Domingo
passado analisamos o capítulo 1 desta carta. Vimos que a pregação do Evangelho
fez nascer a igreja de Tessalônica, em meio a grandes dificuldades e
perseguições e em pouquíssimo tempo. Contudo, a Palavra de Cristo chegou até
eles “em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”. E, assim, o Evangelho
se espalhou “não só na Macedônia e Acaia, mas por toda parte”. De modo que a
igreja se tornou modelo, por meio de uma fé atuante, de um amor prestativo e de
uma firme esperança em Cristo. Aprendemos sobre as características de uma
igreja ideal, uma igreja segundo o coração de Deus.
Ao
analisarmos esta nova perícope, uma nova seção da carta podemos perceber que
além das perseguições externas promovidas pelos judeus, Paulo teve que lidar
com aqueles que, dentro da igreja, se opunham ao seu ministério e o difamavam.
O rev. John Stott afirma: “Os adversários de Paulo em Tessalônica, para
minar a sua autoridade e seu evangelho, decidiram desacreditá-lo com uma
campanha maliciosa. Esse ataque pessoal deve ter sido extremamente doloroso
para o apóstolo. Sua determinação em responder às acusações que foram
levantadas contra ele veio, não da vaidade ou de orgulho ferido, mas porque a
verdade do Evangelho e o futuro da igreja estavam sendo ameaçados”. As
respostas dadas pelo apóstolo nos dá a ideia das acusações levantadas. Eles o
acusavam de querer tirar vantagem, isto
é, pregava o evangelho para ganhar alguma coisa como dinheiro, prestígio e
poder. Por isso, quando veio a perseguição e se viu em perigo, Paulo fugiu.
Diziam que Paulo não estava preocupado com os tessalonicenses, ele os havia
abandonado! O objetivo era levar Paulo e seus companheiros ao descrédito e,
assim, a mensagem de Cristo proclamada por eles não frutificaria. Em defesa do Evangelho e de seu ministério o
apóstolo nos apresenta nestes versículos as marcas de um ministério ideal.
Paulo assinala as características ministeriais daqueles que foram aprovados por Deus a ponto de Deus lhes confiar
o Evangelho. Interessante notar que o apóstolo usa termos que se referem a u ma
família. Assim percebemos que o ministério ideal requer:
(1) A fidelidade de um
mordomo. Paulo tem consciência do
seu chamado e ministério. Ele havia sido testado e aprovado por Deus e Deus
mesmo lhe confiou o Evangelho, a mensagem de boas novas de salvação. Assim o
apóstolo via a si mesmo, bem como seus companheiros, como despenseiro, mordomo
de Deus. Importante observar que a expressão que aparece no versículo 1, “não
foi em vão que vos visitamos”, pode ter uma outra tradução possível.
Hendriksen, um estudioso do NT, sugere a seguinte tradução: “nossa entrada
entre vós, não foi de mãos vazias”. Esta tradução é a melhor por causa de
todo o contexto. Ele estava sendo acusado de tirar algo dos tessalonicenses,
contudo ele não se apresentou de mãos vazias, ele esteve entre eles para dar.
Entregou-lhes a Verdade de Deus. Como mordomo do SENHOR distribuiu-lhes a
mensagem de salvação. Sabemos que o que ser requer dos despenseiros é que sejam
achados fiéis, como o próprio apóstolo declarou aos coríntios. Por isso assevera que seu objetivo era
agradar a Deus e não aos homens, pois Deus é Aquele de quem nada se oculta,
Seus olhos sonda os motivos internos, sejam eles bons ou maus. Em Jeremias
17.10 lemos: “Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os rins; e isto
para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto de suas ações”. O Rev. J. Stott declara: “Os mordomos do
evangelho devem responder primeiramente não a igreja nem aos líderes, mas a
Deus. Prestar contas a Deus é ser liberto da tirania da crítica humana”. O
ministéro de Paulo em Tessalônica foi um trabalho de mordomo, e o próprio Deus
era testemunha de sua fidelidade.
