segunda-feira, setembro 20, 2021

Neemias 3 - UM GRANDE DESAFIO

Ler e estudar o livro de Neemias tem sido maravilhoso. Há lições riquíssimas para a nossa vida, as quais nos ajudam não só no nosso relacionamento com Deus como também no desenvolvimento da vida cristã e do nosso ministério. No capítulo 1 vimos que Neemias foi alguém que se importou o suficiente com a situação dos que permanecerem em Jerusalém, intercedendo por eles e se dispondo a ajudá-los. No capítulo 2 Neemias revela-se como um homem de fé, que caminha crendo e confiando nas promessas de Deus, o qual com oração, paciência e planejamento se dispôs a realizar a vontade de Deus. Hoje quero convidá-los a apreender sobre Neemias a partir do capítulo 3. 

Este é um grande desafio, pois muitos comentaristas têm deixado de lado este capítulo, uma vez que há uma longa lista de nomes e são tentados a continuar a história a partir do capítulo 4. Contudo, como nos lembra Cyril Barber, este capítulo é um dos mais importantes do livro todo! Também não nos esqueçamos que “toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17). Quero, num primeiro momento, descrever o que está acontecendo no capítulo 3 e depois extrair lições que se aplicam em nossas vidas. Que o Senhor nos ajude nesta tarefa e fale a cada um de nós, edificando-nos em Sua Palavra. 

No capítulo anterior vimos que Neemias, ao chegar em Jerusalém, a primeira coisa que fez foi avaliar, analisar a real situação e a identificar o que era preciso fazer e como fazer. Depois disso, ele faz um apelo ao povo em Jerusalém, concentrando-se na glória e na grandeza do Senhor e no fato de eles eram motivo de opróbrio. “Em seu discurso, usou sempre a terceira pessoa do plural, envolvendo-se na questão em vez de apontar para "eles" ou para "vocês". Como fazia em sua oração (1:6, 7), identificava-se com o povo e com suas necessidades... Deus os capacitaria para o trabalho. O Senhor já havia provado seu poder ao tocar o coração do rei que, por sua vez, havia prometido suprir as necessidades daquela empreitada. Foi o peso que Neemias sentia em seu coração por Jerusalém bem como sua experiência com o Senhor que convenceram os judeus de que era chegada a hora de construir”. Em resposta a este apelo, os moradores de Jerusalém foram enfáticos:— "Disponhamo-nos e edifiquemos." O historiador inglês Arnold Toynbe disse: “A apatia só pode ser superada pelo entusiasmo, e o entusiasmo só pode ser despertado por duas coisas: a primeira, o ideal que captura a imaginação; segunda, o plano inteligível e capaz de levar o ideal à prática”. O plano inteligível foi desenvolvido no capítulo 2, Agora, neste novo capítulo, vemos Neemias executando o seu plano de trabalho, coordenando a atividade de cada família. Neste capítulo, como observa Boice, vemos o relato detalhado de como as portas e os muros da cidade de Jerusalém foram reconstruídos, concentrando-se nos nomes dos envolvidos na construção.  Howard F. Vos escreveu: O que aqui, à primeira vista, parece uma lista de nomes esquecidos e detalhes chatos da construção de muros, torna-se algo bastante dramático e emocionante em uma análise mais aprofundada. Pode-se observar primeiro o que ocorreu como resultado de uma façanha incrível de organização. Toda a comunidade foi mobilizada e levada a trabalhar de forma harmoniosa e simultânea em todas as partes dos muros da cidade.

Cyril Barber:  Um segundo conjunto de frases repetidas esclarece-nos o princípio de coordenação. E a expressão "defronte de sua casa" ou "defronte da sua morada" (Neemias 3:21-23; 28-30). Quando avaliamos isto, percebemos que Neemias aproveitava as facilidades. Não tinha gente viajando de um lado de Jerusalém para o outro.1 Isto teria sido perda de tempo e redução de eficiência. Também teria tornado difícil a alimentação dos que estavam trabalhando. Além do mais, em caso de ataque2 por parte dos seus inimigos, a preocupação de cada homem seria por sua própria família. Se sua família estivesse do outro lado de Jerusalém, ele não teria como defendê-la. Fazendo com que cada homem trabalhasse perto de sua própria casa, Neemias facilitou o acesso ao serviço, a alimentação enquanto estivesse trabalhando, e a segurança daqueles que eram mais próximos e mais amados. Isso aliviava cada operário de ansiedades desnecessárias. Também assegurava que cada pessoa se esforçasse ao máximo naquilo que fazia. 

