segunda-feira, setembro 10, 2007

EVANGELIZAÇÃO - parte 1

É comum ouvirmos de alguns membros e, até mesmo, de presbíteros e pastores, que o importante não está nos números, mas, sim, na qualidade. Este tem sido o argumento usado para justificar a falta de crescimento nas igrejas presbiterianas. Quando observamos o relato bíblico, a igreja primitiva crescia tanto em número como em qualidade. A qualidade, não exclui, de maneira nenhuma, a quantidade. Lucas, em Atos 9.31, escreveu: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em números”. Por que hoje não pode ser assim? O Rev. Augustus Nicodemus nos diz:

Que motivos Deus teria para querer que as igrejas reformadas fossem pequenas e que os anos se passem sem que novos membros sejam adicionados pelo batismo? Que motivos secretos levariam o Deus que nos mandou pregar o Evangelho a todo o mundo impedir que as igrejas locais reformadas cresçam em um país livre, onde a pregação é feita em todo o lugar e onde outras igrejas evangélicas estão crescendo vertiginosamente? Penso que o problema da naniquice não está em Deus, mas em nós. Ai de nós, porque além de não crescermos ainda culpamos a Deus por isso! [1]

O Evangelho não mudou e muito menos o nosso Deus. Concordo com o Rev. Nicodemus que o problema está em nós. Havia na Igreja primitiva um ardor pela evangelização. Sua prioridade era a evangelização. Não pretendo desconsiderar a doutrina, a oração e a comunhão, que devem existir na Igreja. “Fomos chamados para sermos a Igreja e ao mesmo tempo proclamarmos as boas novas: as duas coisas são absolutamente indissociáveis”[2]. Observamos, porém, que na Igreja primitiva, cada cristão era um missionário. Lemos em Atos 8.4: “Entrementes, os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra”. Com a perseguição que sobreveio à Igreja de Jerusalém, todos, com exceção dos apóstolos que permaneceram em Jerusalém, foram dispersos e por onde passavam proclamavam o Evangelho. Lamentavelmente, como M. Green observa, “hoje tudo tende a centrar-se em torno do pastor. Espera-se que o servo remunerado da Igreja empenhe-se em falar de Deus, mas não os outros”[3]. Temos sufocado o nosso impacto na sociedade porque a Igreja, bem estabelecida e socialmente aceita, tem limitado a proclamação da mensagem de Cristo a um único ponto focal: o prédio da Igreja; e a um único ponto vocal: o pregador no púlpito. “Na Igreja primitiva, a política adotada era ir ao encontro das pessoas, onde elas estivessem, e fazer discípulos entre eles ... A Igreja de hoje tenta a implosão, o convite, ou seja, procura “arrastar” o visitante; a Igreja primitiva praticava a explosão, a invasão, saía ao encalço das pessoas”[4]. A evangelização é a vocação de todos os cristãos; todos são chamados a testemunhar. J.I. Packer, em sua obra intitulada: Evangelização e a Soberania de Deus, afirma que “a comissão de pregar o Evangelho e fazer discípulos jamais foi limitada aos apóstolos. Nem está atualmente confinada aos ministros da Igreja. Trata-se de uma comissão que repousa sobre toda a Igreja coletivamente e, portanto, sobre cada cristão individualmente”[5]. Portanto, o triunfo da Igreja primitiva está no fato de que cada crente era um missionário. Além disto, precisamos considerar a natureza da Igreja. A Bíblia usa várias figuras referentes à Igreja. Ela é o corpo de Cristo, a noiva de Cristo, o povo de Deus. Em todas estas figuras o que se destaca é o fato da Igreja ser um organismo vivo. O problema que muitas vezes pensamos na igreja como uma instituição ou num prédio em um determinado lugar. A Igreja é viva e tem vida. E como tal é natural que cresça. Howard A. Snyder afirmou que, segundo as Escrituras, a “igreja é uma comunidade carismática” pois “é através da graça (charis) que ela é salva, e através do exercício dos dons espirituais da graça (carismata) que a igreja é edificada” [6]. Paulo, em Efésios 4.16, escreveu: “todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.



[1] Dez Motivos pelos quais pastores conservadores costumam ter igrejas minúsculas, postado no

Blog Temporas-More.

[2] Green, M., Evangelização na Igreja Primitiva, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, ABU, SP,

3ª edição, 1989, p.78

[3] Op.cit., p.56.

[4] Green, M., op.cit., p.57.

[5] Packer, J.I., Evangelização e a Soberania de Deus, p. 33.

[6] Snyder. H. A., A igreja como agente de Deus na evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje,

ABU, SP, 3ª edição, 1989, p.90.

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