terça-feira, setembro 28, 2021

Neemias 4: COMO LIDAR COM A OPOSIÇÃO?

Continuando a série de mensagens em Neemias, quero recordar o que nós já falamos. No capítulo 1 vimos que Neemias foi alguém que se importou o suficiente com a situação dos que permanecerem em Jerusalém, intercedendo por eles e se dispondo a ajudá-los. No capítulo 2 Neemias revela-se como um homem de fé, que caminha crendo e confiando nas promessas de Deus, o qual com oração, paciência e planejamento se dispôs a realizar a vontade de Deus. O capítulo 3, o qual é um dos mais importantes, descreve o envolvimento do povo na obra de reconstrução. Vimos que o  chamado e a visão foram de Neemias, mas ele não poderia reconstruir sem a participação do povo de Jerusalém. Nenhum líder pode liderar sem delegar responsabilidades para outras pessoas. E assim concluímos que a cooperação do povo e a liderança de Neemias foram vitais para a difícil tarefa de reconstruir os muros da cidade. Se quisermos ter bom êxito na obra de Deus, devemos aprender a trabalhar em equipe.  Agora, no capítulo 4, observamos que a chegada de Neemias a Jerusalém representou uma ameaça para Sambalate, Tobias e seus companheiros (2:10), os quais desejavam que os judeus continuassem fracos e dependentes. Uma Jerusalém forte colocaria em perigo o equilíbrio do poder na região e privaria Sambalate e seus amigos de sua influência e riqueza. Warren Wiersbe faz uma observação importante. Ele nos diz: “Quando as coisas estão indo bem, devemos nos preparar para enfrentar dificuldades, pois o inimigo não quer ver a obra do Senhor progredir. Enquanto o povo de Jerusalém estava conformado com sua triste sina, o inimigo os deixou em paz. Mas quando os judeus começaram a servir ao Senhor e a glorificar o nome de Deus, o inimigo entrou em ação”.

Assim vemos que a oposição a Neemias surge de todos os lados. Surge de Sambalate, que era governador de Samaria, bem como de outras nações. Havia antigos adversários de Israel: arábios, amonitas e os asdoditas. Além destes havia inimigos internos, pois alguns judeus tinham casamentos e alianças comerciais com estes povos e, por isso, seus interesses estavam ao lado dos inimigos de Neemias. Boice nos lembra que algumas pessoas se sentem ameaçadas pelo sucesso alheio e porque podem perder a posição, o poder ou o prestígio político, religioso ou social e, assim, se opõe. Lembremos que “nosso mundo é pecaminoso e poucas pessoas sã altruístas. E cada um por si. Portanto, se alguém progride, o outro a vê diminuindo seu próprio prestígio ou posição”.

A oposição se fez presente entre os judeus de várias formas:

Por meio da zombaria: 4.1-3

2)     Através de um plano de ataque armado: 4.7-12

3)     Por meio de um plano de assassinato, camuflado por um convite para conversar: 6.1-3

4)     Por meio de um movimento para intimidar e desacreditar Neemias publicamente: 6.10-13

Irmãos, saibam que quando nos dispomos a fazer a vontade de Deus certamente enfrentaremos lutas, desafios e oposição. Jesus mesmo nos disse que no mundo teríamos aflições. O apóstolo Pedro nos exorta: Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar (1 Pedro 5:8). A. W. Pink faz uma importante observação sobre este texto: Este versículo nos apresenta um aspecto da Verdade acerca do qual há ampla ignorância entre os crentes. Com frequência, eles se mostram inconscientes de que o "diabo" os está atacando e precisa ser resistido. Muitos supõem que as investidas de Satanás estão limitadas às tentações para que pequemos. Isto não é verdade; em muitos casos, o objetivo dele é opor-se e impedir-nos de fazer o que é bom. Constantemente, ele utiliza os seres humanos a fim de atrapalhar-nos e inquietar-nos. Por exemplo, ele enviará alguém para bater à porta ou chamar-nos ao telefone, quando estamos orando. Ele mandará parentes visitarem-nos no domingo, impedindo-nos assim de gastar tempo na comunhão com o Senhor. Ou criará "circunstâncias" para obstruir nosso progresso espiritual, multiplicando nossos deveres e tarefas, de modo que não tenhamos tempo livre ou fiquemos muito cansados para estudar a Bíblia. De acordo com a Palavra de Deus o nosso inimigo é real e precisamos saber que Satanás odeia o que você está querendo fazer nesta jornada. Ele está atemorizado com a possibilidade de você desfrutar uma vida íntima com Deus e ter uma vida cheia do Espírito. O diabo sabe que você pode descobrir o tremendo poder através da oração e da meditação na Palavra de Deus e vai tentar de todas as formas impedir que você termine sua jornada de avivamento. Mas não se esqueça de que satanás é um mentiroso e já foi derrotado.

Não nos esqueçamos que “Deus teve somente um Filho sem pecado, mas nunca teve um filho sem tribulações” (Charles Spurgeon). Como nós devemos lidar com a oposição? Como enfrentar os desafios que se nos apresentam? Para responder a esta questão devemos observar como Neemias lidou com os ataques que sofreu.