O capítulo 3 também descreve o envolvimento do povo na obra de reconstrução. Observa-se que 39 grupos diferentes de trabalhadores estiveram envolvidos na obra. O chamado e a visão foram de Neemias, mas ele não poderia reconstruir sem a participação do povo de Jerusalém. Nenhum líder pode liderar sem delegar responsabilidades para outras pessoas. Deus queria usar todos, e todos podiam contribuir independentemente de sua função, posição social ou técnica. O povo como um todo participou da construção do muro. Foram muitos que contribuíram. Com diferentes posições, diferentes ideias e diferentes talentos, mas com um objetivo em vista. Homens de lugares diferentes e de diferentes ocupações trabalharam juntos no muro. Isto incluía sacerdotes, levitas, chefes e pessoas comuns, porteiros e guardas, fazendeiros e "trabalhadores de sindicato", ourives, farmacêuticos, mercadores, empregados do templo e mulheres. Neemias enfrentou um grande desafio e demonstrou uma grande fé num grande Deus, mas não teria feito muita coisa se não tivesse havido grande dedicação da parte daqueles que o ajudaram a reconstruir os muros. Ele se revelou um líder piedoso e humilde e deu todo o crédito ao povo: “Assim, edificamos o muro [...] porque o povo tinha ânimo para trabalhar” (Neemias 4.6).

APLICAÇÃO

A cooperação do povo e a liderança de Neemias foram vitais para a difícil tarefa de reconstruir os muros da cidade. Se quisermos ter bom êxito na obra de Deus, devemos aprender a trabalhar em equipe.  Quando estudamos a carta aos filipenses disse: Paulo vê a igreja como uma equipe e lembra os cristãos de que é seu trabalho em equipe que conquista as vitórias (Fp 1.27b). Não nos esqueçamos que na igreja de Filipos havia o problema de dissensão. Ali congregavam duas mulheres que não se entendiam (Fp 4:2). Ao que parece, os membros da igreja tomavam partido, como acontece com frequência, e a divisão resultante atrapalhava o trabalho da igreja. O inimigo tem prazer em ver divisões nos ministérios locais. Seu lema é dividir e conquistar e, muitas vezes, ele é bem-sucedido. Que espetáculo lamentável oferecem os crentes ao mundo, atacando uns aos outros ou falando uns dos outros. Assim, seu crescimento espiritual e retardado e seu testemunho é enfraquecido perante o mundo (W. Hendriksen, Comentário aos Filipenses).  A única maneira de os cristãos vencerem o maligno é permanecendo unidos. Somos cidadãos do céu e, portanto, devemos andar de modo coerente. Fazemos parte do mesmo “time” e, portanto, devemos trabalhar de modo cooperativo.

O inglês William Carey, o “pai das missões modernas”, foi para a Índia em 1793. Na época, não existiam sociedades missionárias organizadas, mas, quando Carey orou pelas necessidades de um mundo inalcançado, Deus colocou a Índia em seu coração. Em março de 1793, durante um culto de “comissionamento” em favor de Carey e seu colega, um dos amigos de Carey exclamou: “Há uma mina de ouro na Índia, mas ela parece quase tão funda quanto o centro da Terra!”. Ao que Carey retrucou: “Estou disposto a correr o risco de descer dentro dela, mas lembrem-se de que cabe a vocês segurar as cordas”. Como Carey esperava que seus amigos “segurassem as cordas”? Tinha de ser por meio da parceria em oração e em contribuição. Aqueles que seguram as cordas são tão importantes na cooperação quanto aqueles que descem à mina. Segurar as cordas para os outros é uma parte importante da comunhão bíblica; é essencial para a propagação do evangelho. 

Deus pretende que todos os cristãos sejam participantes ativos do corpo, cooperadores trabalhando em todo o projeto do Evangelho. Para isso, Deus atribuiu a todo cristão uma função no corpo de Cristo. Não há exceções em relação a isso; todo membro tem uma função dentro do corpo que Deus lhe incumbiu de exercer. O Rev. Misael nos lembra que, no âmbito da doutrina cristã, a palavra vocação tem dois significados:

  • O Chamado de Deus na Conversão.  A vocação é compreendida como o chamado para a salvação que produz conversão, uma obra do Espírito que confirma a palavra pregada e gera fé no coração dos eleitos (Atos 16.13-15; Romanos 8.28-30). O Espírito Santo opera de tal maneira sobre o povo eleito de Deus, que eles são levados ao arrependimento e à fé, e as-sim feitos herdeiros da vida eterna, por meio de Jesus Cristo, Senhor deles. Esta obra do Espírito, nas Escrituras, chama-se vocação (Charles Hodge, 2001, p. 961). 
  • O chamado de Deus para o serviço.  Vocação significa também o chamado que Deus faz aos seus filhos, para que estes realizem determinadas tarefas, em contextos históricos específicos (Êxodo 31.1-6; Josué 1.1-2; Juízes 6.11-14; Mateus 4.18-22; Atos 26.12-28).  Qual é a sua vocação?


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