domingo, novembro 05, 2006

O CANAL DIVINO DE PODER



Estuda a santidade universal da vida. Disso depende a tua utilidade plena, pois teus sermões duram apenas uma ou duas horas; mas tua vida prega durante toda semana. Se satanás puder transformar um ministro cobiçoso em amante de louvor, de prazer, de iguarias, terá arruinado o seu ministério. Entrega-te à oração e obtém os teus temas, os teus pensamentos e as tuas palavras de Deus. Lutero empregava as suas melhores três horas em oração.
- Robert Murray McCheyne


Estamos constantemente empenhados, senão obcecados, em arquitetar novos métodos, novos planos e novas organizações para fazer a igreja progredir e assegurar a divulgação e a eficiência do Evangelho..
Essa direção hodierna tem a tendência de perder a visão do homem ou afogar o homem no plano ou na organização. O plano de Deus é usar o homem e usa-lo muito mais do que qualquer outra coisa. Homens são o método de Deus.
A igreja está procurando métodos melhores; Deus está buscando homens melhores. “Houve um homem enviado de Deus cujo nome era João”. A dispensação que anunciou e preparou o caminho de Cristo, estava confiada àquele homem, João. “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Isaías 9.6). A salvação do mundo se origina nAquele Filho ainda menino. Paulo traz à luz o segredo do êxito dos homens que arraigaram o Evangelho no mundo quando pôs em relevo o caráter pessoal desses homens. A glória e a eficiência do Evangelho dependem dos homens que o proclamam. Quando Deus declara que “quanto ao Senhor, Seus olhos passam por toda a terra, para mostra-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele” (II Cron. 16:9), declara a necessidade de homens e o fato de Deus depender dse homens que sejam canais por meio dos quais exerça Seu poder sobre o mundo.
Essa verdade vital e urgente é o que esta era das máquinas tende a esquecer. Esquece-la é funesto para a obra de Deus como seria desastroso se o sol desaparecesse da abóboda celestial. Seguir-se-iam trevas, confusão e morte.
O que hoje a igreja necessita não é de mais e melhor maquinismo, de novas organizações ou mais e novos métodos, mas homens a quem o Espírito Santo possa usar – homens de oração, homens poderosos na oração. O Espírito Santo não se derrama através de métodos, mas por meio de homens. Não vem sobre maquinaria, mas sobre homens. Não unge planos, mas homens – homens de oração.
Um eminente historiador disse que os acidentes do caráter pessoal mais têm a ver com as revoluções das nações do que os historiadores, filósofos ou políticos democráticos o reconhecem. Essa verdade tem aplicação plena ao Evangelho de Cristo, ao caráter e à conduta dos seguidores de cristo – Cristianiza o mundo e transforma nações e indivíduos. Em relação aos pregadores do Evangelho, é eminentemente verdadeiro.
Tanto o caráter como o sucesso do Evangelho estão confiados ao pregador. Ele faz ou desfaz a mensagem de Deus ao homem. O pregador é o tubo de ouro pelo qual o óleo divino flui. O tubo deve ser não só dourado, mas também aberto e sem rachaduras, para que o óleo flua bem, sem obstáculo e sem desperdício.
O homem faz o pregador. Deus deve fazer o homem. O mensageiro é, se possível, mais do que a mensagem. O pregador é mais do que seu sermão. Como o leite nutridor do seio materno é a própria vida materna, de igual modo tudo o que o pregador diz está matizado e impregnado daquilo que o pregador é. O tesouro está nos vasos de barro e o sabor do vaso nele se impregna e pode decorá-lo. O homem, o homem todo, jaz atrás do sermão. A pregação não é tarefa de uma hora. É a manifestação de uma vida. É preciso vinte anos para fazer um sermão, porque são necessários vinte anos para formar o homem. O verdadeiro sermão é uma obra de vida. O sermão evolui porque o homem se desenvolve. O sermão é poderoso, porque o homem tem poder. O sermão é santo, porque o homem é santo. O sermão está cheio de unção divina, porque o homem está cheio desta unção divina.
Paulo denominou-o “Meu Evangelho”; não que o tenha degredado por suas excentricidades pessoais ou desviado por apropriação egoísta, mas o Evangelho foi colocado no coração e no sangue do homem Paulo, como uma responsabilidade pessoal, para ser executada pelas peculiaridades paulinas, a fim de traze-lo em chamas e impulsiona-lo pela ígnea energia de sua alma ardente. Os sermões de Paulo – que eram eles? Onde estão eles? Esboços, fragmentos esparsos, flutuando no mar da inspiração! Mas, o homem Paulo, maior que os seus sermões, vive para sempre, em plena forma, figura e estatura com sua mão modeladora sobre a Igreja. A pregação é apenas uma voz. A voz silencia, o tema é esquecido, o sermão apaga-se da memória; no entanto o pregador vive.