Primeiro, ele não revidou. A primeira coisa que a maioria de nós faz quando é ridicularizada é retrucar. Neemias não fez isso. Se tivesse, teria apenas se rebaixado ao nível dos críticos e teria sido derrotado, uma vez que eram mais fortes e mais importantes que ele aos olhos do mundo.

Segundo, Neemias orou. Observamos que ele se voltou para Deus em busca de ajuda, derramando sua queixa diante do Senhor. Ele admite a mágoa e ira: “Estamos sendo desprezados” (v. 4). No entanto, o trabalho era de Deus, e Neemias foi capaz de colocá-lo nas mãos de Deus e deixá-lo ser o árbitro da disputa e o juiz dos oponentes dos judeus. “Caia o seu opróbrio sobre a cabeça deles”, disse Neemias. “E faze que sejam despojo numa terra de cativeiro. Não lhes encubras a iniquidade, e não se risque de diante de ti o seu pecado, pois te provocaram à ira, na presença dos que edificavam” (v. 4, 5). Boice nos diz quais os resultados da oração de Neemias: O primeiro grande benefício foi, sem dúvida, o fato de ter dissipado sua raiva, pois ele não a demonstra ao prosseguir. Isso foi valioso, pois é raro a raiva ser produtiva e, em geral, ela representa um obstáculo ao bom trabalho. Além disso, a oração deve ter restaurado a perspectiva de Neemias, caso estivesse vacilando. Em vez de se deixar levar pela ridicularização dos inimigos, ele agora reconheceu o que estava por detrás — medo de que, sob sua liderança, os judeus pudessem realmente ter sucesso — e entendeu que a melhor coisa que os judeus podiam fazer era continuar a tarefa.

Terceiro, Neemias continuou o trabalho. Ao deixar as provocações dos inimigos com Deus, não precisava mais se preocupar com elas e poderia continuar a tarefa dada por Deus. O que ele diz é bom: “Assim, edificamos o muro, e todo o muro se fechou até a metade de sua altura; porque o povo tinha ânimo para trabalhar” (v. 6).

Irmãos que nós nos empenhemos em fazer a vontade e a obra de Deus e quando lidarmos com a oposição façamos como Neemias.

segunda-feira, setembro 20, 2021

Neemias 3 - UM GRANDE DESAFIO

Ler e estudar o livro de Neemias tem sido maravilhoso. Há lições riquíssimas para a nossa vida, as quais nos ajudam não só no nosso relacionamento com Deus como também no desenvolvimento da vida cristã e do nosso ministério. No capítulo 1 vimos que Neemias foi alguém que se importou o suficiente com a situação dos que permanecerem em Jerusalém, intercedendo por eles e se dispondo a ajudá-los. No capítulo 2 Neemias revela-se como um homem de fé, que caminha crendo e confiando nas promessas de Deus, o qual com oração, paciência e planejamento se dispôs a realizar a vontade de Deus. Hoje quero convidá-los a apreender sobre Neemias a partir do capítulo 3. 

Este é um grande desafio, pois muitos comentaristas têm deixado de lado este capítulo, uma vez que há uma longa lista de nomes e são tentados a continuar a história a partir do capítulo 4. Contudo, como nos lembra Cyril Barber, este capítulo é um dos mais importantes do livro todo! Também não nos esqueçamos que “toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17). Quero, num primeiro momento, descrever o que está acontecendo no capítulo 3 e depois extrair lições que se aplicam em nossas vidas. Que o Senhor nos ajude nesta tarefa e fale a cada um de nós, edificando-nos em Sua Palavra. 

No capítulo anterior vimos que Neemias, ao chegar em Jerusalém, a primeira coisa que fez foi avaliar, analisar a real situação e a identificar o que era preciso fazer e como fazer. Depois disso, ele faz um apelo ao povo em Jerusalém, concentrando-se na glória e na grandeza do Senhor e no fato de eles eram motivo de opróbrio. “Em seu discurso, usou sempre a terceira pessoa do plural, envolvendo-se na questão em vez de apontar para "eles" ou para "vocês". Como fazia em sua oração (1:6, 7), identificava-se com o povo e com suas necessidades... Deus os capacitaria para o trabalho. O Senhor já havia provado seu poder ao tocar o coração do rei que, por sua vez, havia prometido suprir as necessidades daquela empreitada. Foi o peso que Neemias sentia em seu coração por Jerusalém bem como sua experiência com o Senhor que convenceram os judeus de que era chegada a hora de construir”. Em resposta a este apelo, os moradores de Jerusalém foram enfáticos:— "Disponhamo-nos e edifiquemos." O historiador inglês Arnold Toynbe disse: “A apatia só pode ser superada pelo entusiasmo, e o entusiasmo só pode ser despertado por duas coisas: a primeira, o ideal que captura a imaginação; segunda, o plano inteligível e capaz de levar o ideal à prática”. O plano inteligível foi desenvolvido no capítulo 2, Agora, neste novo capítulo, vemos Neemias executando o seu plano de trabalho, coordenando a atividade de cada família. Neste capítulo, como observa Boice, vemos o relato detalhado de como as portas e os muros da cidade de Jerusalém foram reconstruídos, concentrando-se nos nomes dos envolvidos na construção.  Howard F. Vos escreveu: O que aqui, à primeira vista, parece uma lista de nomes esquecidos e detalhes chatos da construção de muros, torna-se algo bastante dramático e emocionante em uma análise mais aprofundada. Pode-se observar primeiro o que ocorreu como resultado de uma façanha incrível de organização. Toda a comunidade foi mobilizada e levada a trabalhar de forma harmoniosa e simultânea em todas as partes dos muros da cidade.

