Primeiramente é preciso dizer que o ensino de Martyn Lloyd-Jones é completamente diferente da doutrina pentecostal acerca da “segunda bênção”. Segundo Frederick Dale Bruner, em sua obra “Teologia do Espírito Santo”, a experiência pentecostal deve ser compreendida “como a experiência do batismo e conseqüentes dons do Espírito Santo” [1]. “A evidência glossolálica”, continua Bruner, “tem marcado o pentecostalismo. Argumenta-se até, e com seriedade, que o ato teológico de combinar o batismo no Espírito Santo com a evidência das línguas foi o catalisador que criou o movimento pentecostal” [2]. Para o movimento pentecostal ser batizado com o Espírito é uma doutrina fundamentada em Atos 2.4: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” , portanto,“ser pentecostal (...) é ser cheio do Espírito Santo da mesma maneira que eles (os discípulos em Atos 2) foram cheios com o Espírito Santo naquela ocasião” [3]. Para eles, o batismo com o Espírito Santo, é um evento distinto da conversão, é evidenciado pelo falar em línguas e deve ser buscado com sinceridade.
Lloyd-Jones, em seu livro “
A exortação paulina para encher-nos do Espírito (Efésios 5.18) não tem o mesmo significado que em Atos 2.4, quando os discípulos “ficaram cheios do Espírito Santo”. O movimento pentecostal faz confusão com a terminologia. Para Paulo ser cheio do Espírito é estar de baixo da influência do Espírito Santo. Isto acontece quando a nossa mente, coração e vontade, toda a nossa personalidade é controlada pelo Espírito de Cristo. Há uma distinção entre o batismo com o Espírito Santo e a plenitude do Espírito. Assim, “não pode ser ‘batizado com o Espírito’ sem ser ‘pleno do Espírito’. Mas é possível ser ‘pleno do Espírito’, pode estar cheio dele, sem experimentar ‘o batismo do Espírito’. O batismo é uma experiência distinta, concreta e especial” [9]. Mas a plenitude do Espírito, “não se trata de algo que é derramado em meu interior de modo q1ue eu tenha que esvaziar primeiro a fonte para logo recebê-lo. Essa forma de pensar é totalmente errônea e faz violência à pessoa do Espírito Santo” [10].
“Enchei-vos do Espírito” é um mandamento e não uma experiência. Nós devemos deixar o Espírito influenciar nossas vidas. O verbo está no tempo presente. Isto é significativo na língua grega, pois o tempo presente indica uma ação contínua. É algo que, momento a momento, devemos buscar. Outro fato a destacar é que o verbo encher está no plural, indicando que é um mandamento dado a todos os cristãos, principalmente a nós ministros de Cristo. Por último, o verbo está na voz passiva. A NVI traduz Efésios 5.18 corretamente: Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito. Mas isso não significa que somos passivos neste processo, pelo contrário, devemos deixar-nos encher pelo o Espírito.
A Bíblia nos aponta algumas condições que devem ser observadas para que possamos ser cheios do Espírito:
a) Não entristecer o Espírito (Efésios 4.30). Martyn Lloyd-Jones nos diz: “Se eu desejo ser cheio e controlado pelo Espírito, devo evitar que os meus desejos, paixões e meus apetites me controlem. Tampouco deve me controlar o diabo. Devo resistir ao diabo e também devo resistir ao ‘mundo’. Isso é óbvio; não devo contristar o Espírito. Se eu vivo uma vida de pecado, estou contristando-o; e se Ele está entristecido, não me controla” [11].
b) Não apagar o Espírito (1Tessalonicenses 5.19). O Espírito é uma pessoa, a terceira pessoa da Trindade, e habita no cristão para estimular, guiar, direcionar o seu viver. Todas as vezes que rejeitamos seus estímulos e idéias, nós o apagamos. Este direcionamento que recebemos do Espírito é através de sua Palavra. O Espírito e a Palavra estão intimamente ligados, pois a Escritura é o instrumento usado pelo Espírito para nos falar. Assim, deixar de ler, estudar e é apagar o Espírito.
c) Andar no Espírito (Gálatas 6.16). Aqui somos ensinados que, se andamos no Espírito, não satisfaremos a concupiscência da carne. Mas, somos nós que devemos andar. Depois, devo escutar a voz do Espírito. Ele nos fala através da Palavra, pois ela é a Palavra do Espírito (2 Pedro 1.21). A santificação consiste num processo de se conhecer a Palavra de Deus e aplicá-la em nossa vida. E quando isto ocorre o Espírito se alegra, pois permitimos que Ele governe nossas decisões, nossas ações e todo o nosso comportamento. “Os pastores têm de transformar em um assunto de prioridade e disciplina o ler, meditar e o memorizar as Escrituras. Eles também precisam orar pela obra do Espírito Santo em suas próprias vidas. Qualquer outro procedimento pastoral, que corresponda a menos do que isso, será uma prática espiritual incorreta” [12]. Que a plenitude do Espírito seja buscada continuamente e Deus, segundo Sua soberania, dispense-nos do seu poder para que muitas vidas sejam alcançadas pela Sua maravilhosa graça.
[1]Bruner, F. D., Teologia do Espírito Santo, p.46.
[2]Bruner, F. D., op. Cit. p.58.
[3] Op. Cit., p.45
[4]
[5] D.M.Lloyd-Jones, op. Cit., p.41.
[6] Op.cit., p.42
[7] D.M.Lloyd-Jones, op. cit., p.40
[8] D.M.Lloyd-Jones, O Segredo da Bênção Espiritual, p.47
[9] D.M.Lloyd-Jones, op. cit., p.38
[10] D.M.Lloyd-Jones, op.cit., p.44
[11] Op. Cit., p.46
[12] Tomas K. Ascol in Fé para Hoje, número 16, 2002
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