísmo, do misticismo e ascetismo, conforme
lemos em Cl 2.16,17-21. Seu objetivo do apóstolo era combater o falso ensino
que ameaçava aquela igreja e instruir os irmãos, ressaltando a supremacia de Cristo contra os ataques daquela
heresia. A preocupação do apóstolo é de reafirmar doutrinas bíblicas que
possam produzir a vitalidade da igreja. No capítulo 1 Paulo ora incessantemente
para que eles fossem transbordados do pleno conhecimento da vontade de Deus a
fim de que vivessem de modo digno do Senhor. O conhecimento da vontade de Deus
nos leva a uma conduta correta. Não há prática cristã sem o conhecimento da
doutrina. Isto está claro no texto. Em 1.27, o verbo “viver” está no infinitivo
e introduz uma afirmativa de resultado esperado. Viver vidas dignas do Senhor é
resultado prático daqueles que estão cheios do pleno conhecimento da sua
vontade. No capítulo 2 ensina-nos que o cristão é alguém que se entregou a
Cristo e, consequentemente, vive sob Seu senhorio. “Andai Nele” é a exortação
paulina. O cristão deve buscar as coisas que são do alto (3:1-4); mortificar os
feitos da carne (3.5-12) e desenvolver uma vida de santidade (3.12-17) e; por
último, perseverar em oração (Cl 4.2). O conceito de revitalização é definido
pelo Rev. Valdeci Santos como “uma
palavra que abriga em si a esperança da renovação do vigor, da restauração da
saúde e crescimento já experimentados, do redirecionamento do propósito
original e bíblico da igreja, bem como da reafirmação das doutrinas e valores
bíblicos” [1].
A partir desta definição podemos afirmar que Paulo estava empenhado em
revitalizar a igreja de Colossos, pois a “revitalização
é o esforço de restaurar o propósito, paixão, pureza e prioridades corretas à
vida e ministério da congregação local”[2].
Percebemos, então, que o ministério da palavra é fundamental na revitalização
da igreja. A fidelidade aos valores e princípios bíblicos deve nortear a nossa
tarefa de revitalização. Tanto uma igreja que está sofrendo ameaças de um falso
ensino como uma igreja que já se contaminou com um falso evangelho necessitam
ser ensinadas na verdade. Isto nos leva ao primeiro princípio de revitalização: a fiel
pregação do Evangelho. No capítulo 1, versículo 5, lemos: “pela
palavra da verdade do evangelho que ouvistes”. A igreja de Colossos havia sido
estabelecida pela proclamação do evangelho autêntico. Vivemos num mundo que
está morrendo, num mundo marcado pela corrupção. J. MacArthur declara que a
morte reina neste mundo. O mundo não é nada mais do que um imenso cemitério com
todos caminhando para o fim. Em contraste com esta realidade a Bíblia afirma
que ela, a Palavra de Deus, é viva (1 Pedro 1.23; Hebreus 4.12). A Bíblia é
inesgotável, inextinguível e geradora de vida. O sistema mortal do mundo não
pode atingi-la, não consegue anular sua validez, deteriorar sua realidade ou
demolir sua verdade. É através da proclamação do evangelho bíblico, apostólico
e autêntico que transformamos vidas e revitalizamos igrejas. Nossa preocupação
deve ser com a saúde da igreja, pois “se uma igreja tem saúde, ela cresce”[3].
A compreensão deste primeiro princípio nos leva a outro aspecto essencial na
revitalização da igreja: a multiplicação da liderança. Reeder
III observa que “os líderes exercem tal
impacto sobre as pessoas que uma igreja não pode ser revitalizada sem bons
líderes. Porém, infelizmente, há uma escassez de bons líderes em nossos dias” [4].
Paulo não só se preocupou em propagar o Evangelho de Cristo em lugares
estratégicos, mas também se ocupou em preparar homens fiéis que pudessem
transmitir a verdade de Cristo. Escrevendo a Timóteo o apóstolo instruiu seu
discípulo a seguir seus passos ao afirmar que ele, Timóteo, deveria capacitar a
homens fiéis e idôneos a instruir outros (2 Tm 2:2). Paulo, durante o período
em que esteve em Éfeso, ensinou na escola de Tirano, capacitando homens a
exercerem o ministério. O instituto Bíblico de Éfeso, fundado e dirigido por
Paulo nas dependências da escola de Tirano (Atos 19.9), desempenhou um
importante papel na preparação de obreiros, tais como Epafras e Arquipo. Estes,
evidentemente, eram os líderes da igreja de Colossos (Cl 4:17)”, conforme
observa o Rev. Russel Shedd[5].
O princípio da multiplicação da liderança é fundamental na revitalização e multiplicação
da igreja. Paulo instruiu a Epafras, o qual difundiu o Evangelho no interior da
Ásia. Um terceiro princípio da
revitalização da igreja é o desenvolvimento de uma evangelização contínua e
abundante. Paulo nos orienta nesta questão ao nos dizer que devemos
permanecer naquilo que aprendemos e que devemos pregar a Palavra de Cristo (2
Timóteo 3:14; 4:2). Na Igreja
primitiva havia um ardor pela evangelização. E este mesmo desejo intenso deve
existir na igreja hoje. Com isso não quero desconsiderar a doutrina, a oração e
a comunhão que devem existir na Igreja. Fomos chamados para ser Igreja e ao
mesmo tempo proclamar as boas novas; as duas coisas são absolutamente
indissociáveis a fim de que manifestemos a glória de Deus. Observamos também que na Igreja primitiva,
cada cristão era um missionário: “Entrementes,
os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra” (Atos 8:4).