Cyril Barber:  Um segundo conjunto de frases repetidas esclarece-nos o princípio de coordenação. E a expressão "defronte de sua casa" ou "defronte da sua morada" (Neemias 3:21-23; 28-30). Quando avaliamos isto, percebemos que Neemias aproveitava as facilidades. Não tinha gente viajando de um lado de Jerusalém para o outro.1 Isto teria sido perda de tempo e redução de eficiência. Também teria tornado difícil a alimentação dos que estavam trabalhando. Além do mais, em caso de ataque2 por parte dos seus inimigos, a preocupação de cada homem seria por sua própria família. Se sua família estivesse do outro lado de Jerusalém, ele não teria como defendê-la. Fazendo com que cada homem trabalhasse perto de sua própria casa, Neemias facilitou o acesso ao serviço, a alimentação enquanto estivesse trabalhando, e a segurança daqueles que eram mais próximos e mais amados. Isso aliviava cada operário de ansiedades desnecessárias. Também assegurava que cada pessoa se esforçasse ao máximo naquilo que fazia. 

O capítulo 3 também descreve o envolvimento do povo na obra de reconstrução. Observa-se que 39 grupos diferentes de trabalhadores estiveram envolvidos na obra. O chamado e a visão foram de Neemias, mas ele não poderia reconstruir sem a participação do povo de Jerusalém. Nenhum líder pode liderar sem delegar responsabilidades para outras pessoas. Deus queria usar todos, e todos podiam contribuir independentemente de sua função, posição social ou técnica. O povo como um todo participou da construção do muro. Foram muitos que contribuíram. Com diferentes posições, diferentes ideias e diferentes talentos, mas com um objetivo em vista. Homens de lugares diferentes e de diferentes ocupações trabalharam juntos no muro. Isto incluía sacerdotes, levitas, chefes e pessoas comuns, porteiros e guardas, fazendeiros e "trabalhadores de sindicato", ourives, farmacêuticos, mercadores, empregados do templo e mulheres. Neemias enfrentou um grande desafio e demonstrou uma grande fé num grande Deus, mas não teria feito muita coisa se não tivesse havido grande dedicação da parte daqueles que o ajudaram a reconstruir os muros. Ele se revelou um líder piedoso e humilde e deu todo o crédito ao povo: “Assim, edificamos o muro [...] porque o povo tinha ânimo para trabalhar” (Neemias 4.6).

APLICAÇÃO

A cooperação do povo e a liderança de Neemias foram vitais para a difícil tarefa de reconstruir os muros da cidade. Se quisermos ter bom êxito na obra de Deus, devemos aprender a trabalhar em equipe.  Quando estudamos a carta aos filipenses disse: Paulo vê a igreja como uma equipe e lembra os cristãos de que é seu trabalho em equipe que conquista as vitórias (Fp 1.27b). Não nos esqueçamos que na igreja de Filipos havia o problema de dissensão. Ali congregavam duas mulheres que não se entendiam (Fp 4:2). Ao que parece, os membros da igreja tomavam partido, como acontece com frequência, e a divisão resultante atrapalhava o trabalho da igreja. O inimigo tem prazer em ver divisões nos ministérios locais. Seu lema é dividir e conquistar e, muitas vezes, ele é bem-sucedido. Que espetáculo lamentável oferecem os crentes ao mundo, atacando uns aos outros ou falando uns dos outros. Assim, seu crescimento espiritual e retardado e seu testemunho é enfraquecido perante o mundo (W. Hendriksen, Comentário aos Filipenses).  A única maneira de os cristãos vencerem o maligno é permanecendo unidos. Somos cidadãos do céu e, portanto, devemos andar de modo coerente. Fazemos parte do mesmo “time” e, portanto, devemos trabalhar de modo cooperativo.

O inglês William Carey, o “pai das missões modernas”, foi para a Índia em 1793. Na época, não existiam sociedades missionárias organizadas, mas, quando Carey orou pelas necessidades de um mundo inalcançado, Deus colocou a Índia em seu coração. Em março de 1793, durante um culto de “comissionamento” em favor de Carey e seu colega, um dos amigos de Carey exclamou: “Há uma mina de ouro na Índia, mas ela parece quase tão funda quanto o centro da Terra!”. Ao que Carey retrucou: “Estou disposto a correr o risco de descer dentro dela, mas lembrem-se de que cabe a vocês segurar as cordas”. Como Carey esperava que seus amigos “segurassem as cordas”? Tinha de ser por meio da parceria em oração e em contribuição. Aqueles que seguram as cordas são tão importantes na cooperação quanto aqueles que descem à mina. Segurar as cordas para os outros é uma parte importante da comunhão bíblica; é essencial para a propagação do evangelho. 

