sexta-feira, julho 18, 2014

MARCAS DE UM CORAÇÃO NÃO PERDOADO (Lucas 7.36-50) - Rev. Cleomines Anacleto

Um dos maiores pecados que alguém possa cometer é o de não se achar pecador ou o maior pecador é o que se acha sem pecado. Não sem muita insistência Jesus é convidado para um jantar na casa de Simão. Há no Novo Testamento 11 pessoas com o nome de Simão. Esse era um nome comum na Palestina. E na casa deste Simão, Jesus foi ungido por uma, na avaliação do hospedeiro, pecadora. Segundo o Novo Testamento, em pelo menos 4 ocasiões Jesus foi ungido. E coincidentemente em duas delas nas casas de dois Simões. Três vezes nas unções Jesus foi criticado. Na casa de Lázaro, irmão de Maria, por Judas; na casa de Simão, o leproso, pelos discípulos; e nesta casa pelo anfitrião. Em cada lugar uma mulher tomou a iniciativa deste gesto nobre e devotado. Estas unções não eram sacramentais, mas demonstração de amizade e carinho. Nesta história a mulher roubou a cena de modo muito constrangedor. Era tida por uma pessoa extremamente ‘non grata’, inconveniente. Simão não a esperava na festa, ele nunca imaginaria que seu jantar fosse obscurecido por uma presença tão desconsiderável. Ele deveria ser um colecionador de celebridades! Mas, se a presença dela já era inconveniente, piores eram seus gestos. A mulher se aproximara do Rabi. E isto nenhuma mulher poderia fazer. A lei proibia terminantemente que um Mestre fosse tocado por mulher em lugares públicos. Contudo, se era escandaloso, ainda para piorar, ela soltou seus cabelos. Os fariseus da época de Jesus achavam verdadeiro absurdo uma mulher soltar seus cabelos em ambientes abertos. Conduta altamente condenável. Piorando ainda mais, ela tira um recipiente de perfume e vai oferecer a uma pessoa notável. Segundo a lei dos fariseus isto era inconcebível, pois de uma pessoa indigna nada se devia receber - e acrescenta-se a esta terrível lista de desacertos o fato ruim de que esta mulher tinha péssima fama. O fariseu se dizia amigo de Jesus, admirador do Mestre, contudo agora o Mestre se coloca numa posição em que o fariseu o julga. Ele pensa consigo mesmo – se este fosse de fato profeta, não permitiria esta indigna agir assim com ele. A Bíblia diz contudo, que Jesus conhece os nossos pensamentos, e a palavra nem saiu ainda em nossa boca e o Senhor a conhece toda. Natanael ficou maravilhado por que Jesus lhe revelou que o havia visto orar num local onde ninguém o estivesse vendo. A mulher samaritana ficou maravilhada por que Jesus contou a história de sua vida, sem ao menos tê-la encontrado antes. Zaqueu, diríamos, quase caiu da arvore quando ouviu Jesus pronunciar seu nome. Jesus sabe todas as coisas. Então com maestria admirável Jesus abre os olhos de Simão com uma pequena e preciosa parábola. A parábola dos dois devedores. Nela o Senhor mostra quão terrível e o coração do homem, quão cego é o pecador que se acha bom - quão abominável é o que vive julgando o seu irmão ou seu próximo. Quão insensível, duro, ruim e um coração que ainda não foi amaciado pela gloriosa graça do perdão. Uma pessoa dura, sem misericórdia, não perdoada, é uma pessoa perdida, sem Deus, sem graça, sem alegria verdadeira. Este texto fala das marcas de uma pessoa não perdoada. A primeira marca de uma pessoa não perdoada é a presença constante e contínua de um espírito azedo, crítico e julgador. Jesus nos ordenou o bom senso, a capacidade crítica, contudo quando agimos de modo preconceituoso e injusto, sem amor, corremos o risco deste fariseu: julgar de modo indevido e condenável. Uma pessoa não perdoada vê o mundo com os óculos da culpa. Todo mundo para ela é mau, não presta, só tem defeito. Em todos só existem falhas. Tudo está errado e deve ser condenado. Quando alguém está continuamente julgando seu próximo, diminuindo-o, procurando nele alguma falha ou defeito, ai está geralmente uma pessoa que não viu a maravilhosa graça de Jesus. Uma pessoa assim é preconceituosa, não ri nem chora. Como disse Jesus acerca de sua geração, que quando se tocava flauta ninguém dançava e quando se lamentava ninguém chorava. Se em seu coração você se acha em constante guerra com seu próximo, se há nele uma sede de encontrar defeitos mil, vê se algum dia você recebeu mesmo do Calvário a graça daquele que perdoou e que oferece aos que não merecem o seu favor inefável: o perdão. Na parábola de Jesus há dois devedores e assim se conclui que todos estamos em débito com a divindade e nossa dívida insolvente: nossa dívida frequentemente é muito grande e não temos como liquidá-la! Mas o Credor Compassivo, Bom perdoa gratuitamente, entregando-se pelo valor que paga a graça que oferece e nos recebe em amor somente! Mas uma segunda marca