(2) O cuidado amoroso de uma
mãe. Longe de querer os benefícios dos tessalonicenses, o apóstolo
dedicou-se a servi-los. E compara o seu serviço ministerial ao trabalho de uma
mãe. A mãe geralmente é aquela que se
doa, que sacrifica a si mesma para o bem dos seus filhos. É abnegada, dedicada,
cuidadosa no cuidado com as crianças. O amor de Paulo por eles alcança seu
clímax na declaração do versículo 8: “Assim, devido ao grande afeto por vós,
estávamos preparados a dar-vos de boa vontade não somente o evangelho de Deus,
mas também a própria vida, visto que vos tornastes muito amados para nós”.
Warren Wierbse nos lembra que “o como a mãe nutre os filhos é tão
importante quanto a maneira como os nutre”. O apóstolo cuidava, como uma
mãe, afetuosamente do rebanho de Deus naquela cidade.
(3) A orientação e ensino de
um pai. O ministério de Paulo entre aqueles irmãos era comparado não
só ao trabalho de um mordomo, de uma mãe, mas também ao papel de um pai. O pai
tem como uma das funções principais na família o papel educacional. Cabe a ele
ser referência aos filhos, servindo-lhes de modelo. Modelo de integridade, de
caráter, de responsabilidade, de espiritualidade, de modo que os filhos desejem
ser como ele é. Contudo, o papel educacional não se limita a isto. Cabe também
ao pai encorajar, confortar e exortar. O pai deve zelar pela família e
sacrificar-se pelo seu bem-estar. tudo,
o papel educacional não se limita a isto. Cabe também ao pai encorajar,
confortar e exortar. O pai deve zelar pela família e sacrificar-se pelo seu
bem-estar. Vejam irmãos a afirmação de
Paulo nos versículos 11-13: “E
sabeis, ainda, de que maneira, como pai a seus filhos, a cada um de vós,
exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que
vos chama para o seu reino e glória. Outra razão ainda temos nós para,
incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de
nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como,
em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente
em vós, os que credes”. Ele e seus companheiros labutaram entre eles
orientado-os, ensinando-os e encorajando-os a fim de que eles vivessem de modo
digno de Deus.
(4) O amor e amizade de um
irmão. Por último, Paulo nos diz que seu ministério foi como de um irmão,
de quem se espera amor e amizade. É
importante observar que a palavra “irmãos” aparece 23 vezes nas duas cartas aos
tessalonicenses. Assim, ele se vê como um deles, como membro da família. Warren
Wierbse, em seu comentário desta epístola, afurma: “No versículo 17, ele
(Paulo) diz que está “orfanado” deles por um breve espaço de tempo, como uma
criança longe de casa. Ele ama-os, ora por eles e deseja muito vê-los de novo.
Afinal, o que testa a nossa vida espiritual não é o que fazemos quando estamos
com a “família” na igreja, mas como nos comportamos fora da igreja. Paulo não
era o tipo de membro da igreja que “tira férias” da
casa do Senhor”.
Paulo
descreve neste capítulo o seu ministério entre os tessalonicenses e assim
apresenta-nos as marcas de um ministério ideal. Porém, alguém pode questionar:
Eu não sou pastor, portanto, este texto não tem nada a me ensinar. Quero dizer
que os princípios apresentados por Paulo aqui se aplicam na vida de todo
verdadeiro cristão. Nem todos são pastores na igreja, pois os dons e ministérios
são variados, mas todos os cristãos foram vocacionados por Deus para exercer um
ministério específico. Ninguém foi chamado para não fazer nada, ou para “esquentar
bancos”. E na realização do nosso ministério necessitamos das qualidades
mencionadas pelo apóstolo. Devemos realizar nosso ministério com a fidelidade
de um mordomo, o cuidado amoroso de uma mãe, a autoridade e ensino de um pai e
o amor amizade de um irmão. Que Deus nos ajude a realizarmos nossa missão com a
mesma dedicação de Paulo, e nos use para sermos bênçãos na vida de toda igreja!