Deus pretende que todos os cristãos sejam participantes ativos do corpo, cooperadores trabalhando em todo o projeto do Evangelho. Para isso, Deus atribuiu a todo cristão uma função no corpo de Cristo. Não há exceções em relação a isso; todo membro tem uma função dentro do corpo que Deus lhe incumbiu de exercer. O Rev. Misael nos lembra que, no âmbito da doutrina cristã, a palavra vocação tem dois significados:

  • O Chamado de Deus na Conversão.  A vocação é compreendida como o chamado para a salvação que produz conversão, uma obra do Espírito que confirma a palavra pregada e gera fé no coração dos eleitos (Atos 16.13-15; Romanos 8.28-30). O Espírito Santo opera de tal maneira sobre o povo eleito de Deus, que eles são levados ao arrependimento e à fé, e as-sim feitos herdeiros da vida eterna, por meio de Jesus Cristo, Senhor deles. Esta obra do Espírito, nas Escrituras, chama-se vocação (Charles Hodge, 2001, p. 961). 
  • O chamado de Deus para o serviço.  Vocação significa também o chamado que Deus faz aos seus filhos, para que estes realizem determinadas tarefas, em contextos históricos específicos (Êxodo 31.1-6; Josué 1.1-2; Juízes 6.11-14; Mateus 4.18-22; Atos 26.12-28).  Qual é a sua vocação?


terça-feira, setembro 14, 2021

NEEMIAS, UM HOMEM DE FÉ - Neemias 2

Quero iniciar nossa meditação com uma questão: Você é um homem de fé? Você é uma mulher de fé? Você é um jovem ou uma jovem de fé? Você é uma criança de fé? Somos, de fato, pessoas de fé? A Bíblia nos diz que “sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6). A palavra fé é empregada na carta aos hebreus no sentido de confiança em Deus. Lightfoot, em seu comentário aos Hebreus, afirma que “Fé no capítulo 11 é pois fé em Deus, em primeiro lugar fé em todas as suas declarações, quer passadas (v.3) ou futuras (v.7)”. O autor desta carta define fé como “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem”.  Isto implica em dizer que “a fé é a completa certeza e a íntima convicção que dá aos homens o poder de arriscar suas vidas em realidades invisíveis” (Lightfoot). Ao estudar a vida de Neemias é possível constatar que ele era um homem. Por isso, o título de nossa mensagem de hoje: Neemias, um homem de fé.

Vimos que Neemias, mesmo estando na Pérsia, desfrutando das benesses que seu cargo de copeiro lhe proporcionava, se preocupou com os seus irmãos que haviam permanecido em Jerusalém. E, ao ser informado que eles permaneciam num estado de miséria e sofrimento, se preocupou ao ponto de chorar, lamentar, jejuar e orar na presença de Deus. É na presença de Deus, em oração, que Neemias revela-se como um homem de fé. Ele confiou na promessa de Deus em Dt 30.1-3:   Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti, a bênção e a maldição que pus diante de ti, se te recordares delas entre todas as nações para onde te lançar o Senhor, teu Deus; e tornares ao Senhor, teu Deus, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres ouvidos à sua voz, segundo tudo o que hoje te ordeno, então, o Senhor, teu Deus, mudará a tua sorte, e se compadecerá de ti, e te ajuntará, de novo, de todos os povos entre os quais te havia espalhado o Senhor, teu Deus. E por isso, buscou ao Senhor e orou: Estes ainda são teus servos e o teu povo que resgataste com teu grande poder e com tua mão poderosa. Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo e à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem-sucedido hoje o teu servo e dá-lhe mercê perante este homem (Neemias 1.10-11). Agora no capítulo 2, quero destacar alguns aspectos de um homem de fé.

 1. UM HOMEM DE FÉ É PACIENTE

Tendo compreendido o seu chamado e descoberto o que Deus pretendia realizar através dele, Neemias pacientemente esperou o momento certo para dar início ao seu ministério. Ele esperou com paciência a orientação do Senhor, pois é “pela fé e pela longanimidade que herdamos as promessas” (Hebreus 6:12). Wiersbe afirma: “A verdadeira fé em Deus traz ao coração uma tranquilidade que nos impede de nos precipitar e de tentar fazer com as próprias forças aquilo que só Deus pode realizar. Devemos saber não apenas quando chorar e orar, mas também quando esperar e orar... Quando esperamos no Senhor em oração, não estamos perdendo nosso tempo, mas sim o investindo. Deus está nos preparando e arranjando as circunstâncias a nosso redor para que seus propósitos sejam cumpridos. Porém, quando chegar a hora certa de agir pela fé, não devemos, de modo algum, protelar”.