O sermão não pode elevar-se em suas forças vivificadores acima do homem. Homens mortos tira de si sermões mortos e sermões mortos matam. Tudo depende do caráter espiritual do pregador. Sob a dispensação judaica, o sumo sacerdote trazia um frontal de ouro com a inscrição “Santidade ao Senhor” em letras engastadas de jóias. De igual modo, todo o pregador no ministério de Cristo deve ser moldado e dominado por essa mesma divisa sagrada. É um vergonhas berrante para o ministério cristão estar abaixo do sacerdócio judaico na santidade de caráter e na santidade de objetivo. Jonathan Edwards disse: “Eu continuei com minha busca intensa de mais santidade e conformidade com Cristo. O céu que eu desejava era o céu da santidade”. O Evangelho de Cristo não é movido por ondas comuns. Não tem o poder de auto-propagação. Move-se como se movem os homens que tomaram o encargo disso. O pregador deve personificar o Evangelho. As características divinas e mais salientes do Evangelho devem estar nele incorporadas. O poder do amor, que constrange, tem que estar no pregador como uma força relevante, excêntrica, que o domina todo e o faz esquecer-se de si mesmo. A energia da abnegação própria tem que constituir seu ser, coração,sangue e ossos. Ele deve seguir avante entre os homens como homem, revestido de humildade, cheio de brandura, prudente como a serpente, simples como a pomba; reunindo em si a sujeição de um escravo e o espírito de um rei, um rei de figura nobre, real e independente, e a simplicidade e doçura de uma criança. O pregador tem que lançar-se a si mesmo, com todo abandono de uma fé perfeita e esvaziada de si e dum zelo que o consome, a sua obra pela salvação dos homens. Sinceros, heróicos, compassivos e intimoratos mártires têm que ser os homens que conquistam a geração e a moldam para Deus. Se são escravos do tempo, oportunistas, agradadores de homens, se t~em respeito humano, se sua fé em Deus e Sua Palavra tem pouca profundidade, se sua abnegação pessoal é quebrada por qualquer fase do “eu” ou do mundo, não podem tomar conta nem da igreja nem do mundo para Deus.
A pregação mais penetrante e forte do pregador deveria ser feita a si mesmo. Sua obra mais difícil, delicada, laboriosa e radical deve ser consigo. A instrução dos doze foi a grande, difícil e paciente obra de Cristo. Os pregadores não são produtores de sermões, mas formadores de homens e de santos e só quem fez de si mesmo um homem e um santo está bem instruído para essa obra. Não de grandes talentos, de grandes estudos ou de grandes pregadores que Deus necessita, mas de homens grandes em santidade, grandes em fé, grandes em amor, grandes em fidelidade, grandes para Deus – homens que pregam sempre por meio de sermões santos no púlpito e por vidas santas fora do púlpito. Esse podem moldar uma geração para Deus.
Os primeiros cristãos foram formados segundo esse princípio. Eram homens de sólida formação, pregadores conforme o tipo celestial – heróicos, rijos, militantes e santos. Para eles, a pregação significava uma obra de auto-abnegação, de auto-crucificação, séria, árdua, e de mártir. Aplicaram-se a ela de tal modo que influíram na sua geração e formavam no seu seio uma geração que haveria de nascer para Deus. O pregador deve ser homem de oração. A oração é a mais poderosa arma do pregador. É em si mesma uma força onipotente, e dá vida e força a tudo.
O sermão real é feito no recinto secreto. O homem – o homem de Deus – é formado no recinto secreto. Sua vida e suas mais profundas convicções nascem da sua comunhão secreta com Deus. Suas mensagens mais ricas e doces são alcançadas quando está a sós com Deus. A oração faz o homem; a oração faz o pregador; a oração faz o pastor.
O púlpito de hoje é pobre em oração. O orgulho da erudição opõe-se à humilde dependência da oração. A oração do púlpito é por demais oficial – um desempenho na rotina do culto. Para o púlpito moderno, a oração não é mais a força poderosa como o era na vida e no ministério de Paulo. Todo pregador que não faz da oração um poderoso fator em sua própria vida e ministério é fraco como agente no trabalho de Deus e impotente para fazer prosperar a Sua causa neste mundo.

Edward M. Bounds - O Pregador e a Oração

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