A evangelização é a vocação de todos os cristãos; todos são chamados a
testemunhar. O triunfo da Igreja primitiva estava no fato de que cada crente
era uma testemunha obediente de Jesus. É possível destacar dois aspectos.
Primeiro o da proclamação, da pregação do Evangelho. E o segundo, a instrução,
a orientação. Epafras havia se empenhado em discipular os colossenses
convertidos (Cl 1.7). A evangelização e discipulado caminham juntos. Creio que
o discipulado é a melhor maneira de realizarmos a obra da evangelização. Foi
por meio do discipulado que Jesus realizou o Seu ministério terreno. Ele
convocou doze homens para estarem com Ele e os treinou, através do Seu exemplo,
a desfrutarem da comunhão com Deus. O apóstolo Pedro escreveu que o Senhor nos
guia por seu exemplo (1 Pedro 2.21). Devemos seguir os seus passos em todos os
aspectos da vida, inclusive na maneira de testemunhar. A tarefa da igreja é
“fazer discípulos” e não somente evangelizar. A missão da igreja não é
simplesmente conseguir conversões, mas completar o processo da vida cristã
fazendo discípulos. Na grande comissão (Mateus 28.18-20) encontramos outros
dois verbos que nos auxiliam na compreensão desta tarefa: batizar e ensinar. E
como nos diz Hendriksen, “batizar” e “ensinar” são simplesmente duas
atividades, coordenadas uma à outra, mas ambas subordinadas a “façam
discípulos”. Com isso o discipulado envolve a integração do novo convertido à
igreja (batizar) e a instrução necessária para que ocorra o seu crescimento
espiritual. Wiersbe ensina-nos que o termo "discípulos" era o nome
mais comum para os cristãos primitivos. Ser um discípulo significa mais do que
ser um convertido ou um membro da igreja... Um discípulo apega-se a seu mestre,
identifica-se com ele, aprende e vive com ele. Aprende não apenas ouvindo, mas
também praticando. Na maioria das igrejas, a congregação paga o pastor para
pregar, ganhar o perdido e ajudar o salvo, enquanto os membros da igreja atuam
apenas como torcedores (se estiverem animados), ou então, como meros
espectadores. Os "convertidos" são ganhos, batizados e aceitos como
membros, para depois se juntarem aos espectadores. Nossas igrejas cresceriam
muito mais rapidamente, e os cristãos seriam muito mais fortes e felizes, se
discipulassem uns aos outros. A única forma de uma igreja local "crescer e
se multiplicar" (em vez de crescer por "acréscimo") é por meio
de um programa sistemático de discipulado. Trata-se de uma responsabilidade de
todo cristão, não apenas de um pequeno grupo "chamado para ir".
Discipulado e evangelização são a mesma coisa.
Deus não só delegou à igreja a tarefa de proclamação do Evangelho através do
discipulado, como a dotou de poder na realização desta tarefa: “Mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto
em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (Atos
1.8). Outro princípio no processo de
multiplicação de igrejas é a prática da oração. A tarefa evangelística deve ser realizada na
dependência de Deus, pois, ainda que a salvação seja uma obra sobrenatural,
Deus se utiliza de homens para proclamar esta salvação e converter pecadores. Evangelização
e a oração caminham juntas. Para o apóstolo Paulo a oração, na evangelização,
não consistia em rogar a Deus para que determinada pessoa fosse alcançada pela
graça, como é comum fazermos em nossos dias. Consistia, sim, em ser ela um
instrumento nas mãos de Deus para que vidas fossem salvas. Em primeiro lugar,
através da oração, buscava uma oportunidade para pregar: Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta
à palavra (Colossenses 4.3). A oração é a chave que abre a porta para
divulgar o mistério de Cristo. Em segundo lugar, através da oração buscava
intrepidez: Vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos e também por mim, para que me seja
dado, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez, fazer conhecido o
mistério do evangelho (Efésios 6.18,19). Uma vez que Deus nos abre a porta,
nos é necessário ousadia, intrepidez, coragem para anunciarmos a Cristo. Em
terceiro lugar, através da oração buscava a palavra. Deus pode nos dar
oportunidades, abrindo portas, e intrepidez para falarmos de Jesus, mas se Ele
não colocar a palavra em nossa boca a nossa obra será inútil. Devemos
aproveitar as oportunidades, como exortou aos colossenses, mas acrescentou: a vossa palavra seja sempre agradável,
temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um
(Colossenses 4.6). Deveriam fazer uso da palavra com graça, ou seja, numa
linguagem atraente, que provoque nos incrédulos uma reação favorável. Assim fez
Jesus, maravilhando pessoas com palavras de graça que lhe saíam da boca (Lucas
4.22). Portanto, devemos orar em favor da evangelização do nosso país, rogando
ao Senhor que nos dê oportunidades, abrindo portas, intrepidez e,
principalmente, a palavra para que o mistério de Cristo se torne conhecido e
todos os eleitos de Deus sejam salvos. A partir das instruções de Paulo, na
carta à igreja de Colossos, podemos enumerar princípios para a revitalização da
igreja hoje. A fiel pregação do Evangelho, a multiplicação da liderança, a
evangelização contínua e abundante e a prática da oração são os fundamentos de
uma igreja saudável e que cresce. Que o Senhor nos ajude a vivenciar tais
valores.
[1]
SANTOS, Valdeci. Revitalização de igrejas: uma reflexão teologicamente
orientada. Fides Reformata, São Paulo,
v. 16, n. 1,
2011, p.12.
[2] SANTOS, Valdeci. Op. Cit., p.24.
[3] REEDER III, H. L. A Revitalização da
sua igreja segundo Deus. São Paulo, Cultura Cristã, 1ª ed., 2011, p. 38.
[5] SHEDD, Russell. Op. Cit,, p.8.
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