 2. UM HOMEM DE FÉ ELABORA PLANOS

Quero lembrá-los que a fé não é inconsequente. O Senhor Jesus ao falar sobre o custo do discipulado   nos exorta dizendo: Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz (Lucas 14:28-32). O presbítero João, falando sobre planejamento ao conselho, nos indagou: Jesus demonstrou organização e foco em seu ministério. Se o nosso Mestre tinha princípios de planejamento, por que agir diferente dele? Neemias durante quatro meses de espera esteve refletindo sobre a situação. O que deveria realizar? Como deveria realizar? Quais os recursos necessários para realizar? E quando questionado pelo rei sobre quanto tempo estaria ausente, ele sabia exatamente o que responder (vejam os vv. 7-8).  

 3. UM HOMEM DE FÉ ENFRENTA OPOSIÇÃO

James Boice observa que a história de Neemias “é a história de um grande homem a enfrentar e superar desafios”.  Ele enfrentou o desafio de convencer o rei Artaxerxes a mandá-lo a Jerusalém e o de construir os muros de Jerusalém. Além disso, ele teve que enfrentar oposição, vejam o v. 10Três inimigos específicos são citados: Sambalate, de Bete-Horom, cerca de vinte quilômetros de Jerusalém; Tobias, um amonita, e Gesém, um árabe (Ne 2:19). Sambalate era o principal inimigo de Neemias, e o fato de ter algum tipo de cargo oficial em Samaria o tornava ainda mais perigoso (4:1-3). Por ser um amonita, Tobias era inimigo declarado do povo de Israel (Dt 23:3, 4). Sua esposa era parenta de alguns dos colaboradores de Neemias e tinha muitos amigos entre os judeus (Nm 6:17-19). Na verdade, havia se aliado (“aparentado”) a Eliasibe, o sacerdote (13:4-7). Mas, Neemias não demoraria a descobrir que seu maior problema não era o inimigo de fora, mas sim os de dentro.

 CONCLUSÃO

Você é uma pessoa de fé? Qual é o ministério que Deus lhe tem confiado? É com oração, paciência, planejamento que realizamos a vontade de Deus e evidenciamos a nossa fé. Mesmo diante da oposição, devemos exercer nossa, pois é Deus quem dirige os acontecimentos e também prove além do que lhe pedimos. Que tenhamos a mesma fé e disposição de Neemias!

 

quinta-feira, agosto 26, 2021

LIDANDO COM O SOFRIMENTO


Muitas vezes as lutas constantes que enfrentamos no dia a dia podem nos levar a desesperança. Uma doença crônica, um relacionamento fracassado, a morte de uma pessoa amada, dificuldade financeira – tudo isso pode nos levar ao desespero. Como lidar com as angústias que nos sobrevém?

Primeiramente quero dizer que você não é o único a experimentar tais aflições em sua vida, você não é o único a lutar com tais sentimentos e angústias. Ao ler o Salmo 31 vemos que Davi, o homem segundo o coração de Deus, também sentiu-se perturbado e aflito com seus problemas: Tem compaixão de mim, ó Senhor, porque estou angustiado; consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu corpo. Pois a minha vida está gasta de tristeza, e os meus anos de suspiros; a minha força desfalece por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem (vv. 9,10). Talvez estejamos enfrentando com as mesmas angústias que abateram o coração de Davi. Davi nos ensina que, mesmo um homem temente a Deus, pode ter que lidar com problemas e com o desânimo. Mas ele também nos ensina, neste salmo, como lidar com o sofrimento.

Ao lidar com as aflições devemos lembrar que Deus nos vê e sabe de todos os nossos problemas. Foi isso que Davi fez: Eu me alegrarei e regozijarei na tua benignidade, pois tens visto a minha aflição. Tens conhecido as minhas angústias (v.7). Deus conhece os seus problemas assim como conhecia os problemas de Davi. Davi também clamou a Deus: Os meus dias estão nas tuas mãos; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos que me perseguem. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua bondade. Não seja eu envergonhado, ó Senhor, porque te invoco; envergonhados sejam os ímpios, emudeçam no Seol (vv.15-17). Ele deixou suas aflições aos cuidados de Deus. “Vinde a mim que vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”, é a promessa de Jesus. Davi recorreu a Deus e Deus o ouviu: Eu dizia no meu espanto: Estou cortado de diante dos teus olhos; não obstante, tu ouviste as minhas súplicas quando eu a ti clamei (v.22).

