quinta-feira, maio 17, 2012

TENHO SEDE!

“Aquele que a isto viu testificou, sendo verdadeiro o seu testemunho”. São palavras de João, o discípulo amado, com respeito a crucificação de Jesus.  Ele é a testemunha  perceptiva, próxima de Jesus, e é capaz de relatar não somente os fatos mas o significado que encontra neles.

Diferentemente dos demais evangelistas, João não descreve nada que não pudesse ser visto em outra crucificação. Mas menciona tudo o que uma testemunha perceptiva é capaz de discernir. O que ele vê é simplesmente o fato de que, naquela cruz, o Verbo de Deus, o Logos Eterno é também verdadeiramente homem: Tenho sede! Há nesta declaração uma expressão de agonia, de sofrimento. Sofrimento este que o Cristo teria de passar para satisfazer o pacto concertado com o Pai na eternidade, pois tinha a certeza de ser esta a única alternativa para a salvação do Seu povo. Agonia experimentada não só no Calvário, mas desde o momento em que assume a nossa humanidade. E como bem disse Calvino: “Com toda verdade se pode dizer que não somente passou toda a sua vida em perpétua cruz e aflição, senão que toda ela não foi senão uma espécie de  cruz contínua”[1].
Obviamente a sua união hipostática foi voluntária tanto quanto a sua entrega para morrer a nossa morte. “Jesus Cristo foi o único homem que não precisava padecer, todavia Ele voluntariamente o fez por nós”[2]. O segundo Adão, perfeito, santo, imaculado “foi feito sujeito à lei, que se cumpriu perfeitamente; padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis tormentos e em seu corpo os mais penosos sofrimentos”[3] para a redenção de pecadores. E, assim, por amor à sua igreja, Ele aprendeu a ver as coisas do plano da humanidade. Sendo Deus, participou das dificuldades humanas e identificou-se com seus irmãos na carne. As nossas provações, nossos fardos e nossas dores tornarem-se Dele. Tenho sede! Exclamou o nosso Sumo Sacerdote,  o qual é capaz de compadecer-se de nossas fraquezas. Tenho sede! A sua vida tem sido digna do sacrifício de Cristo e do Seu propósito?
 

[1] J. Calvino, Instituición, III.8.1
[2] Hermisten M. P. Costa, Os Sofrimentos de Cristo, p.5
[3] Confissão de Westminster, 8.4

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