“Aquele que a isto viu testificou, sendo verdadeiro
o seu testemunho”. São palavras de João, o discípulo amado, com respeito a
crucificação de Jesus. Ele é a
testemunha perceptiva, próxima de Jesus,
e é capaz de relatar não somente os fatos mas o significado que encontra neles.
Diferentemente dos demais evangelistas, João não
descreve nada que não pudesse ser visto em outra crucificação. Mas menciona
tudo o que uma testemunha perceptiva é capaz de discernir. O que ele vê é
simplesmente o fato de que, naquela cruz, o Verbo de Deus, o Logos Eterno é
também verdadeiramente homem: Tenho sede! Há nesta declaração uma expressão de
agonia, de sofrimento. Sofrimento este que o Cristo teria de passar para
satisfazer o pacto concertado com o Pai na eternidade, pois tinha a certeza de
ser esta a única alternativa para a salvação do Seu povo. Agonia experimentada
não só no Calvário, mas desde o momento em que assume a nossa humanidade. E
como bem disse Calvino: “Com toda verdade se pode dizer que não somente passou
toda a sua vida em perpétua cruz e aflição, senão que toda ela não foi senão
uma espécie de cruz contínua”[1].
Obviamente a sua união hipostática foi voluntária
tanto quanto a sua entrega para morrer a nossa morte. “Jesus Cristo foi o único
homem que não precisava padecer, todavia Ele voluntariamente o fez por nós”[2].
O segundo Adão, perfeito, santo, imaculado “foi feito sujeito à lei, que se
cumpriu perfeitamente; padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis
tormentos e em seu corpo os mais penosos sofrimentos”[3] para a redenção de
pecadores. E, assim, por amor à sua igreja, Ele aprendeu a ver as coisas do
plano da humanidade. Sendo Deus, participou das dificuldades humanas e
identificou-se com seus irmãos na carne. As nossas provações, nossos fardos e
nossas dores tornarem-se Dele. Tenho sede! Exclamou o nosso Sumo
Sacerdote, o qual é capaz de
compadecer-se de nossas fraquezas. Tenho sede! A sua vida tem sido digna do
sacrifício de Cristo e do Seu propósito?
[1] J. Calvino, Instituición,
III.8.1
[2] Hermisten M. P. Costa, Os Sofrimentos de Cristo, p.5
[3] Confissão de Westminster, 8.4
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