 Davi termina o salmo 31 com um convite: Esforçai-vos, e fortaleça-se o vosso coração, vós todos os que esperais no Senhor (v. 24). Quero concluir com as palavras de David Powlison: Deus o chama para perseverar em seu sofrimento, mas não simplesmente cerrando os dentes. Perseverar em meio ao sofrimento só é possível quando você põe sua esperança no Deus vivo. Ele promete se aproximar de você, estar presente com você e possibilitar que experimente a bondade dele exatamente em meio à sua dor e dificuldade. Jesus pôde perseverar durante a pior tribulação que qualquer pessoa já suportou. Ele o fez pela “alegria que lhe estava proposta” de fazer a vontade do Pai e trazer salvação para o seu povo (Hb12.2). Quando você fixar seus olhos em Jesus, o autor e consumador da sua fé, você também terá capacidade para perseverar durante esse tempo de sofrimento e encontrar alegria em viver para Deus” 

Texto adaptado do livro Eu Quero Morrer - substituindo pensamentos suicidas por esperança de David Powlison. 


terça-feira, julho 27, 2021

Neemias, um homem que se importava - Neemias 1

 

“O pior pecado que podemos cometer contra outros seres humanos não é odiá-los, mas sim ser indiferentes a eles: essa é a essência da desumanidade.” Essa declaração, sem dúvida, resume o que Jesus ensinou na parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37).

Neemias era o tipo de pessoa que se importava. Ele se importava com as tradições do passado, com as necessidades do presente e com as esperanças do futuro. Ele se importava com sua herança, com a cidade de seus antepassados e com a glória de seu Deus. Seguindo a sugestão de W. Wiersbe, observa-se que Neemias revelou sua preocupação de quatro maneiras diferentes:

1. IMPORTOU-SE O SUFICIENTE PARA PERGUNTAR (NE 1:1-3)

Neemias, identificado como filho de Hacalias, servia como copeiro do rei Artaxerxes, que reinou sobre a Pérsia de 464 a.C. a 423 a.C.  Um copeiro era muito mais do que um "mordomo" de hoje em dia (ver Gn 40). Ocupava uma posição de grande privilégio e responsabilidade. A cada refeição, experimentava o vinho do rei para se certificar de que não estava envenenado. Um homem assim, tão próximo do rei, deveria ser bem apessoado, culto, bem instruído nos procedimentos da corte e capaz de conversar com o rei e de aconselhá-lo, caso ele o pedisse. Por ter acesso ao rei, o copeiro possuía muita influência, que poderia usar tanto para o bem quanto para o mal.

Deus tinha uma missão para Neemias e o colocou em Susã, da mesma forma que colocou Ester naquela mesma cidade uma geração antes e que também colocou José no Egito e Daniel na Babilônia. Quando Deus deseja realizar uma obra, sempre prepara seus servos e os coloca no lugar certo, na hora certa. Susã era a capital do império persa e onde ficava o palácio de inverno do rei. Num dia como outro qualquer, Neemias encontrou-se com seu irmão, Hanani (ver Ne 1:2), que havia acabado de voltar de uma visita a Jerusalém. Na verdade, porém, esse dia deu um novo rumo à vida de Neemias. “Num dia como outro qualquer, Moisés havia saído para cuidar das ovelhas quando ouviu o chamado do Senhor e se tornou profeta (Êx 3). Num dia como outro qualquer, Davi, que estava pastoreando seu rebanho, foi chamado de volta para casa e foi ungido rei (1 Sm  16). Num dia como outro qualquer, Pedro, André, Tiago e João estavam consertando as redes depois de uma noite frustrante, e Jesus os chamou para se tornarem pescadores de homens (Lc 5:1-11). Nunca sabemos o que Deus tem reservado para nós, mesmo numa conversa simples com um amigo ou parente; por isso, tenha sempre o coração aberto para a orientação providencial do Senhor. 

O que levou Neemias a perguntar sobre um remanescente atribulado que vivia a centenas de quilômetros? Afinal, ele era o copeiro do rei e tinha uma vida bem-sucedida e segura. Por certo, não era culpa dele que seus antepassados houvessem pecado contra o Senhor e trazido julgamento sobre a cidade de Jerusalém e sobre o reino de Judá. Um século e meio antes, o profeta Jeremias transmitira a seguinte palavra do Senhor: "Pois quem se compadeceria de ti, ó Jerusalém? Ou quem se entristeceria por ti? Ou quem se desviaria a perguntar pelo teu bem-estar?" (Jr 15:5). Neemias era o homem que Deus havia escolhido para fazer exatamente isso!

Algumas pessoas preferem não saber o que está acontecendo, pois essa informação pode implicar certas responsabilidades. De acordo com o velho ditado: "Aquilo que você não sabe não lhe pode fazer mal". Mas será que isso é verdade?  Neemias perguntou sobre Jerusalém e sobre os judeus que viviam lá, pois era um homem atencioso. Quando nos preocupamos de verdade com as pessoas, queremos saber o que se passa, por mais doloroso que seja. Aldous Huxley disse: "Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados". Fechar os olhos e os ouvidos para a verdade pode ser o primeiro passo em direção a consequências trágicas para nós mesmos e para outros.

O que Neemias descobriu sobre Jerusalém e os judeus? As más notícias que recebeu podem ser resumidas em três palavras: remanescente, ruínas e opróbrio. Em vez de ser uma terra habitada por uma nação numerosa, só havia um remanescente do povo em Judá. Aqueles poucos judeus passavam por grandes aflições e lutavam para sobreviver. Em vez de ser uma cidade magnífica, Jerusalém estava em ruínas, e onde antes se vira grande glória, restava apenas opróbrio.