de uma pessoa não perdoada é que lhe falta misericórdia.Se o não perdoado vive julgando, o que vive assim revela ainda falta de misericórdia. Em outras palavras, julgar seria o pecado de comissão daquele que não foi perdoado; e não perdoar o seu pecado de omissão. Omite o perdão o que não foi perdoado. E nisto mostra falta de misericórdia. Perdoar é uma operação da conta corrente: só sai do caixa o que ali entrou. É como na contabilidade onde tudo o que entra no caixa é tido como débito e tudo que sai como crédito! Assim é também com o perdão – quanto mais perdão se recebe mais débito temos para pagar com o perdão que recebemos. Jesus sempre comparou o perdão com o ato de perdoar a credores e devedores. Até mesmo na oração modelo ele pode dizer: perdoa as nossas dívidas assim como nós temos perdoado os que nos devem. Se no seu coração existem mágoas, rancores, ou vontade de vingança – faça uma introspecção, isto é sintoma de caixa corrente espiritual vazia, sem débito! A caixa cheia esbanjará perdão. Quem foi perdoado perdoará. Deste modo, agiu o fariseu com a mulher pecadora. No seu coração duro e insensível não se achava lugar para ela. Estava sua alma seca. A chuva abundante da graça perdoadora não tinha molhado aquele coração desértico e petrificado. Não teve para com Jesus nenhum carinho, e não se movia o coração senão na medida das obrigações. Porque onde falta o perdão não se vê misericórdia.Mas, uma terceira marca de uma pessoa não perdoada é a ausência de gratidão.Na parábola onde Jesus retrata seus convivas deste jantar na casa de Simão, Jesus comparou a mulher ao devedor de 500 denários. Recebeu perdão de uma quantia astronômica, e como tanto que recebeu, seu amor se multiplicou. Pode se ver na Igreja o quanto alguém foi perdoado pelo tanto que se oferece ao Senhor! Não é para se admirar que entre nós, mais se faz pela obrigação que pela gratidão. Na obrigação se faz pela lei, com medidas e pagamentos. Na gratidão se faz pelo amor, sem reservas e sem medidas. Quem muito foi perdoado não terá medida no que oferece a Jesus. Para o coração ingrato pesa uma tonelada um pequeno esforço, para um coração perdoado e agradecido, nem toda vida oferecida teria qualquer valor! Quando falta gratidão no viver é necessário fazer uma introspectiva: é possível que a alma não contemplou toda graça do Calvário, não contemplou o imenso amor de Deus. Agradecer o que? Pouco perdão, pouco amor, nenhum gozo na alma, nenhuma festa na vida. O fariseu não fez nem a obrigação de um cordial anfitrião. Beijo não deu em Jesus quando chegou. Seus pés água não viram. Unção de sua cabeça nem cogitou. Contudo a quem muito perdão recebera, embora pecadora, fez dos atos uma canção, fez do silêncio uma orquestra. Dos olhos impuros pela cobiça saem um caudal de lágrimas purificadas no arrependimento sincero; dos cabelos ornados para sedução, na gratidão se fazem toalhas de um nobre serviço; dos lábios de beijos lascivos , desatam ósculos de um amor santo; do unguento usado para exercer cheiro de morte, exala o perfume de incenso para o céu! Que glória é a gratidão de um coração perdoado. Nas marcas de um coração não perdoado se constata:Constante julgamento, ausência de misericórdia, falta de gratidão. Voce já foi perdoado? Já venceu a terrível inclinação natural de viver julgando os outros? Tem misericórdia dos que erram oferecendo-lhes o perdão? Tem uma vida de consagração e serviço agradecida? Como voce pode ser perdoado? Jesus disse na parábola que o Criador perdoou por sua compaixão e fez isto gratuitamente. Deus nos perdoou em Cristo: “Perdoai-vos uns aos outros como Deus em Cristo vos perdoou”. Recebemos o perdão pela fé. O anuncio das boas novas é ouvido e crido e por graça se recebe o crédito que no nosso coração vira débito para que dele saiam em conta imensa a graça do perdão que oi recebido. Jesus disse a pecadora: “vai a tua fé te salvou”. A fé foi o instrumento que ela teve para receber o maravilhoso credito que Jesus lhe oferecia. É pela fé que somos perdoados e pela fé que também perdoamos. Perdoar não é algo ligado apenas aos nossos sentimentos. Não é um esquecer da ofensa que foi recebida mas um ardente desejo de fazer o bem a quem mal nos perpetrou, tal como o céu se faz à terra.Quando isto acontece temos paz com Deus e com o próximo – lá se vai o julgamento! Se a misericórdia nos alcançou é com misericórdia que tratamos nossos ofensores. Tiago 2.13: Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo. Se o perdão foi recebido, a gratidão nasce florescente e tudo fazemos por Jesus e seu reino!
Rev. Cleomins Anacleto - Pastor da IP Metropolitana de Belo Horizonte

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