É evidente que Neemias sempre soube que a cidade de seus antepassados estava em ruínas, pois os babilônios haviam destruído os muros, as portas e o templo de Jerusalém em 586 a.C. (2 Rs 25:1-21). Cinquenta anos depois, um grupo de 50 mil judeus regressou a Jerusalém para reconstruir o templo e a cidade. Diante da oposição que sofreram da parte dos gentios, porém, só conseguiram completar o templo vinte anos depois (Ed 1 - 6), e os muros e portas não chegaram a ser reparados. Talvez Neemias tivesse esperança de que os judeus houvessem começado a trabalhar outra vez e de que a cidade estava sendo restaurada. Sem muros e sem portas, a cidade ficava exposta ao escárnio e ao ataque inimigo.

Será que somos como Neemias, ansiosos para saber a verdade até mesmo sobre as piores situações? Nosso interesse procede de uma preocupação verdadeira ou apenas de curiosidade desocupada? Quando lemos cartas de missionários com pedidos de oração, notícias em periódicos cristãos ou mesmo relatórios dos ministérios em nossa igreja, queremos saber dos fatos ou os consideramos um peso? Somos o tipo de pessoa que se importa o suficiente para perguntar?

2. IMPORTOU-SE O SUFICIENTE PARA CHORAR (NE 1:4)

Aquilo que leva as pessoas a rir ou a chorar indica, com frequência, como é seu caráter. As pessoas que riem dos erros e desgraças dos outros ou que choram por causa de decepções pessoais insignificantes são desprovidas de cultura ou de caráter e, possivelmente, de ambos. Por vezes, o choro é um sinal de fraqueza, mas no caso de Neemias, foi um sinal de força. Na verdade, Neemias mostrou-se semelhante a Jesus em sua disposição de compartilhar o fardo que oprimia a outros. Quando Deus coloca um peso em nosso coração, não devemos tentar escapar, pois se o fizermos, perderemos a bênção que ele tem reservada para nós.

O Livro de Neemias começa com "grande miséria" (Ne 1:3), mas antes de chegar ao fim, há grande alegria (8:12, 1 7). "Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30:5). Assim como Daniel, Neemias tinha um aposento particular onde orava a Deus enquanto se voltava para Jerusalém. Os judeus tinham o dever de jejuar apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação (Lv 1 6 :2 9 ), mas Neemias passou vários dias jejuando, chorando e orando. Sabia que alguém deveria fazer algo para salvar Jerusalém e estava disposto a ir até lá.

3. IMPORTOU-SE O SUFICIENTE PARA ORAR (Ne 1:5-10)

Essa oração é a primeira de doze registradas no Livro de Neemias.  O livro começa e termina com orações. Sem dúvida alguma, Neemias era um homem de fé, que dependia inteiramente do Senhor para ajudá-lo a realizar o trabalho para o qual o havia chamado. Nas palavras do escritor escocês George MacDonald: "Em tudo aquilo que o homem faz sem Deus, fracassa miseravelmente ou é ainda mais miseravelmente bem-sucedido". Neemias foi bem-sucedido porque dependeu de Deus.

A cidade de Jerusalém estava em ruínas, e a nação encontrava-se debilitada, pois o povo havia pecado contra o Senhor (ver a oração de confissão de Esdras em Esdras 9 e a oração do povo em Neemias 9). Neemias, depois de adoração (v.5), dedicou a maior parte de sua oração à confissão dos pecados (vv. 6-9).  O Senhor que prometeu abençoar e disciplinar também prometeu perdoar, caso o povo se arrependesse e voltasse para ele (Dt 30; 1 Rs 8:31-53). Era dessa promessa que Neemias estava se apropriando ao orar por si mesmo e pela nação. Os olhos de Deus estão sobre seu povo e seus ouvidos, abertos a suas orações (2 Cr 7:14).  Essa oração humilde encerrou com uma expressão de confiança (vv. 10, 11).

Em primeiro lugar, Neemias confiava no poder de Deus. Quando a Bíblia fala dos olhos, ouvidos e mãos do Senhor, apenas emprega linguagem humana para descrever atividades divinas. Deus é espírito e, portanto, não possui um corpo como o dos seres humanos. No entanto, ele é capaz de ver as necessidades de seu povo, de ouvir suas orações e de operar em seu favor com mão poderosa.  Neemias sabia que não tinha forças para reconstruir Jerusalém, mas acreditava que Deus operaria em seu favor.

Além disso, confiava na fidelidade de Deus. "Estes ainda são teus servos e o teu povo" (v. 10). Ao trazer a Babilônia para destruir Jerusalém e levar o povo cativo, Deus aplicou-lhe uma disciplina dolorosa, mas não o abandonou! Ainda eram seu povo e seus servos. Ele os havia resgatado do Egito com seu grande poder (Êx 14:13-31) e também os havia libertado do cativeiro na Babilônia. Não iria, então, em sua fidelidade, ajudá-los a reconstruir a cidade?

Neemias confiava que Deus levantaria outras pessoas para ajudá-lo em seu trabalho. Tinha certeza de que muitos outros judeus também estavam orando e que se juntariam à causa, uma vez que soubessem que Deus estava agindo. Os grandes líderes não são apenas pessoas de fé que obedecem

ao Senhor e que avançam corajosamente, mas também são aqueles que desafiam outros a acompanhá-los. Não se pode ser  um verdadeiro líder a menos que se tenha seguidores, e Neemias conseguiu pessoas para ajudá-lo a cumprir sua missão.

Por fim, Neemias estava certo de que Deus tocaria o coração de Artaxerxes, garantindo assim que a empreitada teria o apoio oficial necessário (Ne 1:10). Neemias não poderia simplesmente pedir demissão de seu trabalho e se mudar para Jerusalém. Havia sido nomeado para seu cargo pelo rei e necessitava da permissão de Artaxerxes para tudo o que fazia. Além disso, precisava que o rei fornecesse provisões e proteção, a fim de que fosse capaz de viajar para Jerusalém e de ficar afastado de seu cargo até que tivesse concluído o trabalho. Sem a autoridade oficial para governar, sem uma guarda oficial para a jornada e sem o direito de usar materiais dos bosques do rei, o projeto todo estaria condenado ao fracasso. Os monarcas do Oriente eram déspotas absolutos, e não era fácil abordá-los nem convencê-los de algo. Porém: “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21:1).

Com muita frequência, fazemos nossos planos e, então, pedimos que Deus os abençoe; mas Neemias não cometeu esse erro. Sentou-se e chorou (Ne 1:4), ajoelhou-se e orou e, depois, levantou-se e se pôs a trabalhar, pois sabia que tinha a bênção do Senhor sobre o que estava fazendo.

4. IMPORTOU-SE O SUFICIENTE PARA SE DISPOR A TRABALHAR ( N e 1 : 1 1 )

Alguém afirmou, com razão, que orar não é conseguir que a vontade do homem seja feita no céu, mas que a vontade de Deus seja feita na terra. Porém, a fim de que sua vontade se cumpra na terra, ele precisa de pessoas dispostas a serem usadas por Ele.

Deus faz "infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós" (Ef 3:20). Para que Deus responda às orações, deve começar operando na vida daquele que está orando! Trabalha em nós e por meio de nós para nos ajudar a ver nossas orações serem respondidas.

Enquanto Neemias orava, o peso que sentia por Jerusalém em seu coração tornava-se cada vez maior, e sua visão do que precisava ser feito ficava cada vez mais clara. A verdadeira oração mantém o equilíbrio entre nosso coração e nossa mente, de modo que o peso que sentimos não nos impacienta a ponto de desejarmos correr à frente do Senhor e estragar tudo. Quando oramos, o Senhor nos diz o que fazer, quando fazê-lo e como fazê-lo, sendo que tudo isso é importante para que a vontade de

Deus se cumpra. Neemias planejou oferecer-se para ir a Jerusalém e supervisionar o trabalho de reconstrução dos muros da cidade. Não orou pedindo que Deus enviasse outra pessoa, não  argumentou que lhe faltava o preparo para uma tarefa tão difícil. Simplesmente disse: "Eis-me aqui, envia-me a mim!" Sabia que teria de abordar o rei e de pedir sua permissão para se ausentar. As palavras dos reis do Oriente significavam vida ou morte. O que aconteceria se Neemias abordasse Artaxerxes no dia errado, quando o rei estivesse indisposto ou descontente com algo ou alguém

no palácio? Sob todos os pontos de vista, Neemias tinha diante de si uma prova de fé, mas sabia que seu Deus era um grande Deus e que o ajudaria até o fim.

O copeiro do rei teria de sacrificar o conforto e a segurança do palácio pelos rigores e perigos da vida numa cidade em ruínas. No lugar do luxo, haveria escombros e no lugar do prestígio, haveria zombaria e maledicência. Em vez de partilhar da fartura do rei, Neemias teria de pagar pessoalmente

para manter inúmeros trabalhadores que comeriam à sua mesa. Deixaria para trás o sossego do palácio e tomaria sobre si a difícil incumbência de encorajar um povo abatido e de concluir uma tarefa quase impossível. Com a ajuda de Deus, ele conseguiu! Em cinquenta e dois dias, os muros foram reconstruídos, as portas foram restauradas e todo o povo estava se alegrando! Tudo começou com um homem que se importou.

    Abraão se importou e salvou Ló de Sodoma (Gn 18 - 19). Moisés se importou e livrou os hebreus do Egito. Davi se importou e conduziu a nação e o reino de volta ao Senhor. Ester se importou e arriscou a vida para salvar sua nação do genocídio. Paulo se importou e levou o evangelho a toda parte do império romano. Jesus se importou e morreu na cruz por um mundo perdido. Deus ainda está procurando pessoas que se importam, pessoas como Neemias, que se importam o suficiente para querer saber os fatos, para chorar sobre as necessidades, orar pedindo a ajuda de Deus e, então, dispor-se a fazer o que é preciso.


* Este texto é uma adaptação do comentário de Warren Wiersbe do livro de Neemias.